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A Chef dos sorrisos na Escola dos abraços
Na verdade, os miúdos não mendigavam abraços. Pelo contrário, distribuíam-nos com agrado. E isso é mágico. Afetuosamente brincavam. A Laura e a Anita num canto do recreio trocavam pequenos ícones desta sua infância, unicórnios por exemplo, talvez amuletos de amizade. Ansiosas pelo almoço perguntavam: O que é o almoço? Ninguém desvendava o mistério que haveria de se transformar em magia. Esse segredo, e a magia também, estava nas mãos da Rita Camoesas, uma jovem Chef que distribuía sorrisos com a mesma facilidade com que receberia os abraços das crianças.
Ora, o Diogo bem espreitava pelo canto da porta do recreio, mas não via mais do que mesas postas. De paparoca, nada. Até que convidamos a Carolina a visitar a cozinha. Foi o bom e o bonito. O grupo reuniu-se em volta da Carolina dando-lhe instruções. Afinal a Carolina estava a ser legitimada como representante de todo o recreio para uma tarefa deveras importante. E assim foi, lá saiu Carolina imbuída do espírito de missão: saber o que se preparava na cozinha da escola.
No corredor de acesso ao refeitório os recados eram muitos e todos dirigidos à Rita e afixados na parede. O Nuno aconselhava: Se fosse Chef fazia pizza com camarões e polvo! Já a Maria Dias sugeria: Se fosse chef preparava feijão com arroz! E a Sofia preferia esparguete com almôndegas. A Rita e o seu colega Tiago Pereira, mais a Iulia Sieraia e o Francisco Afonso tinham lido todas as recomendações e tinham decidido: Hoje o peixe assiste de cadeirinha ao almoço da pequenada, porque nós decidimos que será a perna de peru e batatas aos sorrisos. Batatas aos sorrisos? Que raio de batatas são essas? Questionamos nós. A Rita nada desvendou, apenas sorriu… e, não é que num ápice as batatas desataram a separar-se como gomos de laranja, com casca. E depois, caídas no tabuleiro na verdade, eram autênticos sorrisos. Sorrisos rasgados de batata com casca. Ficamos espantados. Como pode ser? Não sabemos como, mas tínhamos assistido a um momento de magia. Ali, à nossa frente, perante o sorriso da Rita, as batatas partiam-se em sorrisos, como se quisessem responder ao sorriso da Rita. E assim, lá iam, sorridentes, para o forno, depois de regadas de azeite e polvilhadas de orégãos.
Indiferente ao momento, o Francisco e a Iulia batiam um molho de Iogurte e alho enquanto o Tiago, depois de massajada a perna de Perú com um preparado mágico, era metida no forno juntamente com as batatas. Bem podemos dizer que a magia só ia a meio. A Iulia Sieraia é ucraniana, de Odessa, e é pasteleira, aluna como todos os outros, da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. Iulia não era de sorriso fácil. De resto, fazendo jus ao apelido, Sieraia que, em ucraniano, significa cinzento. Ora, o bolo que meticulosamente preparava com iogurte até parecia não augurar nada de bom. Sem sorrir, Iulia lá ia manipulando produtos de colher em riste. Só que, antes de o bolo entrar no forno, Iulia largou um sorriso imenso, parecia o último toque de pasteleira antes que a obra se concluísse. E que sorriso bonito tinha Iulia.
Já Carolina tinha regressado ao recreio, depois de saborear uma das tais batatas sorriso já molhadas na molhanga que o Francisco preparara. Foi logo engolida pelos colegas: O que vamos comer? Perguntava a Leonor; Não me digas, vai ser peixe…? Questionava o Tiago. Carolina não respondia, parecia encantada por algum feitiço, até que, com um sorriso rasgado largou: Ai… aquela batata…
E ficaram todos a saber que, pelo menos, batata havia de ser e que seria muito boa pela reação da mensageira.
É, então, chegado o momento de a rapaziada entrar no refeitório. Os mais novos primeiro e depois os mais velhos. Todos saiam sorridentes, os pratos ficavam vazios e o João confessava-nos à saída: Até comi sopa de crescidos…! Ora, a sopa tinha sido obra da Nelita, a cozinheira da escola, que decidira juntar grão com espinafres e apresentar um caldo sem ser previamente triturado. Apesar dos piores receios de rejeição à textura do legume, a rapaziada mastigava tudo, poucos eram os que deixavam os espinafres ao lado do prato. Aquilo era magia, desabafava Nelita. A sobremesa da Iulia era o último toque. E a rapaziada confirmava a força do sorriso de Iulia a sobremesa esgotou e a pequenada não se fez rogada envolvendo a Chefe Rita dos sorrisos a doce Iulia e os mágicos Francisco e Tiago num tremendo abraço.
A Quinta de Brejos juntava-se à manhã mágica oferecendo à Chef e ajudantes um grande cabaz de legumes, frescos, e a pedirem mais uma manhã na escola.