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Marco Silva

Marco, quando e como é que começou a sua relação com o futebol?
Desde miúdo que sou apaixonado por futebol e acompanhava o meu pai e o meu avô aos jogos. Aos 14 anos surgiu a oportunidade de jogar no Cova da Piedade até que me tornei profissional, no Belenenses. Passei por outros clubes e foi aqui no Estoril-Praia que estive 6 anos e acabei por terminar a minha carreira de jogador.
E era como lateral direito que mais se realizava? Tem memória de algum jogo especial?
Comecei como médio mas depois acabaram por me colocar a lateral como acontece em muitos casos.
Tive uma carreira procedida por lesões em momentos importantes da minha carreira… mas guardo na memória o meu primeiro jogo na 1ª Divisão ao serviço do Belenenses contra o Salgueiros.
Que referências têm?
No que se refere a jogadores, o Maradona marcou-me bastante e tive alguns colegas, como o caso do Pedro Barny, que são uma referência para mim. Como treinadores fui ao longo da vida aprendendo com cada um aquilo que é a minha ideia de futebol.
Algum dia lhe passou pela cabeça ser treinador ou o seu objectivo era só mesmo fazer a diferença dentro de campo?
Sim passou. O facto de ser treinador sempre me fascinou e por isso ao longo da minha carreira fui-me preparando para isso. Enquanto jogador não tinha muita possibilidade de me formar mas fui tirando todos os cursos possíveis …
… Até que surgiu a oportunidade de ser treinador do Estoril?
Quase. Acabei a minha carreira de jogador e fui convidado para integrar a estrutura do Estoril como treinador adjunto. Posteriormente fui convidado para director desportivo, algo que nunca tinha pensado ser e quando acabei a minha formação de treinador fui convidado para assumir o papel no Estoril-Praia, pelos anos que tinha jogado no clube, pelo facto de ter sido capitão da equipa e por tudo aquilo que representei enquanto jogador. Depois de ultrapassarmos tantas dificuldades no clube aceitei com todo o agrado o desafio proposto até porque tive a responsabilidade de formar o plantel na altura em que estávamos na 2ªLiga. Senti que tinha qualidade no grupo para fazer algo mais. Nunca me irei esquecer do dia 3 de outubro de 2011. A minha estreia enquanto treinador e do grupo de jogadores.
Em pouco mais de 3 anos, o Marco saiu do anonimato e passou a ser um símbolo de uma nova vaga de treinadores com qualidade e talento. Como é que se define o Marco treinador de futebol e qual é a chave do seu sucesso?
Não gosto muito de falar de mim, mas considero-me ambicioso, exigente, organizado e com capacidade de liderança forte, através de regras e muita disciplina. Incuto diariamente nos jogadores essa ambição e sou tolerante com a equipa. Dizer sim e não no momento certo é fundamental! Eles percebem a mensagem quer no dia-a-dia, quer no jogo e trabalhamos sempre para ganhar. Conseguimos transformar o Estoril num clube que estava em 15º lugar, da 2ª Divisão. Os resultados dizem tudo.
Presumo que não tenha sido fácil motivar a equipa quando assumiu o cargo de treinador…
É verdade. Não foi fácil motivar a equipa no início da época mas fomos capazes de definir claramente os objectivos e com muito trabalho conseguimos em 3 meses o 1º lugar! Alguns acharam arriscado o que estava a fazer mas foram acreditando que era possível e, de facto, conseguimos. Tem sido assim.
E qual a fórmula para liderar com sucesso tantos homens?
Com verdade, por muito que às vezes doa. Essa tem sido a minha postura e de facto tanto eles aprendem comigo como eu com eles. A minha evolução tem de ser diária e isso passa muito pela relação que estabeleço com os jogadores. Eu tenho que melhorar todos os dias.
A ascensão do Estoril com o Marco ao leme da equipa tem sido meteórica. Até onde pode ir o seu Estoril?
O Estoril terá que continuar a trilhar o caminho com segurança. O passo maior foi a subida de divisão, depois conseguimos o apuramento para a Liga Europa e ainda colocámos o clube e por sinal a região num patamar elevadíssimo. Este ano, com uma época fantástica iremos ver o que conseguimos alcançar. Depois da manutenção queremos qualificar o Estoril para a Liga Europa. Temos conseguido resultados com elogios pelo país inteiro. Temos feito história e é isso que pretendemos continuar a fazer, sempre com passos seguros. Vamos tentar segurar este 4º lugar.
Foi considerado “melhor treinador” na Gala do Desporto da Câmara Municipal de Cascais. É bom ser-se reconhecido pelos seus?
É um orgulho muito grande. Fui homenageado como treinador e ser reconhecido pelo meu trabalho só pode encher-me de orgulho.
O ano passado o Estoril reforçou as principais equipas portuguesas. Licá e Carlos Eduardo foram para o Porto. Steven Vitória para o Benfica e Jefferson para o Sporting. Do que tem visto, entre todos, qual é o que o tem surpreendido mais pela positiva?
Tenho acompanhado o trabalho deles, é claro, e eles têm tido uma boa prestação. É um orgulho enorme sentir que ajudei e fiz parte do processo de evolução desses jogadores. Ser treinador não é só ter resultados nos jogos e alcançar objectivos, é também potencializar jogadores e ajudá-los no seu caminho. Tenho responsabilidade nos jogadores que chegam ao Estoril e ter a possibilidade de ajudar a atingir outros patamares nas suas carreiras é gratificante, como o caso do Licá que se tornou internacional A. Desde que não seja contra o Estoril estarei sempre a torcer por eles!
A aposta que a Câmara de Cascais tem feito no desporto é meritória?
Em relação ao Estoril-Praia, deixa-me satisfeito perceber que a aproximação entre o clube, as pessoas do concelho e também a Câmara Municipal seja reflexo do que acontece dentro do estádio. Antes tínhamos uma média de 400 espectadores, hoje chegamos a ter 2000, fora os jogos grandes. Sinto que as pessoas estão mais próximas ao clube mas queremos mais. Tenho feito apelos e continuo a fazer. Temos todos que disfrutar deste momento histórico do clube. Se não for agora quando será? Precisamos do apoio dos cascalenses. Levar o nome de Cascais lá fora deve ser motivo de orgulho para todos nós.
Imagine que está a receber um novo jogador no plantel: a que sítios de Cascais é que o levaria obrigatoriamente?
A almoçar muito bem [risos]. Aqui há uma qualidade de vida muito boa, com praia e sítios fantásticos. Com certeza que são todos bem recebidos.
O Marco é hoje um ídolo. Que conselho deixaria aos jovens cascalenses?
Nunca desistam dos objectivos e daquilo que desejam na vida. Nunca deixem os estudos para trás, sobretudo para quem pretende seguir uma carreira desportiva. Não percam o sentido da escola porque nem todos podem seguir os seus ídolos e tornarem-se ser bons jogadores ou treinadores.
Entrevista dada para Boletim C nº38.