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Raquel Henriques da Silva

Para os antigos Romanos, o património era o conjunto de bens de um cidadão que, por morte, eram herdados pelos familiares. Este conceito não desapareceu – dizemos, por exemplo: ‘fulano acumulou um grande património…’ – mas, a partir do século XIX, adquiriu sentido público, designando bens colectivos de especial valor para uma comunidade. Esse valor é eminentemente simbólico, ultrapassa a dimensão material e não pode nunca ser transaccionado. Pense-se no Mosteiro dos Jerónimos… apesar de todos as crises, nenhum português pensaria em vendê-lo.
Ao longo do século XX, a classificação patrimonial não parou de crescer: dos grandes monumentos às arquitecturas populares; da peça única aos contextos, aos territórios e às paisagens. Assim acontece com a Paisagem de Sintra, do Douro e do Pico que estão classificadas na lista de Património da Humanidade da UNESCO. Estes imensos patrimónios não são bens estáticos que acumulamos sem os usar. Pelo contrário: o desafio é compreender as suas riquezas, frui-las e comunicá-las. Para isso temos de os amar, estudar e valorizar. Eles são a nossa herança colectiva: vêm de longeantes de nós, e sobreviverão à nossa morte. Identificam-nos como portugueses, falam a nossa língua, representam a nossa terra, evocam os nossos melhores, mesmo quando não lhes conhecemos os nomes. No Concelho de Cascais, são a família próxima sem a qual estaríamos dramaticamente sós.
* Prof. do Departamento de História de Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa
(Opinião Cultura in C - Boletim Municipal, nº2, Setembro 2011)