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CE 2019 | “Hoje os muros existem na cabeça das pessoas”

As repercussões das guerras mundiais tiveram um efeito perverso na forma como os indivíduos concebem a justiça e a paz, e a sectorização ideológica potenciada pela cortina de ferro ainda hoje é sentida. Porque novos muros são hoje erguidos por todo o mundo, devemos ponderar a possibilidade de os atores políticos colocarem as suas diferenças de lado, de forma a chegar a um consenso relativamente a questões fundamentais de justiça global. Devemos questionar-nos sobre o que pode ser feito para expor a retórica demagógica por detrás do discurso de ódio, ao mesmo tempo que procuramos soluções para as necessidades concretas das pessoas. Mas o que mudou realmente desde os eventos trágicos do século XX e desde a queda do Muro?

Para as oradoras convidadas para o painel “Novos muros no 30º aniversário da Queda do Muro de Berlim”, pouco mudou. Partilhando as suas histórias pessoais com a audiência do Hovione Atrium na Nova SBE, a opinião generalizada é de que os muros continuam, tristemente, a ser os mesmos, só que agora são mais invisíveis.

“Os muros de que estamos a falar hoje são muros que existem nas cabeças das pessoas”, afirmou Svetlana Alexievich, Prémio Nobel da Literatura 2015 (Bielorrússia). Ainda assim, o seu maior desconsolo é o silêncio e a submissão do povo a um regime totalitário: “Quando se ouve na televisão falar mal do mundo ocidental e o povo fica em silêncio é porque concorda com isso e isso assusta”. Apelidando o regime comunista de “tentação muito manhosa”, a escritora lamenta o medo e a subjugação a que o povo do seu país foi submetido: “Na Bielorrússia quando se pergunta porque votam em Putin, ouve-se muitas vezes: “e queriam o quê, que ardêssemos como na Ucrânia?””.

Daí que não tema em afirmar de forma categórica: “hoje as ratazanas é que reinam e as nossas elites não tem ideias sobre como viver com ratazanas”. Natural da Letónia, e Presidente da República da Letónia 1999-2007, Vaira Vike-Freiberga, que exerce hoje o cargo de presidente do Clube de Madrid, passou grande parte da sua vida adulta fora do seu país: “Tinha 6 anos quando saí do meu país, tinha 60 quando regressei a um país livre”. E, ainda assim, os muros persistem pelo que não resiste a fazer a comparação: “o capitalismo não é um sistema perfeito, mas permite às pessoas expressarem-se. Não é como o comunismo que é uma relação sadomasoquista que permite a submissão às autoridades”.

Ketevan Tsikhelashvili, Ministra do Estado para a Reconciliação e Igualdade Cívica da Geórgia, aproveitou a audiência das Conferências do Estoril para denunciar os abusos do poder do Governo russo que “apesar dos compromissos e tratados assinados, não quer saber…”. Ketevan Tsikhelashvili partilhou a sua frustração por ver “que as questões humanitárias foram feitas reféns da política”. Indo mais longe, a governante afirmou mesmo que “os direitos humanos são completamente ignorados na Geórgia”, havendo mesmo uma tentativa de “russializar” a população de bairros da Geórgia “através da distribuição de passaportes russos ilegais”. Daí a Geórgia manter viva aquilo que define como “cruzada para integrar a União Europeia: é o nosso grito por liberdade”, conclui. Para contrariar o atual “status quo”, Ketevan Tsikhelashvili, deixou clara a sua fé na educação, através do programa “Step to the future”, e nas relações internacionais: "Acredito no poder de um aperto de mão. Demole muros visíveis e invisíveis.”

“Entre 1989 e hoje muitas coisas aconteceram, talvez a primeira seja o impacto do 11 de setembro e claro, a crise financeira de 2008. Tudo isto mexeu com as nossas sociedades, com os cidadãos e com os seus valores”, recordou Maria Elena Agüero, Secretária-Geral do Clube de Madrid (Cuba). Ainda assim, a responsável admite que “se olharmos para o que está a acontecer com a democracia vemos que há índices, como por exemplo o economist democracy índex do ano passado que nos está a dizer que receamos que a democracia esteja em declínio e alguns de nós acreditamos nisso, como eu”.

Partilhando da visão pouco otimista das suas colegas de painel, Maria Elena Agüero – Secretária-Geral do Clube de Madrid (Cuba), concorda que “o mundo está a mudar rapidamente”, porém realça ser “triste que, quando nos perguntamos sobre o que aprendemos é pouco. Os valores que adotámos estão ameaçados”, reforça.

 

CONFERÊNCIAS DO ESTORIL | Organizadas a cada dois anos, com o compromisso de promover debates racionais e escolhas informadas, as Conferências do Estoril vão na sua sexta edição procuram soluções locais para desafios locais. A organização da edição 2019 está a cargo do Estoril Institute for Global Dialogue, Câmara Municipal de Cascais e Nova School of Business and Economics com a parceria de diversas entidades e voluntários (mais info)

 

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