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CE2019: "Façam perguntas. Façam melhor. Façam barulho"
O debate abriu com o lema “Mudar o mundo através da educação”. O auditório montado no átrio principal da Nova SBE, completamente cheio de jovens cuja média de idades rondava os 25 anos, silenciou-se ao ouvir a história de vida de Ahmad Nawaz. O jovem ativista paquistanês é um dos poucos sobreviventes ao ataque terrorista dos Taliban, ocorrido em 2014, na escola que frequentava no Paquistão e onde foram brutalmente assassinados 150 estudantes, entre os quais o seu irmão mais novo. Gravemente ferido, Nawaz foi levado para o Reino Unido para recuperar do ataque, tornando-se um ativista em projetos de sensibilização dos jovens contra a radicalização e crimes de ódio e encoraja os jovens a serem agentes de mudança.
"Antes de mudar o mundo é preciso valorizar o que temos. Depois passamos à ação, os jovens devem usar o poder que têm"
O jovem ativista prestou o seu testemunho direto sobre o verdadeiro papel da educação para combater problemas globais, como o terrorismo, a fome, as desigualdades, a crise ambiental e a pobreza. “ O ataque à nossa escola foi um ataque à educação e ao potencial que a educação representa. Os terroristas sabem que é mais fácil radicalizar pessoas que não receberam educação”, afirmou Ahmad que referiu o facto de que na região onde aconteceu o ataque cerca de 30% da população é iletrada.
Ahmad deixou um apelo aos jovens presentes: “ Antes de avançarmos para a ação de mudar o mundo, devemos valorizar aquilo que temos e as oportunidades que nos são oferecidas, nesta parte do mundo onde estamos”.
" No mundo ocidental, os jovens gozam de uma atenção e um poder muito superior em relação a outras partes do mundo. Pelo que vocês têm a obrigação de dar voz às pessoas a quem lhes é negado o direito à educação e a serem ouvidos, disse o jovem paquistanês que emocionou a audiência
" As Conferências do Estoril dão empoderamento à juventude portuguesa"
Pedro Espírito Santo, representante da União Europeia na Cimeira de Jovens Líderes do G20 em Tóquio, que aliás está a decorrer em simultâneo com as Conferências do Estoril, e no rescaldo das Eleições Europeias, apontou o perigo do nacionalismo para o projeto europeu e congratulou-se com o cartaz que que hoje se pode ver à porta do Parlamento Europeu “ De novo a Europa resiste”. O jovem líder que falou, via Skype, de Tóquio para as Conferências do Estoril, salientou, ainda, que “os tópicos discutidos aí em Cascais são os mesmos que estão a ser debatidos aqui em Tóquio, na Cimeira de Jovens Líderes do G20”, sublinhando por isso a importância destas Conferências “no empoderamento da juventude portuguesa no debate global”.
Para Pedro Espírito Santo, o projeto europeu é baseado na liberdade em todas as suas formas, mas “nestes tempos de incerteza”, as liberdades estão ameaçadas por quatro tiranias: A tirania do óbvio, a tirania do medo, a tirania da indiferença e a tirania da inação.
“Temos que deixar de ser ativistas de Facebook e procurarmos um maior envolvimento social e politico. E é aí na participação cívica que a educação desempenha um papel fundamental”, garantiu o jovem líder que atribui à educação o papel de desenvolver “novas competências que sejam capazes de trazer os problemas dos jovens para a agenda da narrativa política”.
Pedro Espírito Santo terminou com um apelo aos jovens” Devemos tentar mudar o mundo. Se não nós quem? Se não agora, quando?”, acrescentando que “ Devemos ser audazes, radicais, para querer mais. Deveríamos criar uma nova escola para o futuro; Uma escola para ensinar a questionar tudo”.
Teresa Bonvalot, muito aplaudida pelo público mais jovem, acrescentou ao debate a sua experiência de surfista profissional. Com a carreira iniciada muito cedo, a jovem surfista referiu que a educação não se aprende só na escola: “ Fui obrigada a viaja sozinha desde muito cedo, por todo o mundo, pelo que tive que crescer e amadurecer mais depressa que os jovens da minha idade”. Teresa Bonvalot inspirou a audiência ao referir que ter saído da sua zona de conforto e conhecido diferentes formas de viver, a obrigou a valorizar mais o que tem e a pensar que “tudo é possível com querer e esforço”.
" Eu não quero likes. Quero envolvimento"
No painel que se seguiu - “ Apoiar os changemakers” - para Pedro Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal, “ É preciso devolver confiança aos professores e aos alunos sobre a importância da educação quando queremos tornar o mundo melhor” e deixou a questão “ O que podemos fazer para cumprir os nossos deveres perante as novas gerações?”.
Pedro Neto emocionou a audiência quando apresentou a história de um rapaz angolano que em poucos dias aprendeu a dizer uma frase em português: “imaginem se ele vivesse aqui, se ele pudesse estudar”.
“ Eu não quero likes, quero envolvimento”, apelou Pedro Neto aos jovens presentes, acrescentando que “ Temos de aproveitar a educação, aprender o mais possível. Unam pessoas e ideias”.
Mais do que respostas foram também as grandes questões globais colocadas hoje aos educadores que saíram do terceiro painel desta Cimeira da Juventude.
Para Pedro Almeida, Cofundador da Teach for All Portugal, a grande questão que se coloca, no que se refere à educação, é que “ falhámos perante as crianças e jovens menos privilegiados. O sistema não está construído para que as crianças de todos os estratos sociais tenham as mesmas oportunidades”.
Por isso, é preciso não só dar voz aos jovens como instigar a que os jovens façam uso do seu poder e que usem essa voz, apesar de não ser “trendy” o engajamento político e pensar nos outros, como referiu Pedro Espírito Santo.
A manhã terminou com um grande apelo de José Maria del Corral, Diretor Mundial de Scholas Ocurrentes, a todos os presentes : “ Façam perguntas, façam melhor e façam barulho”. (PL)
CONFERÊNCIAS DO ESTORIL | Organizadas a cada dois anos, com o compromisso de promover debates racionais e escolhas informadas, as Conferências do Estoril vão na sua sexta edição procuram soluções locais para desafios locais. A organização da edição 2019 está a cargo do Estoril Institute for Global Dialogue, Câmara Municipal de Cascais e Nova School of Business and Economics com a parceria de diversas entidades e voluntários (mais info)