António Saraiva é simultaneamente presidente da Cascais Invest e da CIP.
O “C” entrevistou o líder desta associação que confessou a sua paixão por Cascais.
Jornal C (C)- Vamos iniciar a entrevista com uma citação de António Saraiva, “quanto maior é o problema mais serenidade temos para o enfrentar”, ora nós estamos perante uma crise económica. Como é que a “Cascais Invest” pode atuar para ultrapassar esta crise?
António Saraiva (AS)- Os dois grandes motores da economia são o investimento e as exportações. As nossas exportações tiveram nos últimos anos um aumento gradual. Esta realidade está agora seriamente ameaçada. Se os dois motores de desenvolvimento do país são por um lado o investimento, por outro as exportações e se as exportações estão ameaçadas é fundamental que o outro motor, o do investimento, seja acelerado. Mas isso não sucede só porque nós queiramos, com o estalar dos dedos. Isso sucede por ações concretas e se já era necessário antes de a crise atrair investimento, agora isso é fundamental. Daí o aparecimento em tempo oportuno da Cascais Invest, que visa atrair o investimento para o concelho. É através do investimento que se cria riqueza, desenvolvimento e postos de trabalho.
C- Quais são as vantagens acrescidas que o “ brand name” de Cascais tem para poder captar o investimento nomeadamente o investimento externo?
AS- Cascais tem uma tipologia de residentes que engloba grandes investidores e grandes empresários que reconhecem Cascais como um concelho com qualidade de vida e que aqui têm feito os seus investimentos imobiliários. Mas Cascais tem outros ativos. Temos o aeródromo de Cascais/Tires que está em franco desenvolvimento, temos a marina, temos um conjunto de atividades não apenas do ponto de vista do turismo. Diria que há aqui - não quero ser presunçoso na expressão- um clube, uma elite de investidores, que catapultando-nos através deles e nos seus conhecimentos poderemos mais facilmente atrair mais investidores que desenvolvam Cascais
C- O que pode oferecer à Cascais Invest a associação com a Nova SBE?
AS- A ligação é óbvia. A Nova SBE faz parte dos órgãos sociais da Cascais Invest. Foi uma ligação virtuosa que procurámos. O objetivo foi que os associados fundadores tivessem várias competências que agregassem valor para que este projeto. A Nova SBE possui essas valências. Está no concelho e tem essas competências e as mais-valias agregadas podem ser vantajosas.
Cada vez mais a ligação Academia/Empresa e Empresa /Academia é necessária. Esta ligação cada vez mais profunda entre o mundo académico e o mundo empresarial serve para aproveitar essas competências e, desta forma, a aumentar o conhecimento da academia com o conhecimento de saber fazer que as empresas têm.
C- A fiscalidade é um óbice para o investimento em Portugal, haverá forma de tornear esse tipo de problema que é um handicap para o investimento?
AS- Temos de ter essa capacidade inventiva e encontrar, como outros países já o fizeram. Nós se compararmos o nosso IRC com outras geografias, mesmo no espaço europeu, não precisamos de ir para geografias asiáticas ou outras, temos diferentes taxações, nomeadamente no IRC e principalmente nos estímulos ao investimento, naquilo que retemos e investimos. Há aqui todo um conjunto de tipologia de carga fiscal que forçosamente tem de ser alterado.
Por isso, neste duplo chapéu de estar presidente da CIP (Confederação Empresarial de Portugal) e agora também presidente da Cascais Invest, permite-nos articular em termos nacionais e municipais, porque há impostos nacionais e outros de cariz municipal, onde o município pode com as competências que a lei lhe permite ter alguma modulação dessa carga fiscal. É um combate nacional que temos de nos envolver. Vamos sugerir propostas de alteração na perspetiva que o crescimento económico, que todos desejamos se construa com bases que permitam olhar o futuro em condições de atratividade comparativa A Cascais Invest pode contribuir nesse esforço juntando a sua voz a outras vozes para exigir uma política fiscal diferente e previsível.
C - Qual é a sua ligação a Cascais?
AS – A minha ligação a Cascais é muito afetiva. Sou alentejano, nasci no Baixo Alentejo. Vim viver para Lisboa muito novo, com 6 anos. Depois de casar fui viver para o concelho de Oeiras, mas para mim Cascais é uma referência de qualidade de vida, de gostar de viver. Cascais está na minha paixão. Espero tão breve quanto possível poder ser mais um munícipe do concelho. Tenho por Cascais um afeto… nós muitas vezes amamos coisas subjetivas, amamos as empresas que construímos, amamos as empresas onde trabalhamos toda uma vida e amamos uma região, uma localização por razões várias e é esse afeto que me liga a Cascais e, neste sentido, de poder fazer por Cascais aquilo que a minha modesta contribuição possa concretizar.
C – No fundo trata-se de não só de potenciar o concelho da sua capacidade de captação mas também de “vender” o afeto que Cascais pode transmitir junto de potenciais investidores?
AS - Que já o tem, não podemos deixar de reconhecer que Cascais, até pela dinâmica que possui, tem essa enorme capacidade de atração. Mas é possível sempre fazer melhor. É sempre possível adaptarmo-nos aos tempos que vamos vivendo e se lá atrás era fundamental este ou aquele aspeto, hoje mantendo essa valia é necessário dar - vamos dizer - aos clientes “latu sensu”, permanentemente um produto ou um serviço que seja adaptado à necessidade ao gosto ao conforto daqueles que nos procuram.
Hoje há uma oferta que é global, há que diferenciar há que saber diferenciar. Cascais tem um conjunto de valências e capacidade de atração, razão pela qual vivem no concelho 120 nacionalidades diferentes, temos de potenciar mas não podemos maximizar, porque a massificação pode adulterar esta ou aquela questão que é valorizada por aqueles que cá vivem. Temos que nos diferenciar pela qualidade afirmando-nos como destino, como localização que vai ao encontro das necessidades daqueles que procuram essa tipologia de necessidades.
C - As questões ambientais, as alterações climáticas são também as orientações da Cascais Invest?
AS - O crescimento económico tem de ser marcado pela sustentabilidade, com responsabilidade social Um fator diferenciador das empresas para além da qualidade dos seus produtos ou dos seus serviços é a preocupação ambiental. O modelo de desenvolvimento deve assentar em sustentabilidade ambiental e responsabilidade social, porque a falta de responsabilidade social, leva a desigualdades e essas desigualdades são mãe dos populismos e os populismos ameaçam as democracias.
Por isso a empresa no seu modelo de desenvolvimento, no seu plano de negócio deve incorporar esses valores. Diferenciar pelo preço estamos condenados, a Ásia fará sempre mais barato. O modelo de desenvolvimento é por diferenciação, inovação, valor acrescentado, qualidade e a excelência da gestão.
C- Cascais tem dado um exemplo de combate à pandemia…
AS- … excelente, um exemplo excelente…
C- … para salvarmos a economia temos também de ter a segurança. O que temos para oferecer aos investidores tem de ser um local seguro também termos sanitários?
AS - Os investidores têm de ter a garantia do equilíbrio da manutenção da saúde pública e o salvar a economia. É uma equação de difícil gestão mas é esse o desafio que todos nós temos pela frente.
QUEM É ANTÓNIO SARAIVA:
De aprendiz de serralheiro mecânico na mítica Lisnave a presidente da CIP, o mínimo que se pode dizer de António Saraiva é que o mundo do trabalho está-lhe na massa do sangue. O “patrão” da Confederação Empresarial nasceu, em 1953, em Ervidel, distrito de Beja. Veio para Lisboa aos 6 anos de idade, com os pais para fugir à pobreza de um Alentejo marcado pela estagnação social.
Calcorreou os caminhos de muitos operários fabris. Sindicalista e membro da comissão de trabalhadores dos estaleiros navais da margem esquerda. Ascendeu nas empresas e chegou a diretor comercial da Metalúrgica Luso-Italiana SA, do grupo Mello e 10 anos depois, em 1997, adquiriu-a. Com o gosto pela realidade da vida entende que o associativismo é a chave para o sucesso. Eleito presidente da CIP depois da fusão das principais estruturas empresariais portuguesas.
Com desassombro disse um dia aos seus pares empresários que ” temos de sair da caixa e ver que há mundo para elevar as nossas empresas”.
De Cascais afirmou-nos que é uma “referência de gostar viver!”