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Aleida Monteiro Veríssimo

Ao longo dos anos o pai tentou convencê-la a deixar Cabo Verde porque entendia que por cá teria outras oportunidades, mas Aleida resistiu sempre porque não queria deixar a avó que cuidou dela desde o dia em que a mãe lhe apareceu à porta a dizer que não podia ficar com a filha.

Na altura tinha apenas dois anos e, por isso, não se lembra desta passagem da sua vida, mas como qualquer criança na sua situação, mais cedo ou mais tarde, iria começar a questionar os adultos que lhe estão mais próximos. No caso de Aleida foi a avó paterna que se viu confrontada com as suas perguntas. Aleida Monteiro Veríssimo nasceu a 30 de março de 1982. Nesse ano, nasceram mais duas irmãs, fruto de outros relacionamentos do pai. A diferença de idade entre ela e as irmãs é de apenas três meses; uma mais nova e outra mais velha. Ambas acabariam, na altura, por ter o mesmo destino de Aleida: também foram viver para casa da avó paterna.

O pai já vivia em Portugal, mas nunca perdeu o contacto com a família. Escrevia, telefonava e enviava dinheiro para ajudar no sustento das filhas, mas foi a avó que esteve sempre na hora certa na vida das netas. Em versão de avó, foi mãe e pai ao mesmo tempo. Tal como nos contou, considera a avó a pessoa mais importante da sua vida: “A minha mãe deu-me à luz e a minha avó deu-me a vida. Cuidou de mim. Nunca me faltou nada”, afirma sem hesitações. A situação das irmãs mudou quando as mães as foram buscar alguns anos mais tarde. Sem a companhia das irmãs, Aleida não entendia porque é que era a única que continuava em casa da avó.
Até que a avó decidiu que tinha chegado a hora de ficar a saber o que se tinha passado. E, aos 10 anos, Aleida foi confrontada com uma realidade que a deixou sem palavras até hoje. “Perguntava muitas vezes à minha avó porque é que não vivia com a minha mãe. Nunca tive coragem de abordar a situação com ela”. Apesar do começo de vida atribulado, afirma: “A minha infância foi fantástica. Adorava brincar à chuva! Em Cabo Verde a chuva é quente. Gostava de jogar à bola e quando não tinha “uma bola a sério”, fazia uma com restos de tecidos. “Cresci uma “maria-rapaz”, estava quase sempre no meio de rapazes”. Nasceu e cresceu em Lagedos, no interior de Santo Antão onde viveu até aos 18 anos. A casa da avó era de betão armado, mas recorda que na aldeia havia muitas casas com cobertura de palha que hoje já não existem. Quando fez 15 anos foi estudar para a cidade de Porto Novo. Dois autocarros da Câmara iam buscar os jovens da aldeia que frequentavam o ensino secundário. Fora do programa escolar chegou a integrar um grupo de teatro.

Quando veio para Portugal já tinha completado o 11º ano. “O meu sonho nunca foi ir viver para outro país porque era muito apegada à minha avó. A primeira vez que o meu pai me falou em ir para Portugal tinha oito anos”. O pai volta a insistir com ela aos 15 anos e depois aos 18. Como a avó já estava a viver em casa de uma das filhas, incentivou-a a aceitar o convite do pai. “Nós lá temos uma ilusão sobre como é viver no estrangeiro. Achamos que é tudo bom. Não pensamos que no estrangeiro também existem dificuldades. Mas é claro que aqui se vive melhor. Em Cabo Verde é mais complicado arranjar trabalho”. Já passaram 13 anos desde que veio para Portugal com o propósito de acabar os estudos e voltar para Cabo Verde. Mas o curso de Secretariado de Direção em que o pai a inscreveu em Portugal não correspondeu às suas expetativas. Porque não queria continuar a sobrecarregar financeiramente o pai, arranjou trabalho. E acabou por ficar por cá. O que Aleida gostava mesmo era de ser Educadora de Infância, mas não obteve equivalência para entrar nesse curso.

Apesar das dificuldades, não está arrependida de ter mudado o seu projeto de vida. “Aqui, sempre dá para ganhar mais alguma coisa e pensar nos que estão lá ficaram. Sinto-me um pouco como a mãe dos meus irmãos. O que é o que tenho feito desde que vim para cá? – Tenho ajudado os meus nove irmãos, que em número contabilizam quase uma equipa de futebol”.  Só consegue ir a Cabo Verde de dois em dois anos porque a viagem é muito dispendiosa e este relato é feito precisamente dias antes de voltar a “casa” por um período de um mês. A avó tem perto de 90 anos, e atualmente vive com uma filha. “Cada vez que vou a Cabo Verde, aproveito bem todos os momentos com ela porque penso sempre que poderá ser a última vez que a vou ver”. Aleida trabalha há oito anos para a empresa que fornece os almoços no refeitório da autarquia. É a alma daquele espaço. As refeições são sempre servidas com doses de verdadeira simpatia e boa-disposição. É assim que encara todos os dias, sempre a sorrir para a vida. Sente-se feliz, ao lado do marido. Um dos seus maiores desejos é ser mãe, e em breve espera concretizar esse sonho.


C - Boletim Municipal | 25 de julho de 2013


 

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