Poema com uma sonoridade única, "Os medos" de José Cutileiro fala da história da censura literária em Portugal.
Um tempo evocado neste 25 de abril, com banda sonora de Fernando Lopes-Graça.
"É a medo que escrevo. A medo penso,
A medo sofro e empreendo e calo.
A medo peso os termos quando falo.
A medo me renego, me convenço.
A medo amo. A medo me pertenço.
A medo repouso no intervalo
De outros medos. A medo é que resvalo
O corpo escrutador, inquieto, tenso.
A medo durmo. A medo acordo. A medo
Invento. A medo passo, a medo fico.
A medo meço o pobre, meço o rico.
A medo guardo confissão, segredo,
Dúvida, fé. A medo. A medo tudo.
Que já me querem cego, surdo e mudo."
José Cutileiro, “Os medos” in Versos da mão esquerda, 1961.