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“É preciso re-imaginar e reinventar a Europa”

“Visões antigas e românticas do que significa ser europeu já não funcionam”. Palavras de jovens líderes de diferentes áreas de formação e intervenção, que hoje se reuniram em Cascais, no European Young Leaders (EYL40), encontro de jovens europeus. Entre as respostas à pergunta “É tempo de repensar a democracia?”, os jovens foram unânimes: sim. E sugerem a criação em todos os estados membros da EU da disciplina escolar “Cidadania Europeia” que, desde a mais tenra idade, permita encorajar mais coesão e união social.
Foto: EYL 2017/ Francois de Ribaucourt
 
A dois meses da realização das Conferências do Estoril que colocará mais uma vez o concelho no centro do debate entre Porto Alegre e Davos, Cascais foi um dos locais escolhidos pela Friends of Europe para o encontro bianual de Jovens Líderes Europeus que, ao longo ano, mais se destacaram em toda a Europa. “Não podiam ter escolhido um melhor local”, defende Ricardo Batista Leite, vereador da Câmara Municipal de Cascais, deputado à Assembleia da República e médico. “É sinal que o nosso concelho está numa plataforma internacional. É reconhecido como um local de encontro, como foi sendo, aliás, ao longo da história. Um local de diálogo, de abertura e esperemos nós um local de esperança num futuro melhor para uma Europa que vive um momento particularmente difícil em termos de identidade e de ligação entre os seus Estados-Membros”. Para Ricardo Batista Leite, também ele um jovem líder, são de esperar desafios enormes, mas o futuro da Europa está condicionado por “estes jovens da geração Erasmus que conhecem a importância de ir além-fronteiras, de trabalhar em equipa, em consórcio, e de construir um projeto de âmbito europeu.
 
Mais do que repensar a democracia, os jovens europeus reunidos por dois dias em Portugal, primeiro em Lisboa, na Assembleia da República, e depois no concelho, no Centro Cultural de Cascais e Salão Nobre dos Paços do Concelho, acreditam que é preciso re-imaginá-la e reconstruí-la, deixando de lado o discurso de ódio rácico que tem vindo a dominar a política. “Será este o princípio de uma primavera Europeia?” questionou-se Luís Marago, diretor de campanha da Avaaz.
 
Depois do Brexit e do turbilhão político provocado pelas eleições norte-americanas, aos jovens líderes europeus foi pedido que analisassem o modelo vigente e dessem os seus contributos. A moderar o debate esteve Dharmendra Kanani, diretor de estratégia da Friends of Europe.
 
Tiberu Pfiszer, ativista romeno anticorrupção a trabalhar na área das tecnologias da informação, considera, por exemplo, inevitável o confronto direto com o poder instalado. “Perante a aprovação de leis que visavam despenalizar crimes de corrupção num governo eleito por apenas 18% da população fomos para a rua”, partilhou. “E valeu a pena, pelo menos em parte. Uma das propostas de lei foi retirada e a outra adiada”. Alertando para o perigo do alheamento, que faz com que as taxas de abstenção sejam cada vez maiores, Tiberu Pfiszer afirma: “é preciso estar atento. Hitler foi eleito”. Por isso defende propostas capazes de dar mais poder ao povo como 100.000 assinaturas para impedir que uma lei seja aprovada no parlamento: “a democracia é uma tarefa de todos, mas só democracia não chega. Para haver poder tem de haver união o que implica tolerância e envolvimento”.
 
Mas “onde está o limite entre ouvir mais as pessoas e o populismo?” questionou-se Kirsten Brosbol, membro do parlamento dinamarquês, que enquanto ministra do ambiente (2014) promoveu o desenvolvimento de soluções sustentáveis e o desenvolvimento industrial, com vista ao crescimento de postos de trabalho na Dinamarca.
 
Num polo oposto e sem acreditar na confrontação, Zanda Kalnina-Lukasevica, secretária de Estado para os Assuntos Europeus do parlamento de Latvia, mostrou-se preocupada com a concentração dos media e com o surgimento de movimentos políticos radicais. Sublinhando a importância da “tolerância e da diversidade”, num mundo cada vez mais atreito a conflitos que têm por base a migração dos povos em busca de melhores condições de vida, a jovem parlamentar de Latvia, diz mesmo: “se nós não acarinharmos estes princípios corremos o risco de os vermos usados por movimentos políticos radicais para os diminuírem e restringirem. Precisamos de uma sociedade civil mais preocupada e responsável”.
 
Igualmente defensora de uma maior participação da sociedade civil enquanto solução para o futuro de uma Europa mais unida, Inês Arrimadas Garcia, líder da oposição no parlamento Catalão, aponta também o dedo à concentração dos Media: “é crucial ter Media independentes”. Mas na sua opinião, faz também falta haver uma “melhor comunicação dos políticos”, pelo que defende um modelo em que haja maior representatividade, mas também maior responsabilização e transparência.
 
Eleni Anoniadou, biomédica co-fundadora da “Transplante sem dadores”, aproveitou o debate para por o dedo na ferida: “as campanhas políticas atualmente são sobre quem domina melhor as tecnologias para controlar os outros. É a verdade mesmo relevante?”
 
Ponto assente entre todos, ao longo de uma manhã dedicada à necessidade de repensar a democracia, é que é urgente haver mais educação para as pessoas perceberem melhor o que lhes é dito.  Que é como quem diz, referiu um dos jovens líderes presentes que se apresentou como cidadão do mundo: “desmitificar a treta”.
 
E, aproveitando a presença de jornalistas no seio do grupo, os jovens salientaram em geral o facto de, hoje em dia, com as redes sociais, qualquer um pensar que pode ser jornalista. Mas não é. Daí a propagação, difícil de evitar, de notícias falsas. “É preciso que as pessoas saibam que estão sujeitas à falsidade. Não devem acreditar em tudo o que ouvem, ou leem. Devem procurar mais fontes e, se o discurso e os factos baterem certo, então sim, acreditar”.
 
A segunda parte do encontro em Cascais serviu para dinamizar grupos de trabalho específicos sobre o Trumpismo e as relações EUA-EU, que decorreu no Centro Cultural de Cascais, e sobre o Brexit, que teve lugar no Salão Nobre dos Paços do Concelho.  A tarde, mais livre, incluiu uma visita à DNA Cascais, onde os jovens líderes europeus puderam avaliar no terreno o trabalho dos jovens empreendedores de Cascais. O dia termina com um jantar com o Presidente da República no Palácio da Cidadela de Cascais.
 
Quem são estes jovens líderes europeus? | Com membros de várias origens, o grupo integra, por exemplo, o turco Ozan Yanar, deputado no Parlamento da Finlândia, o inglês Owen Jones, ativista político e colunista no “The Guardian”, Mehdi Hasan, jornalista e pivot da Al Jazeera, o Maestro espanhol Eduardo Portal, o britânico Denis Macshane, ex-Ministro para os Assuntos Europeus, Carlos Moedas, Comissário europeu, o basco Eneko Atxa, 3 estrelas Michelin, Kirsten Brosbol, deputada na Dinamarca, o romeno Manuel Costescu, Secretário de Estado para o Investimento Estrangeiro, a austríaca Muna Duzdar, Secretária de Estado, ou Davor Tremac, Director da UBER integram o European Young Leaders’ (EYL40).
 
Sobre o EYL40 | Programa único, inventivo e multi-stakeholder que visa promover a identidade europeia através da participação de jovens talentos promissores em iniciativas que moldarão o futuro da Europa. É apoiado por prestigiadas fundações, como a Fondazione Cariplo ou a John S. Latsis Public Benefit Foundation. É organizado sob o patrocínio de Jean-Claude Juncker, Presidente da Comissão Europeia, e do Conselho dos curadores da Friends of Europe. Os Jovens Líderes Europeus são cuidadosamente escolhidos por um comité presidido por uma personalidade europeia e constituído por ex-alunos do Programa EYL40 -  os representantes da fundação e os curadores da Friends of Europe.
 
 

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