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"Estamos aqui porque acreditamos num futuro onde todos contam"

O Diagnóstico Social de Cascais, enquanto estudo, esteve em análise por parte dos académicos no segundo dia da Semana da Coesão Social. O evento decorre no novo Campus de Carcavelos de 4 a 6 de dezembro. Dia 7 há um dia Aberto para conhecer in loco o trabalho realizado nas organizações parceiras da Rede Social de Cascais.

No Painel (Des)Igualdades e Coesão Social Que desafios para a esfera local?” Carlos Farinha Rodrigues, do ISEG, identificou, por exemplo, que “a informação recolhida é insuficiente para a análise da desigualdade”. Ao mesmo tempo, para melhor se compreender o fenómeno, o académico gostaria de ver analisados os salários médios dos cargos de topo. Acima de tudo Farinha Rodrigues quis deixar claro que “a desigualdade é o ponto de encontro de múltiplas desigualdades”. “Salta à vista a heterogeneidade do território de um lado a s freguesias de Alcabideche e S. D. Rana e do outro Cascais-Estoril e Carcavelos Parede. Chamando a terreiro a relação entre desigualdade e educação, Farinha Rodrigues questionou: “Como é que um concelho que tem dos mais elevados níveis de instrução a desigualdade funciona?” 

Assumindo que avaliando o Diagnóstico Social de Cascais, “não estamos em condições para avaliar a desigualdade em Cascais, Susana Peralta, da Nova SBE, saiu defesa do estudo: “não por falta de mérito da CMC, mas pela incapacidade de acesso aos dados”. “O problema é que a CMC não consegue fazer omeletes sem ovos”. Em jeito de resposta ao colega Farinha Rodrigues, Susana Peralta concretizou: “os dados que refere, relativos à Autoridade Tributária, são inacessíveis”. De qualquer modo, há pistas a ter em conta como salientou a académica: “quando olhamos para as pensões dos residentes em Cascais percebemos que são as mais altas da Área Metropolitana de Lisboa, o que revela que estas pessoas auferiram ao longo da vida de salários mais elevados”. O desafio é fazer sentir a sua falta para o melhor conhecimento da realidade e para a construção de sociedades mais coesas: “Quantos mais estudos destes forem feitos, mais estes dados serão colocados à disposição de todos”. Ao mesmo tempo Susana Peralta lança o repto à CMC e Rede Social de Cascais para “pensarem mais no inquérito de modo a avaliar outras dimensões como a componente familiar ou a relação entre mercado de trabalho e educação, que permitam levar ao desenvolvimento de políticas”. 

Anália Torres, do ISCSP- Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, colocou a tónica da sua intervenção na desigualdade salarial entre homens e mulheres: “em todos os setores há enormes desigualdades no salário pago a homens e mulheres com a mesma categoria profissional. Chega a haver diferenças de 1.000 euros (…) além disso as horas trabalho não pago (casa e família) são muito mais realizadas por mulheres”. Uma questão transversal em todo o mundo que rejeita a inação nesta matéria: “não há condenação a não fazer nada! Há muito a fazer e a proximidade pode fazer toda a diferença”

Mas, afinal, “qual será o caminho da realidade de Cascais no contexto da inação?” A pergunta foi colocada por João Ferrão, do ICS- Instituto de Ciências Sociais que perante as “fortíssimas desigualdades territoriais” entre as freguesias do litoral e do interior defendeu que “é preciso perceber se as novas dinâmicas rompem com o que vinha acontecendo até agora, ou abrem caminho para novas oportunidades?” Entre estas novas dinâmicas, João Ferrão integrou o envelhecimento, mais sentido no litoral; a emigração, de vistos dourados e de classes mais baixas; o mercado imobiliário, com Cascais a aproximar-se de Lisboa no custo por metro quadrado; e o emprego. Citando dados do INE – Instituto Nacional de Estatística Cascais, João Ferrão assinalou que “há bem e para o mal”.

“A nível local, a luta contra a desigualdade é irmã gémea da luta contra a pobreza”, referiu Farinha Rodrigues, referindo-se às limitações impostas pelas políticas nacionais e apoios centralizados. A diferença que pode constituir vantagem para os municípios reside, na opinião do académico, no trabalho comunitário e na proximidade. “Sem proximidade não é possível fugir à armadilha das medianas.

“Em Cascais temos a Rede Social para poder agir melhor”, acrescentou Susana Peralta, disponibilizando a Nova SBE como parceira. “Cascais está à frente no contexto nacional e Europeu em várias questões e há um exercício para o qual está muito bem preparado que é influenciar a governança na tomada de posição multinível”, reconheceu, por seu lado João Ferrão. Para o académico, antigo governante, “Não haver resultados imediatos não significa falhar, porque os impactos diluem-se no tempo, mas é preciso monitorizar e avaliar”, acrescentou.

Mas afinal, no que diz respeito à Governação e Governança Local e responsabilidade partilhada, quais são os desafios para a rede Social de Cascais? Pedro Adão e Silva, do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, partilhou com a sala que, “no atual modelo de parcerias e protocolos, o Estado investe 1500 milhões por ano”, uma verba que cresceu muito nos últimos anos, mas que, “por força da evolução demográfica” não vai ser suficiente. “Estamos a evoluir para uma situação em que os lares se vão transformar em espaços de cuidados continuados e isso obriga a haver uma grande proximidade com a saúde”. Na ótica da participação dos cidadãos, Nelson Dias, do Banco Mundial, realçou o facto de a tendência do setor social ser para “trabalhar sobre as pessoas e para as pessoas. É importante mudar este foco porque o conhecimento não existe apenas nas entidades”. Para o consultor, especialista em participação e cidadania, a mudança passa pelo “planeamento, ou seja, convidar as pessoas a participar, concretizar ações e finalmente monitorizar e avaliar os resultados”.

“Estamos aqui porque acreditamos num futuro onde todos contam. Qual é o meu papel para transformar o meu país?” A questão foi lançada por João Pedro Tavares, da Associação Cristã de Empresários e Gestores, para quem, antes de mais, é preciso uniformizar linguagens. Por isso mesmo, o consultor defende que o nome da Rede Social deve ser alterado para Cascais em rede, por exemplo. “Se dissermos Rede Social as pessoas pensam que são IPSS a fazer o trabalho…” Para João Pedro Tavares, “pessoas felizes são mais produtivas em 20% e Portugal enfrenta um problema de produtividade, portanto esta é uma questão de responsabilidade social”. No seu entendimento a solução passa por exemplo, pela mudança de conceito: “as empresas devem passar de shareholders a stakeholders. Se querem tratar dos desafios da Rede, as empresas devem ser parte integrante”, concluiu.

 

Marketplace para uma maior coesão

Debate terminou com a realização do Market Place, um espaço de encontro entre empresas e organizações não lucrativas com vista a estabelecer maior proximidade. “Os panfletos informativos são muito frios e não nos permitem conhecer a verdadeira dimensão pessoal de quem se dedica a estes projetos”, referiu Manon Alves, empresária, satisfeita por conhecer, por exemplo, o trabalho feito pela Casa da Barragem na área das toxicodependências. Ao longo de hora e meia foram formalizados 71 matches (troca de produtos e serviços) entre Empresas e Instituições de carácter social, bem como entre Instituições. Este mercado reuniu, aproximadamente 80 representantes de Empresas e Instituições e alcançou um impacto social estimado de cerca de 115.200€ como resultado das inúmeras parcerias concretizadas.

Nas nove edições do Marketplace realizadas até agora foram formalizados 863 matches entre Empresas e Instituições de carácter social e alcançado um impacto social estimado de mais de 1.261.200€ em 9 tardes (duração cada evento) só.
 
Cultura e inclusão

O dia contou com a atuação do grupo da Escola Val do Rio com o tema “Por uma cidade Educadora” e da Orquestra Juvenil de Cascais, Agrupamento de escolas Frei Gonçalo de Azevedo. A parceria da Cercica trouxe à Semana da Coesão Social os formandos do curso de Empregado de mesa e bar que foram responsáveis pelo Catering.

Frases:

“O Estado deve refletir sobre a forma como calcula os custos das diferentes respostas”, Pedro Adão e Silva

“Daqui a 20 anos, dificilmente podemos continuar a ter um sistema com a lógica do atual” , Pedro Adão e Silva

“É essencial que as redes sociais descubram os seus caminhos sobre como trazer as pessoas à participação para que o munícipe deixe de ser beneficiário para ser co-produtor da estratégia e políticas sociais”, Nelson Dias

“Talvez seja possível criar um plano de capacitação para os membros da própria rede para manter contacto com outros projetos”, Nelson Dias “O setor público pode fazer a ponte entre o setor privado e o setor não lucrativo”, Nelson Dias

“Lamento que o Estado seja hiper regulador”, Nelson Dias

“Podemos não estar a comunicar da forma correta. Temos de captar as pessoas e, depois, as empresas que têm uma responsabilidade que vai para além do lucro”, João Pedro Tavares.

“Num mundo futuro, quem não trabalhar em rede não vai sobreviver”, João Pedro Tavares. “Temos de nos mover do modelo do “ou” para a cultura do “e”. “Eu e tu”, “Resultados e pessoas”, isto é, introduzir novos modelos como cultura de parcerias e economia de partilha. Temos de mudar!”, João Pedro Tavares

“A Rede Social de Cascais é uma nova ferramenta para resolver os problemas reais das pessoas reais. Gostava que contassem connosco”. Daniel Traça, reitor da Nova SBE

“Quando há mudanças acaba sempre por se exigir que as pessoas se adaptem. Temos de ajudar aqueles que tenham mais dificuldade em se adaptar”, Daniel Traça

 

Cascais Digital

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