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Joana Rocha
No papel de uma das pioneiras deste desporto em Portugal, como é que vês a evolução da modalidade até os dias de hoje?
No início foi difícil, não havia grande aposta por parte dos patrocinadores nem pelas entidades municipais, mas, ao longo dos anos e através do trabalho desenvolvido nos campeonatos mundiais de surf feminino, começaram a aparecer marcas com vontade de apoiar este desporto. E na verdade, a conquista dessa confiança só podia ser assim.
Hoje, a Câmara de Cascais aposta forte no desporto, nomeadamente no surf, e acho que é de louvar o apoio que temos tido nos nossos eventos.
As RockSisters têm um extenso historial de produção de eventos, a nível nacional e além fronteiras. Como é que nasce o apelo para estar “do lado de cá das ondas”?
Quando eu comecei a competir éramos muito poucas, não haviam sequer surfistas profissionais femininas. Só mais tarde,
perto de 2004, é que me tornei a primeira surfista profissional em Portugal. Muito antes da minha profissionalização ter lugar, não havia grande disputa, éramos muito poucas e o nível de competição era reduzido.
Eu acho que, com alguma visão e interesse à volta de desenvolver o surf feminino no país, eu, a minha irmã e uma amiga criámos um conceito simples. Um encontro feminino.
No fundo, tentámos “puxar” mais raparigas para a modalidade. Na altura éramos dez a competir e apareceram oitenta e quatro raparigas com interesse em aprender surf. Passado este tempo, a RockSisters já deu formação a mais de 1500 surfistas, já demos nome a várias campeãs nacionais e estamos, obviamente, muito orgulhosas do nosso trabalho.
Quando, em 1999, vocês decidiram abraçar este projeto contavam elevar o surf a esta dimensão de importância?
Não, de todo. Era difícil antever o que se ia passar mais de dez anos depois. Hoje já há uma indústria completamente desenvolvida, há lojas de surf, revistas, marcas, exclusivamente para surfistas femininas, há uns anos era impensável e eu acho que nós demos o nosso contributo para que isso fosse possível, pelo menos à escala de Portugal.
Não foi algo que conseguíssemos prever no futuro mas estamos muito orgulhosas do que fizemos. E queremos continuar a trabalhar.
No EDP Surf Pro Estoril deste ano regressam as aulas de surf e o troféu de surf feminino mas, a nossa grande aposta é tentar formar as grandes campeãs mundiais de amanhã. É por isso que voltámos a trazer o campeonato mundial que, este ano, conta com um número recorde de surfistas portuguesas numa prova internacional. Serão seis. É com muito bons olhos que vemos as praticantes mais novas dar os seus primeiros passos num evento organizado por nós.
Para quem não conhece as suas matrizes, o que é o EDP Surf Pro Estoril?
Este é um evento que acontece no Concelho de Cascais desde 2007, esse foi o primeiro ano em que decidimos trazer o mundial até aqui, de forma experimental, para ver se corria bem.
Foi um campeonato de apenas uma estrela mas superou todas as expectativas e, por consequência, a Câmara Municipal de Cascais apostou num campeonato de pontuação máxima, de seis estrelas, com um prémio monetário de quarenta mil dólares e com a respetiva qualificação para o World Tour.
A que é que se deve este crescendo de adesão por parte das praticantes?
Eu acho que o surf é uma modalidade completamente diferente de todas as outras. É individualista, mas muito saudável, a competição em si é individual mas o “Free Surf” pratica-se todos os dias e coloca muita gente na água.
Creio que tem muito a ver com isso. No fundo, porque é um desporto sem fronteiras, praticado por todos os extratos sociais e de total contacto com a natureza. E na água não há áreas VIP, o mar é de todos.