Está aqui
Inês Baltazar
Loira, esguia, um toque de rímel, unhas vermelhas e sorriso aberto. Inês não é exatamente o tipo de presença que nos habituámos a encontrar nos que são responsáveis por um trabalho duro e difícil.
Entre peças de carne prontas a ser desmanchadas, balanças e facas afiadas, Inês recebe o ‘C’ numa das manhãs em que, duas vezes por semana, ajuda o pai no Talho Baltazar.
É sexta-feira e enquanto aguarda pela senhora que há de ficar, o resto do dia, a tomar conta da sua filha.
Inês Baltazar deixa tudo carinhosamente preparado para a pequena Madalena: do biberão às minúsculas roupinhas de uma bebé que nasceu prematura e que veste apenas o tamanho três meses. “O nascimento da Madalena foi um tempo complicado, mas é a melhor coisa do mundo”, rejubila Inês.
Ainda não são 09h00, e a talhante já vai a caminho do negócio fundado pelo pai, José Baltazar, e que orgulhosamente exibe o nome da família.
Foi precisamente neste espaço que, com apenas 13 anos, Inês começou a aprender o ofício.
Depois de um ano letivo que não correu como o esperado, o pai achou que os meses de verão passados a ajudar no talho fizessem Inês mudar de ideias, motivando-a a estudar. Enganou-se.
Desde o principio que Inês gostou genuinamente de arte de desmanchar carne, dos cheiros do talho e, claro, de atender e lidar com os clientes.
Depois de perceber que este era o futuro que a filha queria, José Baltazar só impôs uma condição para que Inês pudesse fazer dupla consigo: completar o 12º ano. E assim foi. Até hoje.
Inês é mãe solteira e, como tantas outras mulheres e tantas outras mães, a vertente profissional, no talho na Feira de Tires, é apenas uma pequena parte de uma vida de trabalho que se estende à lida da casa e ao acompanhamento da filha.
Enquanto conversamos, Inês trata da loja, descarrega as carnes, arruma as montras, recebe fornecedores, atende os clientes.Tudo sempre com um sorriso.
A atitude denuncia o gosto com que faz as coisas, apesar de ser um trabalho “exigente e duro fisicamente. Mas já tem clientes fixas, que, por causa do seu ar “doce”, fazem questão de ser atendidas por ela. “Talvez porque tenho outra sensibilidade. Porque sei o que custa em casa ainda estar a partir, desossar e tirar as peles, percebo que ao arranjar as carnes não estou só a fazer o meu trabalho, também estou a ajudar.”
Quanto ao negócio, Inês admite que já viu melhores dias. A culpa, claro está, é de uma velha conhecida de todos: a crise. “Não está fácil. Notamos que a crise afetou muita gente, principalmente os que têm menos.” Mas não é isso que corta os sonhos e dos desejos de Inês.
Para o futuro, ambiciona tirar a carta de aprendiz de cortador, para subir na categoria e chegar a encarregado (1º oficial, topo da carreira de talhante) e, quem sabe, seguir o negócio do pai.
Quanto ao futuro da filha, “se quiser seguir as pisadas da mãe, tem todo o meu apoio. Tem é de ter a noção que é um trabalho duro e difícil.” Mas no fim do dia, só sobra um desejo que Inês personifica: que seja feliz, no que quer que queira fazer.”