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José Brito
“Com trabalho, paciência, carinho, perseverança e gosto tudo se resolve.” Palavras de José Cardoso Brito que expressam a sua surpreendente arte de construir réplicas de coches do Museu Nacional dos Coches.
Sem formação académica especifica na área, apenas com o 2º ano da Escola Comercial, José é um autodidata. Curioso, interessado e empenhado são os traços fortes deste artista com quem apetece estar à conversa e que é reconhecido como um dos poucos artistas no mundo a fazer este tipo de modelismo. Estamos perante um modelismo requintado, laborioso e minucioso. As réplicas dos coches são feitas à escala 1/10, peças com comprimento entre 50 a 70 cm, de altura 30 a 40 cm, e 26 a 37 cm de largura. Cada modelo constitui para José Brito um novo teste. Sem quaisquer desenhos geométricos nem planos, pega na máquina fotográfica, na fita métrica, em papel e começa o desafio. Tendo o chão onde o coche se encontra como referência, tira medidas, traça uma esquadria de 5 em 5 cm.
José Cardoso Brito nasceu a 27 de fevereiro de 1953 no Casal da Lapa, concelho da Pampilhosa da Serra. Terra que deixou quando tinha treze anos de idade para ir viver para casa de uns tios em Lisboa e aí começar a trabalhar na restauração.
Há trinta anos mudou-se para a freguesia de S. Domingos de Rana. Hoje, aos sessenta anos, está na pré-reforma. Foi motorista dos CTT e esteve durante alguns anos destacado no Ministério das Obras Públicas como motorista do Secretário de Estado. O tempo que disponha para a sua arte era muito limitado, mas nunca deixou de aproveitar cada bocadinho. Ter mais tempo permite-lhe agora uma dedicação a tempo inteiro e passar à fase da divulgação.
O seu primeiro coche foi o de D. Maria Francisca de Saboia. “Penso que foi um bom começo”, confessa. Mas é pelo Coche de Filipe II que tem um carinho especial, principalmente pela sua história. E como é isto de fazer coches? José começa sempre pelas rodas de madeira e depois segue-se a caixa onde utiliza diferentes tipos de madeira – buxo, faia, amieiro, contraplacado. Daí passa para o sistema de engrenagens, depois os diversos acessórios. A pintura é a última etapa, tanto exterior como no seu interior, nalguns casos a fazer lembrar frescos.
Um trabalho manual que envolve um sem número de artes: pintura, costura, douramento, talha, soldadura a prata e estanho, estufagem. Na sua pequena oficina com uma panóplia de ferramentas, algumas por si fabricadas, como o caso das goivas usadas para o entalhe e feitas a partir de limas partidas, ou as goivas de esculpir feitas com varetas dos chapéus-de-chuva. Imparável, faz parafusos, porcas, anilhas, para ultrapassar a inexistência no mercado de peças de um tamanho tão reduzido.
“Quando estou a fazer uma peça, imagino qual a ferramenta que me poderá ajudar. Muitas das vezes tenho que improvisar”. Num sorriso cúmplice, revela, “durmo com o coche debaixo do travesseiro, verdade se diga, para conseguir solucionar certos problemas”.
Reproduz e dá um realismo que as várias peças que compõem o José Brito, modelista de réplicas de coches coche funcionam tal como no modelo original: portas que abrem, degraus que recolhem, janelas com vidros que baixam, molas de suspensão, lampiões que acendem. Incansável, corre a baixa de Lisboa de uma ponta à outra à procura de material - damascos, veludos, sedas, peles, madeira. Chega a estar dois meses à espera. Mas nunca desespera.
Há uns anos, o modelista aderiu ao fórum internacional, Scale Model Horse Drawn Vehicles, e aí encontrou um apoio no desenvolvimento dos seus solitários projetos. Através do fórum, troca impressões, partilha conhecimentos e entra em diálogo com outros que partilham a sua paixão.
José não consegue esconder a felicidade que sentiu quando encontrou uma empresa inglesa – John Thompson Plans – que tinha os planos do Coche de Napoleão. “Eram 22 folhas de instruções à escala 1/12. Encomendei-o. Não sabia que a escala usada era em polegadas. Demorei meses a converter polegadas em milímetros.” O modelista conhece, de trás para a frente, a história de todas as suas peças e a investigação é uma parte importante do seu trabalho habitual. Tem até, em sua casa, uma biblioteca inteira dedicada ao tema. Mesmo não contabilizando o tempo que cada modelo lhe toma, José Brito dedicou 14 anos da sua vida a esta arte que tem agora forma e expressão em 10 magníficos coches. A paixão pelo modelismo até começou com os barcos – primeiro com um kit da Caravela Bartolomeu Dias e mais tarde com uma fantástica Fragata de D. Fernando II e Glória, tudo modelos construídos a partir do zero e sem kits comerciais – mas foi ao folhear um catálogo da Artesania Latina, da empresa espanhola de construção de kits de modelismo naval, que descobre um kit da Wells Fargo: uma carruagem muito comum nos Estados Unidos da América.
Depois do traquejo adquirido na construção dos barcos, decide lançar-se no mundo dos modelos de carruagem. Deslumbrado com coches, José Brito vai até ao Museu Nacional onde conhece a sua Diretora, Silvana Bessone, que lhe permite a invulgaridade de tirar fotos para reproduzir os coches expostos. Foi assim que começou um trabalho que, catorze anos depois, se traduz em dez belíssimas peças que estão expostas na Casa de Santa Maria (saiba mais na secção Cultura). Na cabeça de José, os planos não param. A acabar o projeto de um coche, já tem na calha a construção da carroça da Casa da Prisca que viu numa grande superfície comercial. Por agora, José Brito vai continuar dedicado à arte de construir miniaturas de coches.
No futuro logo se verá. Porque como nos disse, não gosta de misturar peças: “Gosto de começar e terminar um trabalho. Misturar peças, seria uma confusão