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Guincho: uma praia que é uma Maravilha
As ondas e o vento são perfeitos para os amantes do surf, bodyboard e kitesurf. Os cerca de 800 metros de areal convidam a estender a toalha e relaxar, enquanto se contempla o intenso azul do mar. Para lá chegar não é preciso carro: pode ir de bicicleta. Um conjunto de dunas escondem a beleza da praia, em jeito de proteção. E há um parque de campismo por perto para quem quer pernoitar por estas bandas. Estamos a falar do Guincho, vencedora do concurso “Sete Maravilhas, Praias de Portugal”.
PÉROLA DOS DESPORTOS DE VENTO
Encravada entre dois picos rochosos, a Ponta Alta e a Ponta do Abano, está a praia do Guincho. O facto de estar em pleno Parque Natural de Sintra-Cascais, muito próximo da serra, dá-lhe um toque único: o vento que ali se faz sentir ao longo de quase todo o ano torna esta praia perfeita para a prática de desportos radicais, como o surf, windsurf e kitesurf. É por isso que a praia do Guincho está na final do concurso nacional “Sete Maravilhas, Praias de Portugal”, na categoria “Praia de uso desportivo”.
O Guincho é frequentemente palco de eventos europeus e mundiais na área dos desportos relacionados com o vento, sendo um dos destinos mais procurados pelos melhores atletas. A título de exemplo, este ano já se realizou ali a segunda etapa da Liga MEO Prosurf 2012 (abril), o Bodyboard Fest (maio) e a primeira etapa do Kite Surf Pro (junho).
GUINCHO: A HISTÓRIA DESTA PRAIA DAVA UM FILME
Ou melhor, deu vários. A verdade é que a história do Guincho confunde-se com o cinema. E ao longo de décadas, a praia do Guincho não se limitou a ser um irrepetível cenário natural: a praia foi atriz principal das mais variadas tramas. Mas, como nos filmes, comecemos pelo início da história. Lá, no final do século XIX a Boca do Inferno, com o Guincho ao fundo, foi o cenário do primeiro filme português ao estilo “Lumiére”: “A Boca do Inferno” foi gravado em 1896 pelo operador de câmara inglês Henry W. Short e foi projetado a 29 de Setembro do mesmo ano no Colyseu de Lisboa. Há medida que os anos foram passando, e beneficiando com a afirmação do Estoril “Riviera Portuguesa”, o Guincho foi conhecendo uma clientela cada vez mais aristocrata. A turbulência política na Europa, as guerras e as perseguições, fize-ram de Cascais um concelho com mais reis sem coroa do que hotéis de cinco estrelas. Atrás deles, e da localização estratégica de Portugal, vieram agentes secretos de um lado e do outro da barricada. O mundo da espionagem daria a Cascais uma aura de glamour e de fascínio inigualável. Não tardaria até que, em 1969, Harry Saltzman e Albert R. Broccoli escolhessem o Guincho como teatro de operações do menos secreto de todos os espiões: 007. Em “James Bond – Ao serviço de Sua Majestade”, a aventura de Bond (George Lazenby) começa com uma perseguição na estrada do Guincho e termina já na praia, onde Bond acaba por salvar a Condessa Tereza de Vicenzo (Diana Rigg). Walt Disney, Jean Renoi, René Clair, Zsa Zsa Gabor, Leslie Howard, Max Ophuls ou Orson Welles, são outros dos nomes grandes da Sétima Arte que, de uma forma ou de outra, deixaram o seu nome para sempre gravado no passeio da fama da Praia do Guincho.
CICLOVIA DO GUINCHO É A MAIS ANTIGA DE CASCAIS
Mas o Guincho não se resume a praia, ondas, areia e vento. Os quase nove quilómetros que ligam a Marina de Cascais ao Guincho podem ser percorridos de bicicleta, através de uma ciclovia onde o cenário de fundo é pintado por um misto de verde e mar. Quem decide fazer o passeio na ciclovia mais antiga de Cascais passa por alguns pontos de interesse a não perder, como a Boca do Inferno (caracterizada pela sua imensa caverna aberta em terrenos com cerca de 150 milhões de anos), o Farol da Guia (que data do século XVIII) ou o Forte S. Jorge de Oitavos (recentemente reaberto ao público, após um período de requalificação). O melhor de tudo é que para fazer este passeio não é obrigatório ter bicicleta. A Câmara Municipal de Cascais disponibiliza as “bicas”, e um dos postos para levantar estas bicicletas fica na Avenida Nossa Senhora do Cabo, na Guia. Durante o verão o posto está aberto todos os dias, das 8h00 às 20h00.
DA DUNA PARA A PRAIA SEM UM GRÃO DE AREIA NOS PÉS
Agora há uma forma diferente de desfrutar da praia do Guincho sem sujar os pés com areia: os passeios interpretativos da Duna da Cresmina levam os visitantes a percorrer passadiços sobre-elevados até à praia. Atravessando a flora e fauna locais, mas sem destruir a biodiversidade, este percurso é guiado por painéis de informação que dão a conhecer animais e plantas que habitam na Duna, tornando-a num ecossistema ímpar. Esta é a única zona de reserva integral do Parque Natural de Sintra-Cascais, ou seja, é uma área com grau de proteção máxima.
No entanto, até há pouco tempo a Duna da Cresmina era visitada sem qualquer cuidado: pisoteio, passeios equestres e passagem de viaturas todo-o-terreno destruíam o sistema dunar e algumas populações vegetais e animais. Aliado a este facto a ação dos fortes ventos estava a desestabilizar a Duna, verificando-se um avanço das areias em cerca de dez metros por ano para Sul, começando a invadir o Parque de Campismo, o Clube D. Carlos e até mesmo a estrada do Guincho.
Com o objetivo de normalizar a situação e preservar a biodiversidade local, a Câmara Municipal de Cascais iniciou em 2010 uma intervenção no local, um projeto inserido na Rede de Visitação e Interpretação do Parque Natural de Sintra-Cascais, que conta com financiamento do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional para 2007/2013.
A intervenção passou pela instalação de paliçadas na areia para fixá-la, plantação de vegetação nativa e colocação dos passadiços sobre-elevados de madeira, que ligam as dunas à praia, numa vista de tirar o fôlego.