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José Manuel Albuquerque

José Manuel Albuquerque vive, desde os 17 anos, no concelho de Cascais. Mas a paixão por automóveis é ainda mais antiga: nasceu com ele e é uma marca na sua vida. Como em muitas outras histórias, o gosto por automóveis surgiu por influência do pai, que apreciava carros e tinha, quando José ainda era jovem, um carro da mítica marca britânica MG. “Creio que tudo começou nessa altura e por causa desse carro que o meu pai teve e que mais tarde veio a recomprar.” Quanto a José, o seu primeiro carro foi um Austin Sprite, e durante pouco tempo: “Só o tive durante um verão, porque o meu pai não me deixava andar sozinho com o carro. Depois trocou por um Volkswagen.”
A pouco e pouco, José Albuquerque começou por participar em ralis pelo país inteiro e mais tarde surgiu a grande aventura pelos clássicos: “O que era bom na altura era andarmos em carros interessantes, andar depressa e na companhia dos amigos” confessa. No mundo das corridas, participou e continua a participar em várias provas, essencialmente na Europa e sempre na categoria de históricos. Ao longo dos anos os circuitos modernizaram-se, por questões de segurança, e o automobilista revela as grandes alterações sofridas: “Os circuitos passaram a ter escapatórias para o caso do carro fugir, seja através de gravilha ou barreiras, e ainda a colocação de chicanes de forma a diminuir a velocidade. O único circuito que não sofreu alteração é o de Goodwood, um circuito inglês muito perigoso que se mantém igual desde sempre e onde só se entra por convite.”
De entre os vários circuitos que conhece, José elege alguns que pelo trajeto, mais o encantam: “Nurburgring, Monza, Spa ou Portimão, por exemplo.” Preservar carros antigos não é tarefa simples tendo em conta que muitos deles são verdadeiras obras de arte que requerem muita dedicação, quer a nível da manutenção quer na pesquisa de peças. E algum investimento, também. Ainda assim, o colecionador garante: “O mundo dos carros antigos é muito mais vasto do que as pessoas julgam. Há uma indústria que funciona à volta disto, com imensos trabalhadores que vivem desta mesma indústria. Inglaterra, França, Itália e Estados Unidos são alguns dos países que vivem deste mundo.”
Conhecedor do mundo automóvel e apreciador de veículos dos anos 30, José afirma que Cascais tem boas condições para a prática do desporto automóvel: “Tem de se apostar mais nessa área pois seria uma atração enorme para o concelho. Temos o autódromo do Estoril que podia ser um circuito muito bem aproveitado e que infelizmente está pouco explorado atualmente.”
Contudo, algo parece estar a mudar e já entre os próximos dias 30 de agosto e 1 de setembro, o Cascais Motor Show traz à vila uma enorme coleção de carros antigos. Entre os quais, algumas raridades de quatro rodas e valor incalculável. ”Vai ser muito interessante a exposição dos carros que participaram há 50 anos no circuito de Cascais, no qual estará, em princípio, um carro meu.” E qual é esse carro? Pistas: é um modelo britânico, de uma das mais famosas marcas de carros desportivos. E é de 1964. Palpites? Se respondeu Lotus Elan, acertou. Agora imagine que está em 1965 e que as corridas têm lugar não num autódromo, mas num circuito urbano, bem dentro de Cascais. Foi aí que José Albuquerque correu uma das mais inesquecíveis corridas da sua vida: todos na linha de partida, os motores arrancam ao abrir do sinal e seguem pela Boca do Inferno, virando à direita pelo Restaurante Entreáguas. A descida até à Igreja faz-se em alta velocidade, com uma viragem na rotunda do Centro Cultural de Cascais (cortada na altura para a prova); passagem pela ponte mais pequena do Atlântico (em frente ao Museu Condes de Castro Guimarães), e pouco depois os pilotos cortam a meta.
Sim, o sentido do trânsito era inverso ao atual e foi assim que nesse ano de 65 José Manuel Albuquerque participou no circuito de Cascais. José continua a participar em outras provas 48 anos depois, com a mesma adrenalina. Agora, ao volante do seu emblemático Ford GT 40.