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Cláudia Ranito
“Já ouvi comentários do género: «É você que vai arranjar a máquina»? E eu respondi: «Sim, porquê, não posso?”. Cláudia Ranito tem 32 anos, e os últimos cinco foram dedicados à criação e expansão da Medbone, uma empresa de Cascais que fabrica ossos sintéticos. Hoje exporta para mais de 30 países, incluindo o Médio Oriente, onde as mulheres ainda não conquistaram as liberdades a que as ocidentais estão habituadas. Mas para Cláudia, culturas diferentes não são sinônimo de barreira: “É preciso ter algum cuidado na abordagem, na forma como se processa a negociação, não ferir suscetibilidades e respeitar a cultura. Mas já estamos a exportar para países como o Kuwait”.
Cláudia é uma mulher de negócios e de espírito empreendedor. No 4.º ano do curso de Engenharia dos Materiais fez um estágio na área da medicina e ficou fascinada com a possibilidade de desenvolver produtos que contribuíssem para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Decidiu então apostar na Medbone, que lhe permitiria unir o útil ao agradável: “realizar um projeto de investigação a nível industrial” e, ao mesmo tempo, criar a sua própria empresa.
A Medbone fabrica ossos sintéticos para serem usados em pacientes que estejam a precisar de uma prótese para preencher e regenerar tecidos ósseos. Essa prótese pode feita ser de ossos de cadáver, de animais ou de materiais artificiais,
como o produto concebido pela Medbone. “É um osso artificial usado temporariamente, que vai sendo substituído pelo tecido ósseo natural conforme este se vai regenerando. O osso artificial acaba por ser totalmente absorvido pelo organismo”.
Quando se trata de pôr a mão na massa, Cláudia é a primeira a arregaçar as mangas. No laboratório onde funciona a Medbone, localizado em Alcabideche, já montou e subiu andaimes, arranjou filtros e calibrou máquinas: “Tira-se os saltos altos, põe-se um sapatinho raso e faz-se o que for preciso”, afirma Cláudia, rematando que “as unhas de gel são fantásticas, por serem resistentes”.
E por falar em unhas de gel, será que sobra tempo para a empreendedora Cláudia cuidar da mulher Cláudia? “A Medbone é um emprego a tempo inteiro, incluindo fins de semana. A equipa é constituída por mim e mais duas pessoas, portanto há alturas em que estamos sobrecarregados e é preciso trabalhar até mais tarde.
Mas não somos obcecados pelo trabalho e há espaço para a vida pessoal. É preciso organização. E, para além disso, conseguimos dar mais valor ao tempo livre quando este é escasso, porque aproveitamo-lo ao máximo”.
O espírito feminino, empreendedor e organizado de Cláudia reflete- se no próprio espaço da Medbone.
Os armários e gavetas estão devidamente identificados com etiquetas, os relógios de parede estão decorados com a imagem da empresa, as caixas onde são embalados os ossos primam pelo design cuidado e a mesa da sala de reuniões mistura os estilos vintage e moderno: é redonda e antiga, mas está pintada de branco e o tampo é em vidro, deixando ver o logótipo da Medbone.“Melhor do que ninguém, nós, mulheres, sabemos como a imagem é importante”, diz Cláudia entre risos.
Num mundo de empresários, engenheiros, equipamentos e máquinas que, até há algum tempo, era exclusivo dos homens, Cláudia Ranito é hoje uma empreendedora de sucesso. Sente-se realizada por “marcar uma diferença positiva” na vida das pessoas que recuperam graças ao produto que desenvolve. O facto de ser mulher não é vantagem nem desvantagem: “Acho que as pessoas devem ser respeitadas independentemente do sexo”.
Quanto às mulheres de hoje, não tem sombra de dúvidas: “Estamos com uma força incrível”.