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David Levy Lima
Em 1968, David muda-se para o Murtal e pinta na sua loja-atelier em São Pedro do Estoril. Quem vem pela marginal em direção a Cascais não pode deixar de ver
as telas que, do lado direito se espalham pelo passeio junto a um estabelecimento, logo depois da rotunda que divide São Pedro e a Parede. É a oficina do artista, um espaço recheado de cor e memórias - sob a forma de catálogos de exposições, livros de arte, biografias de pintores, e muitas telas, sobretudo as suas próprias pinturas a óleo, umas de criação própria, outras nascidas por encomenda.
Retratam pedaços de paisagens, as ruas com gente, a enseada da Casa de Santa Maria, as arribas da costa, promontórios, vales e montanhas cabo-verdianas, mas também retratos de músicos, crianças em roda, a baía de Cascais com pequenos barcos, pormenores dos bairros de Lisboa antiga, os elevadores, o Terreiro do Paço visto do rio, cacilheiros…
Em quase todos os quadros há a constância de um azul tranquilo, em vários matizes, completado com pinceladas de cores quentes, traços espessos e finos, que
definem a sua pintura. “Pinto húmido sobre húmido, não deixo secar”, adianta. A desarrumação do espaço onde trabalha, atolado de documentação tão variada, pinceis, telas virgens, frascos, jornais, não intimida os visitantes – muitos estrangeiros - que perguntam pelo preço de um quadro ou questionam o artista sobre o paradeiro de uma tela que lhes ficara na memória. O pintor não sabe o paradeiro de muitas obras, levadas por curiosos e colecionadores que passam por Cascais.
O homem e a natureza formam uma unidade na pintura de David Levy Lima que, em 2010, integrou uma exposição de pintura de artistas de Cabo Verde, patrocinada pelo Ministério da Cultura. O artista plástico é descrito no catálogo como “um pintor de finíssima têmpera que tem trilhado a senda do impressionismo de uma forma magistral e triunfal”. Como se nas suas obras, impressionismo e abstrato funcionassem numa dialética, que advém de uma “técnica apurada e depurada expressividade”, em que uma paisagem humana vista de longe, por exemplo, emite profundidade e perspetiva em infinitos pormenores.
No currículo do pintor não têm conta as exposições individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro. David Levy Lima conta ainda com diversos prémios e distinções, mas guarda com particular emoção o convite que recebeu da China como artista convidado. Durante três semanas recrearam-lhe o ateliê para que desse largas ao talento… No baú das boas memórias David Levy Lima conta a participação em “The art of tolerance” uma exposição coletiva promovida pelo município de Berlim, em que artistas de todos os países pintaram, a seu modo, o famoso urso símbolo da cidade.
Pintura - reforça o artista sobre a expressão das suas telas - “é emoção, sentimento, instinto. Qualquer quadro começa aqui [na mente].” Olham-se as telas e “as escritas, as grafias” do pintor são outras, ainda que o azul permaneça. No processo criativo, há, por vezes, o crivo das obras feitas por encomenda, que o artista não desdenha: “Com as encomendas há uma disciplina interior para abordar os temas que talvez não goste tanto, mas obrigam-me a investigar, a estudar”.
Apesar de várias obras serem vendidas a quatro dígitos, o artista plástico confessa-se “um teso” e justifica: “compro muito material, tenho pavor de não ter material!” . E, não tendo agente (não gostou das duas experiências em que teve) ele próprio trata de toda a logística da arte, passando hoje uns 25% do tempo a pintar. O método é aparentemente simples: o momento, a emoção de cada momento calibra o traço e a paleta do artista, num percurso que
o próprio diz que faz “da generalidade para a especificidade, de uma forma aberta vou traçando uma rota”. Porque o essencial, reflete, “é a determinação em fazer as coisas; porque há quem possa e não queira; e há quem faça mais do que se espera ou que pode, apenas porque quer”.