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José Caldeira

“O tempo é algo que não volta atrás…” e José Caldeira sabe que não voltará a sentir a adrenalina percorrer-lhe o corpo à mesma velocidade da sua mota, nem o desafio de nadar nas águas frias da Lagoa Azul.

Alguns dias depois José sai do quarto, junta-se aos colegas na sala de convívio e assim Adriana fica a saber quem era o autor dos quadros. Surpreende-a o facto de José ser um jovem com um grau de dependência total de terceiros. Adriana começa a perceber que no lar não conseguiam lidar com os estados depressivos do José e acabavam por deixá-lo entregue a si próprio. José nem sempre aceitava a ajuda das outras pessoas e recusava- se a colaborar. Um dia calhou ser ela a tratar da sua higiene. Muito incomodado com a presença de Adriana, começa a tecer considerações sobre o seu trabalho. Sem terminar o que estava a fazer Adriana deixa-o sozinho. A administração pede explicações a Adriana sobre o sucedido. A diretora resolve travar a saída de Adriana porque já tinha intuído que existia entre eles uma estima mútua. Na verdade, José e Adriana estavam em perfeita sintonia na forma como encaravam as questões da deficiência. José não gostava que o olhassem como um “ser menor”, e Adriana não suportava que ele entendesse a sua deficiência como um motivo para manter afastadas as pessoas de quem gostava. Com o tempo surge o afeto entre eles e espontaneamente começam a namorar. Com a ajuda de Adriana, dezassete anos depois do acidente, José retoma a sua vida social e começa a sair. Familiares e amigos não compreendem aquela relação. Quando se cruzavam com alguém, mesmo os desconhecidos, sentiam o olhar reprovador, curioso e incrédulo. Decidem casar e viajam para o Brasil, país natal de Adriana. No Brasil José frequenta uma escola de artes, inicia-se na pintura a óleo, começa a expor e é convidado para participar em diversas mostras de pintura. Visita escolas e empresas para falar sobre o seu “renascimento” para a vida depois do acidente e inspira muita gente a encarar situações como a dele como um novo começo, e não como o fim da linha. Passados oito anos estão de regresso a Portugal. José procura agora um voluntário para o ajudar a fazer a gestão da página da internet onde divulga a sua obra de pintura. E prossegue também com o seu objetivo de ajudar pessoas que tal como ele desejem encontrar um novo começo de vida. Em 2010, José Caldeira vê o seu talento reconhecido como artista plástico pela Associação dos Pintores com a Boca e os Pés (APBP). Uma das suas telas ganhou um prémio no Brasil. José sente que “O tempo é algo que não volta atrás. Por isso plante seu jardim e decore sua alma….”William Shakespeare

C - Boletim Municipal | 19 de dezembro de 2013

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