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Salvato Telles de Menezes
"São tantos e tão diversificados os lugares de Cascais dignos de apreço em termos gastronómicos que se torna difícil escolher um deles para iniciar estas crónicas (ligeiras) de gourmand que é gourmet ou gourmet que é gourmand.
Por isso, a melhor solução, para evitar qualquer suspeita de preferência injustificada, é reunir num pote (um pote, atenção) papelinhos idênticos com os nomes, digamos, de vinte dessas instituições e pedir a alguém (aqui já entra, com todo o desplante de que sou capaz, a preferência por uma senhora que me acompanha nas minhas surtidas gastronómicas) que meta a mão no continente para retirar o conteúdo, i.e., o vigésimo premiado.
Metida a delicada mão no pote, escolhido às cegas o papel, desembrulhado o mesmo (como agora se diz tanto), lida a letra cursiva, eis que surge, em toda a sua pompa e circunstância, o nome: Pastelaria Garrett.
Vem-me logo à memória (e foi Guillermo Cabrera Infante que disse que «a memória é um vademecum») as inúmeras vezes em que, procurando a mais completa discrição, me encostei ao (melhor, me pendurei no) balcão dessa casa estorilense ou estoicamente me perfilei na bicha para ter (merecido) acesso às iguarias que por lá se prodigam aos eleitos (em sentido bíblico).
O primeiro aspecto a referir é a pulcritude e o asseio do estabelecimento: basta passar os olhos por balcões, mesas, escaparates, o que quer que seja (incluindo colaboradores), visitar a casa de banho, para perceber que estamos em local em que os inspectores (louvados sejam pelo trabalho que fizeram e fazem) da ASAE não tem nada a fazer. A não ser, se quiserem, provar. E aprovar.
O segundo é a qualidade de tudo o que lá se come e bebe: desde os salgados aos bolos, ao pão, ao café (até o descafeinado é soberbo), chá e demais beberagens, não há outra manifestação que se possa fazer que não seja de regozijo: um silencioso ah! (com um estalar de língua mental): uma frescura suprema, uma elegância extrema, enfim, a única coisa que me comove: a excelência.
Ficaram dezanove papelotes no pote: a mão lá regressará".