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Mariana van Zeller

Nasceu em Cascais em 1976. Estudou Relações Internacionais e trabalhou como estagiária na SIC. Chegou a ter um programa de viagens na SIC Notícias, mas percebeu de imediato, que o que a fascinava mesmo como jornalista não era dar a conhecer destinos exóticos, mas a possibilidade de contar histórias e eventos que tivessem um impacto sério na vida das pessoas.

Mariana van Zeller é correspondente da National Geographic Channel, distinguida com os prémios de jornalismo People’s Voice Webby Award (2009); Peabody Award (2010); Livingston Award for Young Journalists. Fala fluentemente cinco idiomas: português, espanhol, inglês, francês e italiano.Conheça a história desta cascalense de sucesso que já foi nomeada para um EMMY e cujos documentários chegam às grandes cadeias noticiosas como a CNN, a PBS, a CBS ou o Channel 4. Mariana van Zeller é uma das convidadas das Conferências do Estoril.


Olá Mariana, obrigada pela sua disponibilidade em ter esta conversa com o “C”, não foi fácil com a diferença horária que nos separa. Queríamos falar um pouco de Cascais e da sua vida. Vamos a isso?


Obrigada pelo vosso contacto. Nasci e cresci em Cascais. Sou 100 por cento cascalense! Vamos a isso!


Conte-nos como é que foi a sua história aqui em Cascais…


É fácil… até aos 14 anos estudei numa escola inglesa, no St. Dominic’s School, e a partir do 9º ano passei a frequentar o ensino público, na Escola Secundária de Cascais, junto à antiga praça de Touros. Aí continuei até entrar para o Curso de Relações Internacionais da Universidade Lusíada. Até aos 16 anos, nas minhas saídas à noite com os amigos, ficava sempre por Cascais. Costumava frequentar um bar no centro da Vila, e ia com os amigos para as discotecas da moda: o ‘Van Gogo’ e o ‘News’. E quando chegava o verão não perdia um fim de semana na praia do Guincho. Foi no Guincho, aliás, que aprendi a conduzir.


 No Guincho? Na praia?


É verdade. Nessa altura ainda era permitido passear de jipe pelas dunas. Ahh… e como na minha profissão conheço pessoas de todas as partes do mundo, nunca perco uma oportunidade para lhes dizer que o Guincho é a praia mais bonita do mundo.


 Depois de acabar o curso foi para a SIC, onde iniciou a sua carreira de jornalista. Como é que foi essa experiência?


Comecei como estagiária no Jornal da Noite. Mais tarde, quando surgiu a SIC Notícias, fui convidada para fazer um programa de viagens. E sabe qual foi a primeira viagem?


Não fazemos ideia Mariana….


Maldivas! Claro que aceitei logo porque viajar foi, desde sempre, um dos meus sonhos. Mas enquanto fazia jornalismo de viagens, apercebi-me que o que me fascinava mesmo como jornalista não era dar a conhecer destinos exóticos ou praias paradisíacas. O que verdadeiramente me fascinou foi a possibilidade de contar histórias e eventos que tivessem um impacto sério na vida das pessoas.


 Já voltaremos à sua carreira de jornalista. Mas, antes disso, explique-nos porque é que decidiu continuar a estudar nos Estados Unidos.


Assim que descobri a minha vocação jornalística, meti na cabeça que queria apostar ainda mais na minha formação. Pensei logo em candidatar-me ao curso de jornalismo da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, uma das melhores nesta área.


E esse passo foi tudo menos fácil. Verdade?


Tentei duas candidaturas à Universidade de Columbia e falhei duas vezes. As minhas candidaturas não foram aceites porque havia uma longa lista de candidatos. Mas não desisti. À terceira vez, arrisquei ainda mais: resolvi meter-me no avião e fui falar diretamente com o diretor da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia. A conversa, que eu não esperava que demorasse mais do que meia dúzia de minutos, acabou por durar mais de uma hora. Expliquei-lhe que era a terceira vez que me estava a candidatar e que o meu maior sonho era estudar jornalismo naquela escola. Lembro-me bem que também lhe disse que tinha a certeza que um dia teriam orgulho no meu trabalho. Eu estava decidida. Depois dessa entrevista, o reitor da universidade resolveu aceitar a minha candidatura. A partir desse momento, a carreira dos meus sonhos começou a desenhar-se. Começaram a abrir-se horizontes que eu nunca tinha imaginado.


Por exemplo, o que faço atualmente – documentários – é um tipo de jornalismo que praticamente desconhecia quando entrei em Columbia.


Jornalisticamente falando, qual é o tipo de trabalhos que a Mariana gosta de fazer?


Reportagens sobre casos que a maioria das pessoas não lhes passa sequer pela cabeça que possam existir mas que mexem muito com a vida de todos nós. Assuntos que se escondem dos olhares do mundo porque o acesso aos meios e pessoas envolvidas são improváveis. Faço Também muitas reportagens “under cover”* (infiltrada). Estas são histórias que me levam a sítios onde eu não iria de outra forma, a ver coisas que de outra forma não via e a falar com pessoas que de outra forma não falaria.


A Mariana estava há um mês nos Estados Unidos quando se deu o 11 de Setembro. Como viveu este acontecimento?
Acabou por ser a primeira prova de fogo para o lançamento da sua carreira… Para ser sincera, até ao 11/9 sempre pensei que estava mais vocacionada para fazer notícias no formato tipo “Jornal da Noite”. Isso mudou nesse dia. Estava em Manhattan quando as Torres Gémeas caíram. Lembro que o espaço aéreo americano tinha sido fechado e que o acesso ao ground zero [zona de impacto] também tinha sido vedado. Isso fez com que durante dois ou três dias e entre jornalistas de todo o mundo, eu tivesse sido a única jornalista portuguesa de televisão em Manhattan. A SIC, sabendo disso, pediu-me logo no dia 11 para fazer um direto sobre o que se estava a passar. Bom… eu tinha 25 anos e nunca tinha feito sequer um “vivo” na vida. Era uma mera estagiária em início de carreira, com pouca experiência. E, de repente, vejo-me em Nova Iorque a relatar para a televisão portuguesa e para o país um dos eventos mais importantes e mais dramáticos da história recente. Um dos momentos em que o mundo viveu em direto horas de muita angústia…


Mas fez o direto…


Fiz o direto. Quando percebi que tinha conseguido e que tinha corrido bem, o meu primeiro instinto foi de uma grande felicidade por ter vencido um desafio que pensava não estar ao meu alcance. Mas logo a seguir, quando saí do centro de imprensa e comecei a ver pessoas em desespero absoluto a pedir ajuda, a deambular pelas ruas, a trocar números de telemóvel; pessoas com fotografias à procura dos desaparecidos, dos filhos, dos pais… de mães, de amigos, senti uma tristeza profunda. Ainda hoje, ao recordar essas imagens e esses momentos dramáticos, não consigo conter as lágrimas. Foi nesse instante que tive a certeza que, na minha carreira como jornalista, não podia e não queria relatar apenas factos. Tinha que ir mais longe e mais fundo para perceber porque é que situações como aquelas acontecem.
























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