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Um postal de Latécoère para Gago Coutinho
“Meu caro Gago Coutinho serve este simples postal para reforçar esta nossa velha amizade, mas sobretudo para relembrar aos nossos venturosos descendentes que esta globalização que tanto aclamam afinal muito dependeu do nosso esforço e sobretudo do seu glorioso engenho”. Este texto ficcionado de Pierre- George seria verosímil se ambos fossem vivos e, como habitualmente, se reencontrassem numa qualquer escala dos voos aeropostais da empresa de Latécoère.
Na verdade, recordaria esta semana o Comandante da TAP, Salvador Sottomayor, na placa do aeroporto de Cascais durante a receção às sete aeronaves que viajaram de Toulouse num raid de homenagem aos 100 anos da criação da Latécoère Aeropostal, Gago Coutinho, por quem Latécoère nutria uma profunda amizade, “adaptando instrumentos de navegação que eram usados em navios, designadamente o sextante, conseguiu criar uma espécie de horizonte artificial, possibilitando que os aviões pudessem fazer voos noturnos ou em situações de pouca visibilidade”.
Esse instrumento de navegação, recorda Sottomayor, “é, ainda hoje, a base dos instrumentos de navegação usados nos modernos aviões”. E isso quer dizer que Gago Coutinho, que para além de Almirante da Marinha Portuguesa foi também geógrafo e cartógrafo, deixou para a história da navegação aérea, para além desse grande feito há 97 anos com Sacadura Cabral, da primeira travessia do Atlântico Sul num hidroavião, um instrumento sem o qual jamais Latécoère levaria por meios aéreos o seu correio postal de Toulouse para o resto do mundo. De resto, lembra o comandante da TAP, “Neil Armstrong quando visitou Portugal disse que era impossível ir à Lua sem as invenções do nosso Gago Coutinho”.
Mas a história do amigo de Gago Coutinho é também digna de constar nos livros da História da aeronavegação Mundial. Pierre- George Latécoère que herda do pai a fábrica de material ferroviário, foi convocado, durante a I Grande Guerra, para fabricar peças para a aviação militar francesa. Com paz herdou as sobras desse material, doadas pelo governo francês, e construiu uma frota de aeronaves que iniciaram o transporte aeropostal, primeiro de Toulouse a Barcelona, mas depois até África do Sul e atravessando mesmo o Atlântico Sul. Na história desta grande empresa, que mais tarde daria origem à Air France, constam nomes de grandes pilotos da aviação mundial, como míticos pilotos francesas como Didiet Daurat ou Jean Mermoz ou até o piloto Antoine de Saint-Exupéry, neste caso mais conhecido pela sua obra literária “O Principezinho”, ou uma outra menos conhecido “O voo noturno” que até poderia ser um tributo a Gago Coutinho.
São exatamente as memórias destes e de outras figuras desta grande empresa Aeropostal, em primeira linha o seu fundador George-Phillipe Láctécoère, que este raid pretende gravar na memória de todos, como refere um dos pilotos desta associação, Bernard Mingal: “O objetivo da associação é relembrar os famosos pioneiros que ligaram, pelo ar, França, Europa, África e o Sul da América e nós não os queremos esquecer e queremos torná-los históricos para todos. Estamos a tentar aterrar em todos os sítios que eles aterraram. Nas diversas cidades tentamos fazer eventos culturais e temos livros para as crianças para que se mantenha viva a memória destes pilotos pioneiros”. H.C.