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História contada
Duas reuniões em Cascais foram pontapé de saída para a Revolução, mas o concelho já tinha sido palco de momentos importantes na resistência ao regime.
No dia 5 de março de 1974, o chão do 1.º andar do N.º 35 da Rua Visconde da Luz quase ruía com o peso de 197 oficiais. Na verdade, o chão não ruiu, mas ruiria o regime um mês e 20 dias depois. Segundo o Coronel António Rosado da Luz, na altura capitão do CIAC e um dos presentes neste mini plenário, este encontro em Cascais “acelerou todo o processo”.
Uns meses antes, na Casa da Cerca, em S. Pedro do Estoril (24 de novembro de 1973) os oficiais tinham realizado uma reunião alargada a tenentes-coronéis e outras patentes mais elevadas e onde, pela primeira vez se refere a palavra Revolução, definiram-se alguns dos princípios que seriam depois consagrados no Programa do Movimento das Forças Armadas. Mas, na sequência da reunião de março, o presidente do Conselho, Marcelo Caetano, convocaria todos os oficiais generais das Forças Armadas, da Brigada do Reumático, momento em que as chefias deram a sua concordância à política colonial de Marcelo Caetano. Três generais não vão estar presentes neste beija-mão e são de imediato demitidos. Foram eles os Generais Costa Gomes, António de Spínola e o Almirante Tierno Bagulho.
Cascais ficava por isso na rota deste Movimento que haveria de libertar Portugal do regime ditatorial e há, na opinião do Coronel António Rosado da Luz, uma boa razão para que Cascais fosse o lugar escolhido para tão importantes encontros: “Na altura todos os capitães do CIAC e todos os subalternos do quadro permanente estavam envolvidos no Movimento”.
De resto Cascais havia já sido escolhido para muitas dos momentos de resistência ao regime, designadamente casas clandestinas onde o Partido Comunista Português realizou dois congressos, um deles com delegações de partidos comunistas estrangeiros e por onde passaram muitos dos seus mais históricos dirigentes, designadamente Álvaro Cunhal, após a célebre fuga de Peniche.
A oposição ao regime assumia contornos diversos e, por exemplo, nas artes é incontornável o nome de Fernando Lopes Graça. Aquele que é considerado um dos maiores compositores e musicólogo português do século XX tem toda a sua obra exposta no Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria, em Cascais.
CMC/HC