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Ana Cristina Pimentel
Até aos 15 anos foi criada com os avós maternos, ciganos, e acompanhava-os nas feiras, mas ainda muito jovem, percebeu que algumas das suas escolhasnão passariam por seguir a tradição cigana. Na escola da Alapraia, em São João do Estoril, sentia-se bem na companhia de colegas que não pertenciam à sua comunidade e, quando quis avançar nos «estudos e explicar à família o que pretendia, confirmou a sua escolha. O instinto protetor da mãe, o peso da tradição, a experiência de vida e a ginástica orçamental que esta decisão implicava para toda a família, levaram a mãe a dizer-lhe que alguém como ela não tinha condições para concretizar os sonhos e que seria melhor encarar a realidade.
Mas Ana não desistiu e candidatou-se a uma bolsa. Teve sempre o cuidado de construir o seu caminho de uma maneira muito conciliadora, respeitando ao máximo a família e sem esquecer as origens: “Tenho muitos valores que vêm dos meus pais, mas queria muito seguir o meu sonho”. Uma fibra que herdou dos pais – ela cigana, ele não – que, como ela, enfrentaram a tradição para correr atrás dos sonhos. E valeu a pena. Hoje, é com orgulho que a mãe conta que a filha tem um curso superior.
“Aprendi que o mundo é muito grande e que não nos podemos resumir a uma só realidade.”
Na escola e nos trabalhos temporários que teve para comprar os livros e o passe social nunca escondeu as suas origens. Licenciada em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, fala fluentemente inglês e também o espanhol, que aprendeu com a mãe. Em Cascais, chegou a ser líder de grupo no programa de ocupação de jovens Maré Viva. Participou em projetos de voluntariado internacional, na Áustria e na Macedónia. Sobre esta experiência diz: “Aprendi que o mundo é muito grande e que não nos podemos resumir a uma só realidade.”
Boletim "C" nº 56 |9 de julho de 2015