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Sanjit “Bunker” Roy: «O modelo “barefoot” monstra que é possível mudar através de recursos mais baratos, mais eficientes e mais transparentes»
Pode falar-nos um pouco sobre o “Barefoot College”? Porquê “barefoot” (pés descalços)?
Simbolicamente, muitos homens e mulheres andam descalços na Índia. Isto simboliza conhecimento e capacidades tradicionais, mas que não são respeitadas. É uma faculdade porque é um local de aprendizagem e “desaprendizagem”. É uma faculdade onde o professor é o aluno e o aluno é o professor. É uma faculdade diferente porque não oferecemos qualquer certificado ou diploma. É a comunidade que deve certificar o que se aprendeu. Eu acho que é esta abordagem que torna a “Barefoot College” única.
Acha que é possível trazer esta abordagem para os países ocidentais?
Não, porque estão muito presos às qualificações. Mas as qualificações escondem incompetência. Mesmo depois de qualificadas há pessoas desempregadas em muitas partes do mundo. Não estou triste por isso, porque acho que o modelo “barefoot” é muito mais necessário no Terceiro e Quarto Mundos, porque estes locais estão a ser destruídos pelos investimentos ocidentais. O modelo “barefoot” demonstra que é possível mudar através de recursos mais baratos, mais eficientes e mais transparentes.
O Barefoot College também investe e acredita nos idosos. Qual é o potencial destas pessoas?
Os idosos são a trave mestra de uma sociedade. Se for a aldeias em qualquer lado do mundo, são os muito velhos ou os muitos novos que lá estão. O nível intermédio desapareceu para ir à procura de trabalho. Por isso aposto neles, nos idosos, porque sei que as suas competências ficam lá e são transferidas. Tornaram-se exemplos perfeitos para as pessoas. A verdade é que nunca pensamos que uma avó possa tornar-se um exemplo numa aldeia, parece-nos impossível. Pelo menos em África podemos mostrar que é possível.
Se em Portugal quiséssemos aplicar apenas um dos princípios do “Barefoot College”, deveria ser através da aposta nos mais velhos? Seria uma maneira de mudar as coisas?
Claro, devem começar pelas coisas mais simples. Mas sejam consistentes. Não desistam apenas porque falham uma vez. Tendemos a desistir depressa. Quanto mais longe chegamos nas nossas qualificações menos coragem temos para tentar coisas novas. Porque ninguém gosta de mostrar que falhou.