CONTACTOS
Fale connosco
800 203 186
Em rede

mais pessoas

Alexandre Rippol
Alexandre Rippol “Há um fator mágico que nos impele ...
Margarida Bessa
Margarida Bessa “Uma boa ação por dia nem sabe o ...
José Roncon
José Roncon “Ser voluntário é aquilo que nós ...

Está aqui

Luís Carlos Alves

Nasceu em Angola, Gabela, a terra do café e do nevoeiro. Em 1969 viajou pela primeira vez para Portugal com apenas cinco anos. Como nos contou, esta não foi uma viagem de férias planeadas para vir conhecer a terra dos seus pais e avós. A infância vivida e descontraída aos sabores de África, foi interrompida por uma viagem forçada pelos ventos da descolonização que, em 1974, obrigou milhares de portugueses a trilhar um caminho de não retorno em direção à “metrópole” e a uma vida nova feita do nada.

As suas recordações de Angola são escassas, mas Luís Carlos lembra-se bem do momento da partida, do colo da mãe, da sensação de que alguma coisa não estava a correr bem, do som das rajadas de metralhadora, da angústia motivada pela espera de dias e noites passadas numa garagem onde também estavam muitos outros portugueses. Tal como a sua família, estas eram pessoas que engrossavam as listas de espera das escoltas até ao aeroporto, de onde todos partiriam em direção a Portugal. Hoje, 39 anos após ter pisado solo pátrio e depois de alguns amigos lhe mostrarem fotografias atuais da casa onde viveu em Angola, destruída, Luís Carlos não sente vontade de voltar. A nostalgia do regresso não lhe toca tão profundamente como àqueles que regressaram já mais velhos e com um baú cheio de memórias de um tempo feliz. E se a despedida de Angola foi dura, os primeiros anos em Portugal não foram menos difíceis. A família viu-se forçada a começar do zero e os primeiros anos de Luís Carlos em Portugal são passados na terra da mãe e dos avós maternos, em Casal Sancho, Viseu. Como era preciso garantir a subsistência da família, o pai tenta de tudo e arranja trabalho na distante Lisboa. Durante algum tempo, e até que a situação laboral do pai permitisse reunir de novo toda a família, Luís Carlos continuou com a mãe e a irmã, em Viseu, onde iniciou os estudos primários.

Mais tarde, já em Lisboa, prosseguiu os estudos e no liceu começou a interessar-se por informática. Computadores e motores eram já na altura as paixões de Luís Carlos. A adoração por carros e motas é tal que se pudesse, para além de Informático, “seria piloto de Fórmula 1”. Decidido, Luís Carlos ainda não tinha 18 anos quando jurou que tinha que tirar a carta de condução de automóveis. A maioridade, contudo, tinha-lhe guardado uma das maiores provas da sua vida. Problemas de saúde levam-no, por diversas vezes, à mesa de operações, a que se seguiram dois anos de fisioterapia intensa no Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão que lhe devolveram a mobilidade possível. Ao lembrar esta passagem da sua vida, sente- -se a gratidão nas palavras de Luís Carlos. Gratidão imensa por todos aqueles que, em Alcoitão, o ajudaram a inverter um caminho que não raras vezes se pensou ser irreversível. Já com 23 anos de casa, são poucos os que na Câmara de Cascais não conhecem o Luís Carlos. E o percurso na autarquia começa aos 20 anos, quando na sua primeira experiência profissional, Luís Carlos consegue uma colocação como administrativo nas Oficinas Municipais. Desse tempo recorda o Chefe, engenheiro Daniel Barriga, que lhe dizia que “a felicidade depende muito da forma como encaramos a vida. Se nos acomodarmos, a vida nunca nos sorrirá.” Ensinamento que Luís Carlos nunca esqueceu porque nunca deixou de lutar pelos seus sonhos.


Já a trabalhar consegue, em simultâneo, licenciar-se em Informática de Gestão. Já “doutor”, e à espera de definição da sua situação na autarquia, concorre a um lugar na banca. Obteve a melhor classificação no processo mas na fase de entrevista negam-lhe abertamente a possibilidade de trabalhar no grupo por causa do seu problema de mobilidade. Nesse momento, pela primeira vez, Luís Carlos sentiu na pele que existem preconceitos que podem sobrepor-se à competência das pessoas. “Felizmente, hoje, a nossa sociedade encara estas situações com mentalidade mais aberta e de forma mais justa”, afirma. Mas por cada janela que se fecha há uma porta que se abre. Pouco depois surge a oportunidade de ir trabalhar para o Gabinete de Informática da Câmara Municipal de Cascais. Na época, Luís Carlos era o único elemento com uma licenciatura na área. “Ser informático é quase como ser médico, porque para se estar atualizado tem que se continuar a estudar pela vida fora.” Das palavras aos atos, algum tempo depois Luís Carlos voltou aos bancos da universidade para fazer uma pós-graduação em Sistemas de Informação porque, como explica, “o progresso na área informática não deixa de nos surpreender todos os dias, rola a uma velocidade vertiginosa.” A necessidade de se atualizar é, por isso, constante.

Tirando as histórias infantis que faz questão de ler todos os dias às duas filhas, as suas leituras resumem- se, atualmente, a manuais de informática. No seu dia de trabalho não há rotinas. Todos os dias apresentam-se como desafios aos quais ele e toda a equipa têm de dar respostas rápidas e eficazes. Ao Gabinete de Informática da Autarquia cabe fazer a manutenção de todo o parque informático, o que se traduz em muitas questões para dar resposta todos os dias. “Já passei algumas noites sem dormir à procura de soluções para tentar resolver problemas informáticos, mas não me arrependo porque na minha área aprendemos coisas novas todos os dias. Esses problemas tornam-nos todos os dias mais capazes. A nossa autarquia a nível informático não fica atrás do que de melhor se faz em Portugal nesta área. Devemos estar muito perto de atingir o rácio de um computador por utilizador”, acrescenta com satisfação. Sempre que pode, Luís vai até ao autódromo do Estoril sentir o som, o cheiro e a adrenalina dos motores. Mesmo que chova copiosamente e que seja o único espetador na bancada. Afinal de contas, não é preciso ser piloto para ganhar uma corrida, nem para vencer as difíceis voltas que a vida dá.


 


C - Boletim Municipal | 21 de março de 2013

Cascais Digital

my_146x65loja_146x65_0geo_146x65_0fix_146x65360_146x65_0my_146x65loja_146x65_0geo_146x65_0fix_146x65360_146x65_0