Está aqui
Filomena Martins
Há 20 anos, quando a professora Filomena decidiu candidatar-se ao ensino oficial, foi colocada na EB nº 3 no Bairro da Cruz Vermelha. As histórias que contaram a Filomena sobre o bairro deixaram-na assustada. Quando chegou à escola, do corpo docente do último ano letivo, não restava ninguém que fizesse “as honras da casa”, apenas uma auxiliar ali tinha permanecido. “A minha primeira turma era composta por grupos de alunos do 2º, 3º e 4 anos, completamente desmotivados e desinteressados. Uma autêntica manta de retalhos”, diz-nos. “Tivemos momentos muito difíceis, com assaltos à escola, com destruição de todo o trabalho. Chegámos a ter seguranças à porta”, conta.
“Os dois primeiros anos não foram nada fáceis”. A equipa uniu-se e decidiu ficar porque queria ajudar a mudar a vida daquelas crianças. Este estabelecimento de ensino é, maioritariamente, frequentado por crianças guineenses, cabo-verdianas, moçambicanas e angolanas, residentes no bairro. Aceitar as diferenças culturais e respeitá-las, foi o primeiro passo. Tal como Filomena conta, “A mudança não se fez em dois anos, mas contámos sempre com o apoio da Câmara Municipal de Cascais e da Junta de freguesia de Alcabideche que sempre acreditaram que era possível melhorar. Hoje, toda a co munidade encara a escola como um lugar de respeito e proteção para os filhos”. As crianças vão para a escola com gosto e mostram os seus dons na escrita e nas artes. Na escola existe um painel de Malangatana que tem servido de inspiração aos alunos. Em junho o estabelecimento de ensino vai mudar de nome, em homenagem ao artista plástico e poeta moçambicano. Filomena é coordenadora da escola, mas nunca esteve sem turma. “Sinto que é aqui o meu lugar”.