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Ana Paula Rodrigues
Tudo corria sobre rodas até ao dia em que, enquanto praticava educação física no exterior da escola, resolve saltar por cima de um separador num parque de estacionamento e fica com a perna esquerda presa numa corrente que lhe provoca um hematoma. No período que decorreu entre os 15 e os 18 anos, foi examinada por diversos clínicos, mas estes nada adiantavam. Ana Paula continuou sempre a trabalhar e a fazer planos para o futuro. Não estava disposta a permanecer para sempre “atrás de uma caixa registadora”. Em 1974, ainda antes do diagnóstico médico, começa a trabalhar na autarquia, na secretaria da Secção de Transportes das Oficinas. A vontade de aprender era muita, e aos poucos, foram-lhe delegadas tarefas que exigiam maior responsabilidade. Sentia-se crescer profissionalmente.
Entretanto, chega o diagnóstico do hospital: Ana Paula Rodrigues teria que sujeitar-se à amputação da perna. Todos achavam que o seu futuro e qualidade de vida estavam seriamente comprometidos, mas, três meses depois da intervenção, Ana Paula já estava de volta ao trabalho. Consegue, entretanto, colocação no Serviço de Higiene e Limpeza/Cemitérios, com vínculo ao quadro de pessoal da autarquia. É a partir daqui que inicia a caminhada até ao topo da carreira administrativa.
Até atingir o patamar cimeiro da mesma passaram-se vários anos. Ana Paula faz mesmo questão de dizer: “Perdi a conta às provas que prestei para progredir profissionalmente. Hoje, a maior parte das avaliações é realizada com base na análise curricular dos candidatos. No meu tempo as provas abrangiam legislação relacionada com as autarquias locais”. Passou de Escriturária-Datilógrafa a Oficial Administrativo, e prosseguiu na conquista dos vários graus da categoria. Ainda foi duas vezes nomeada Chefe de Secção em regime de substituição, mas em 2005, fica aprovada no concurso para Chefe de Secção. É, atualmente, Coordenadora Técnica, nos Espaços Verdes da Autarquia. No total, já soma 39 anos ao serviço da autarquia, mas diz-se ainda disposta a aprender e a aceitar novos desafios.
Mesmo na vida pessoal nunca deixou de fazer o que mais gosta. Depois da cirurgia continuou a frequentar a praia da Crismina. Há muitos anos, “tremeu de indignação” quando uma senhora lhe disse que uma pessoa na sua situação não deveria frequentar a praia. Felizmente, hoje, as pessoas têm outra atitude perante situações como a sua. Estão mais informadas e sensibilizadas. Se naquela ocasião existia algum problema, era certamente, na mentalidade daquela senhora. Ana Paula continua a ir à praia, e até aprendeu a nadar já depois da operação. Fazer campismo, viajar de carro, em Portugal e no estrangeiro, deixam-na feliz.
Fez muitas amizades na autarquia que ainda hoje perduram. Sentiu sempre grande apoio por parte dos colegas. Alguns já estão reformados, mas ainda a visitam. Contra todas as opiniões, que achavam que seria impensável para uma pessoa na sua situação pensar em engravidar, Ana Paula é hoje mãe de um rapaz e duas raparigas. A filha mais nova nasceu há 17 anos, quando os outros filhos já eram maiores de idade. Na altura, chegou a receber telefonemas de colegas e amigos, preocupados porque achavam que aos 39 anos, seria arriscado assumir uma terceira gravidez. “Nunca perder a esperança”, é o seu lema. Esta atitude perante a vida é uma espécie de desafio que impõe todos os dias a si mesma.
C - Boletim Municipal | 24 de outubro de 2013