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Pedro Martins de Lima

O surf é certamente o desporto mais violento que existe e, contudo, é extraordinariamente pacífico, pois a sua violência não é contra pessoas, é contra a força gigantesca do mar, dos elementos.
Conseguir “vencer” ou pelo menos controlar a força das ondas, é uma fonte de auto-confiança. Na educação dos jovens, a “cultura do risco”, embora calculado, é um fator decisivo na formação do seu caráter, das capacidades de autodefesa e iniciativa e mesmo de sobrevivência. Na nossa época, a superproteção das crianças está se tornando um hábito, mas com maus resultados no desenvolvimento das suas capacidades de auto-resolução de dificuldades.
O surf e o bodyboard são, sem dúvida, desportos que podem compensar, de forma muito saudável, o lado negativo da protecção familiar e das longas horas sentado ao computador. Sem enfrentar riscos não se obtém auto-confiança e a consequente auto-estima. O surf, pelo esforço pioneiro do Prof. João Ferreira, tornou-se, há 16 anos, num desporto escolar em Portugal, ajudando os jovens de ambos os sexos a tornarem-se pessoas mais capazes, mais corajosas e solidárias, tirando partido das condições excelentes da nossa costa, e das condições especiais de consistência de ondas e clima ameno da costa de Cascais.
Hoje, 42% da população escolar que faz surf concentra-se na “linha de Cascais”. Quando em 1946 fiz as minhas primeiras “carreiras nas ondas” em Carcavelos, com as primeiras barbatanas vistas em Portugal e trazidas do Havai e, em 1947, com a ajuda de uma pequena prancha de cortiça, a minha primeira descida de onda em bodyboard, nunca imaginei a importância que a descoberta deste desporto teria para a minha formação pessoal, complementada em 1959 com a minha primeira prancha para surfar em pé… finalmente!
De todos os desportos que pratiquei (e foram quase todos), o surf foi o mais importante, física e psiquicamente. É também um desporto de partilha entre pais.
(Opinião Desporto in Boletim Municipal, nº4, Novembro 2011)