Está aqui
Paulo Andrez
"Desde que o Brexit ganhou o referendo, a discussão sobre o seu potencial impacto na Europa não parou.
Como orador internacional, tenho sido questionado várias vezes nestas últimas semanas sobre a minha opinião do impacto do Brexit no ecossistema europeu de startups.
Tem sido discutido cada vez mais se o Reino Unido deixará de ser o local europeu de eleição para o financiamento de startups e se as mesmas se deslocarão para a Alemanha. Eu não concordo com essa visão e passo a explicar.
O mercado de financiamento de startups no Reino Unido está assente essencialmente em incentivos fiscais (Ex:Enterprise Investment Scheme) bem como noutros instrumentos promovidos pelo governo (ex: Angel Cofund).
No último ano só através dos incentivos fiscais foram investidos 2 biliões de euros em startups no Reino Unido. Os investidores que utilizam estes instrumentos estão baseados no Reino Unido e não se esperando um êxodo em massa de pessoas do Reino Unido, os níveis de investimento não sofrerão grandes alterações no médio prazo. Na última semana um alto responsável do Reino Unido referia que a política fiscal poderia vir a ser ainda mais agressiva para financiar empresas inovadoras, o que a suceder terá ainda um aumento dos montantes até agora investidos no Reino Unido.
Não antevejo grande impacto a nível europeu de investidores britânicos deixarem de investir fora do Reino Unido. Isso não acontecia até agora e por isso o impacto será residual. Poder-se-á dar o caso de alguns investidores ingleses quererem diversificar os seus portfólios investindo fora do Reino Unido, mas mais uma vez isso será uma minoria e terá um impacto negligente.
De qualquer das formas a instabilidade e a fragmentação da Europa (onde o Brexit é um exemplo) é negativa em geral para os investidores pois o potencial de crescimento das empresas torna-se mais limitado. Essa maior fragmentação afectará negativamente as valorizações de startups (com maior impacto no Reino Unido até pelo facto da desvalorização da libra) .Será cada vez mais frequente ver empreendedores a levantar dinheiro na Europa mas as empresas a terem as sedes e parte das operações nos EUA.
A melhor solução para este problema seria a União Europeia e o Reino Unido assinarem um acordo o mais próximo possível da livre circulação de pessoas, bens e capitais".