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Conferências do Estoril ambicionam criar âncoras no mundo

“As Conferências do Estoril vão estender-se aos países lusófonos e cruzar cursos com universidades de todos os continentes com quem têm parcerias estabelecidas”. O anúncio foi feito por Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais e será tema do terceiro dia deste encontro internacional. As Conferências do Estoril, prosseguem até dia 22 de maio, no Centro de Congressos do Estoril.

 

Discurso de Abertura das Conferências do Estoril 2015
Carlos Carreiras, Presidente da Câmara Municipal de Cascais


 "Minhas senhoras e meus senhores,
Cidadãos de todas as nações e de todos os povos do mundo, dentro e fora deste auditório,
Aceitem uma calorosa saudação de boas vindas às Conferências do Estoril.


Muitos de vós repetem a presença neste espaço. E por isso já são parte da grande família de Cascais.
Há, todavia, muitos outros que só agora se juntam a nós como oradores, convidados ou na condição de participantes na 4ª Edição das Conferências do Estoril, nesta sala, no fim da rua ou do outro lado do mundo.
Pretendemos, e temos conseguido, que as Conferências sejam uma zona livre de preconceitos, quaisquer que eles sejam.
Levamos esta máxima muito a sério o que faz das Conferências, muito provavelmente, o único fórum global onde um chefe de estado e um ativista político, um homem de negócios e um estudante, partilham o mesmo palco em igualdade de circunstâncias. Se, como nós acreditamos, todos os homens são criados iguais, as Conferências são o espaço onde todos se devem sentir igualmente envolvidos.
As Conferências são pois um espaço para a reflexão plural e civilizada. Têm-se afirmado por isso ao longo dos anos como uma reserva de conhecimento que nos acompanha e aconselha num mundo cada vez mais voraz. As Conferências são o nosso manifesto contra a ditadura do imediato. Por outro lado, as Conferências, ainda que não tirem a fotografia completa, captam uma parte muito importante da identidade e do espírito de Cascais.
A nossa prosperidade, como povo e como território, foi construída em cima da diversidade, do respeito e do mútuo entendimento. É na diferença que sempre encontrámos a complementaridade.
Esses valores foram testados pelas mais duras circunstâncias, sem que nunca deles tivéssemos abdicado. Mesmo nos dias de escuridão, os nossos valores constituíram território sagrado que permitiu aos homens e mulheres de bem encontrar em Cascais uma cidadela de paz e de liberdade.
A história de Cascais é uma história acolhimento, de entendimento e de humanidade. É uma história de paz assente na boa vontade. É por isso que as Conferências hoje não são apenas do Estoril. Em bom rigor elas são muito mais do que um lugar.
As Conferências são de todos os que, independentemente da língua, do credo ou da nação, sentem e vivem o mundo como nós o sentimos, como nós o vivemos, a partir da identidade de cada um.
Quero, antes de prosseguir, dirigir-me a algumas pessoas muito especiais a quem devo uma palavra.


Começo por quem ocupou o palco antes de mim, Don Tapscot, que acaba de nos deixar pistas para um debate estimulante. Na pessoa de Don Tapscot agradeço a todos os oradores que aceitaram o convite para se juntarem a nós neste diálogo sem fronteiras.
Ao Professor António Rendas, reitor da Universidade Nova de Lisboa e parceiro da Câmara de Cascais na criação da NOVA SBE em Carcavelos, através de quem saúdo todos os parceiros académicos das Conferências do Estoril que muito têm feito para a nossa afirmação global. Por último, ao meu colega Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais, que é a cara de uma vasta e talentosa equipa de colaboradores que, ano após ano, têm respondido ao desafio de acrescentar valor ao valor por todos já reconhecido a este evento.

Desde a primeira edição das Conferências, em 2009, que temos pensado e explorado as dinâmicas de um movimento omnipresente na nossa vida coletiva: a globalização.
Apesar de termos sido nós, os portugueses, os mais que prováveis primeiros globalizadores.
A globalização é um processo complexo e que é o produto de diversas variáveis como as tecnologias de informação, o progresso científico, a cultura ou o comércio. Porém, a era da globalização teve na sua origem dois fundamentos essencialmente políticos: a crença nos mercados e a inevitabilidade democrática.
Francis Fukuyama, que vamos ouvir mais à frente nestas Conferências, assinou um dos mais influentes ensaios do último quartel do século XX. Nele sustentava que com a desintegração da URSS, o mundo inaugurava o “Fim da História”, isto é, “o ponto final da ideologia da humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como a fórmula final do governo humano”. Ora se a última década do século XX é a década do fim da história, a segunda década do século XXI apresenta-se como o fim do fim da história. É a década da ressurreição da história.
Olhamos à nossa volta e os sinais de que os pilares políticos da globalização estão em crise são evidentes. As crises provocadas por um capitalismo amoral, criminoso, abalaram a confiança na ideia benigna de mercado livre. Meia dúzia de gananciosos, colocaram em sofrimento milhões de cidadãos, em Portugal e no Mundo.
E quanto à democracia, as primaveras árabes, as guerras no leste da Europa ou no seu flanco sul mostram que o sistema democrático está longe de ser uma aspiração partilhada por todos.
A democracia não é, ou não parece ser, afinal de contas, um desfecho inevitável para todas as sociedades. Mas pior do que isso: a democracia já não parece ser sequer inevitável nos países onde era dada como adquirida. A culpa é tanto dos inimigos internos quanto dos inimigos externos, sendo que o maior de todos os inimigos da democracia é a ignorância. E nem sequer é preciso sair da Europa para encontrar sinais de uma perturbadora crise da democracia que se traduz no afastamento dramático entre eleitores e eleitos, na limitação de direitos humanos, no condicionamento do pensamento e da expressão livre, na vigilância sem regras ou na xenofobia e no ódio que substituíram os programas de governo.

É para mim claro que a democracia está em recessão. Que a ideia de mercado livre está em recessão. A questão que se coloca é a de saber se a globalização, tal como a conhecemos, sobrevive ao esvaziamento dos seus valores civilizacionais. V.S. Naipul dizia que a civilização ocidental era a “civilização universal” porque “serve todos os homens.” Eu defendo, e não estarei longe se disser que quem está nesta sala e os muitos milhões que estão lá fora defendem posição semelhante, que cada homem deve ser livre de escolher o seu próprio destino. E, defendendo os meus valores, a minha cultura e a identidade nela fundada, desejo uma coexistência pacífica entre povos, países e civilizações. É por isso que entendo que a melhor resposta ao enfraquecimento da globalização deve ser dada pela glocalização – assim mesmo, com um ‘C’, glocalização. Do particular para o geral, de baixo para cima, do local para o global. É esta a fórmula que nos deixa uma hipótese de influenciar o curso da história.
Há boas razões para acreditar que é a proximidade que faz dos cidadãos o motor para uma transformação positiva guiada pelos princípios da cidadania, pelos princípios que estão vertidos na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. É a proximidade dos cidadãos na cidade que cria um ciclo de reciprocidade assente na tolerância da diferença: o exercício da politica numa base local e regional é fonte de identidade para as pessoas, e as pessoas determinam a identidade da cidade.
Apesar de todas as suas idiossincrasias, é na cidade, portanto, que se tomam consciência dos direitos, que se gera um sentimento de humanidade comum. Acrescento ainda que as cidades são os maiores laboratórios democráticos do planeta. A realidade localista da cidade aproxima, escrutina e testa soluções novas para novos e velhos problemas. Isso revigora a democracia. Se a reinvenção da democracia está a acontecer, ela está a ser feita a partir das cidades e das regiões, não dos Estados e muito menos das estruturas supranacionais, que não sendo escrutináveis dificilmente serão democráticas.

Por fim, as cidades são palco dos mercados mais vibrantes, das inovações mais surpreendentes e dos negócios mais sustentáveis. É através das cidades e das regiões que, pelo desenvolvimento de políticas públicas de proximidade, podemos cumprir uma nova ordem policêntrica, respeitadora da universalidade da dignidade humana, dos valores contidos e aceites na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. A oportunidade, na minha opinião, mora exatamente aí. Está provado que não existe nenhuma Ordem Mundial duradoura.
E quando ainda falta globalizar os direitos humanos, a liberdade, a igualdade e a dignidade da vida humana, quando ainda há tanto por fazer no mundo, seria trágico que a globalização se resumisse ao negócio sem regras, ao lucro que só visa os fins e ignora os meios para o alcançar, ou ao poder discricionário de meia dúzia em prejuízo de um todo. Como sou otimista militante, eu acredito que pode ser através da gloCalização que podemos renovar o conteúdo político e moral da gloBalização.
Não estou certo, nem pretendo, que todos os que estão desse lado partilhem desta minha utopia.
Aliás um dos maiores défices do nosso tempo é o défice de utopia. De utopia que nos faz sonhar e através da qual cada um de nós faz uma viagem transcendente, ascensional, levando consigo as comunidades que são o berço de cada ser humano. Como é tradição nas Conferências, podemos apenas concordar em discordar uns dos outros. E não tenhamos nunca medo de o dizer cara a cara. O medo não cabe aqui. É por isso que o muramos, que o combatemos, que o denunciamos como Mia Couto o fez neste palco em 2011 apontando o dedo a quem “tem medo que o medo acabe.”

 


Para terminar, deixo-vos com outro conselho presciente e inspirador de quem também faz parte da família das Conferências do Estoril: “Ou vencemos juntos, ou falhamos isoladamente”, avisou-nos Mohamed El Baradei. Porque a GloCalização é o movimento feito pelas pessoas, com as pessoas e para as pessoas, a escolha está mesmo nas nossas mãos.

Muito obrigado e sejam todos muito bem-vindos às Conferências do Estoril, sejam muito bem-vindos a Cascais."
Carlos Carreiras
Cascais, 20 de maio de 2015

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