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O caldinho da sopa na EB de Alvide
Cá fora o rumor corria célere entre a miudagem da EB de Alvide: hoje temos comida japonesa. Japonesa? Nãããã… chi ne sa! Diziam outros. Os mais novos, os da pré-primária, já estavam sentados à mesa e nem sinais de chop suey, nem jeitos de sushi. Então de onde viria este boato. Talvez do cheirinho a gengibre que evaporava daquela sopinha de abóbora.
Abria-se uma nesga da porta e as espreitadelas da rapaziada alimentavam a conversa. Ao longe, aquela sopinha, em tons de laranja, apresentava uns pequenos grãos torrados que ninguém decifrava, mas que era sopa no mel para a divagação do boato.
Mais uma nesga e a sopa sumia das mesas, dando lugar a um prato estranho. Pelo aspeto, todos diriam tratar-se de lasanha. Será comida italiana? Nada mais eficaz que uma fugaz espreitadela para alimentar o tema deste fim de manhã no recreio da escola.
Boatos à parte, esta curiosidade da pequenada é quase sempre uma boa ferramenta na escola. Está mais ou menos para a discência como a fome está para o prato de comida. A sabedoria popular chama-lhe até o melhor condimento.
Alimentemos então a curiosidade, o melhor condimento da pequenada, para matarmos de vez, como convém, a boatice. E, a melhor forma de fazer uma e outra coisa é dar de caras com a fonte. E assim foi.
O projeto e o fim do boato
Hoje era dia de Chefs regressarem à escola, um programa da autarquia que vai já no seu segundo ano e que visa promover hábitos alimentares saudáveis na escola. Desta vez levou Cláudia Mataloto e João Mestre à EB de Alvide. Ninguém melhor do que eles para nos esclarecerem.
“Não alteramos a ementa da escola: Sopa de Abóbora e Jardineira. O desafio foi tornar a ementa mais atrativa e introduzir alguns ingredientes. Especialmente leguminosas e legumes que habitualmente as crianças não estão habituadas a ver no pratoe que são fundamentais para uma alimentação saudável”.
E a sopa era de abóbora? “Sim. Nós só acrescentamos cenoura, para que o creme ficasse um pouco mais adocicado e gengibre fresco e ralado. A particularidade foi a introdução das sementes de abóbora tostadas. Fizemos aqui uma brincadeira com as próprias sementes e a aceitação foi muito boa”.
Então e que jardineira era aquela travestida de lasanha? “Acrescentamos mais ingredientes à jardineira como cogumelos, lentilhas, alecrim (erva fresca), que lhe deram um aroma e um sabor diferentes. Depois, cozemos a batata à parte, fizemos um esmagado, gratinamos e colocamos por cima. A ideia era dar um aspeto de Lasanha”.
Ora aí está! Razão tinham os miúdos. O gengibre deu-lhe o toque asiático a batata gratinada a fazer lembrar a lasanha italiana. Estava desvendado o segredo e desmontados os rumores.
Na verdade a cozinha é uma longa viagem por muitas e variadas culturas que, no fim, termina à mesa num diálogo de sabores. E, “nem de propósito”, lembra Cláudia Mataloto: “o novo projeto da Câmara Municipal de Cascais dedicado à gastronomia designa-se Food Lab e visa incentivar e dinamizar toda a parte gastronómica do concelho, não só o receituário local, mas também divulgar o receituário português e do mundo”. Assim, revela, “Cascais vai passar a ter um espaço a partir do final deste ano (2019), no Mercado da Vila, onde todos são convidados a participar”.