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Rota Literária de Cascais
O jardim Visconde da Luz seria, por certo, o local mais desaconselhado para um encontro entre Rosa Infante, a Viscondessa da Luz, e o escritor, poeta e dramaturgo Almeida Garret, numa relação amorosa secreta. Sobretudo porque aquele local doado pelo dito Visconde de Nossa Senhora da Luz, era demasiado público mesmo no século XIX. Porém, dois séculos depois, foi mesmo lá que os fomos encontrar, representados por dois figurantes do TEC e salvos e livres pelo anacronismo, de encontros indesejáveis. É que este é um dos pontos da Rota Literária que António Ribeiro, aluno da Escola Superior de Hotelaria e Turismo, desenhou no âmbito de um estágio de mestrado que a Câmara Municipal de Cascais lhe faculta em parceria com a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Mas a Rota começa exatamente na porta de entrada de forasteiros na Vila, desde 1898, a Estação Ferroviária de Cascais. Por ali chegaram, ao longo dos últimos dois séculos, os mais ilustres escritores e poetas pelas mais variadas razões e paixões.
Ramalho Ortigão, por exemplo, fica ligado à praia da Duquesa, não por uma paixão impossível, mas pela apaixonada abordagem do tema “As praias de Portugal: guia do banhista e do viajante” e a Cascais regressou para aturadas tertúlias dos Vencidos da Vida, na companhia o seu amigo e aluno Eça de Queirós, com o qual, aliás, haveria de escrever “As Farpas” e o “Mistério da Estrada de Sintra”.
De Eça voltar-se-á a falar quando, em frente ao Museu Condes Castro Guimarães, ligado a Branquinho da Fonseca e a Fernando Pessoa, por razões diferentes, passarmos pela Casa de S. Bernardo, local onde, a convite do Conde Arnoso, Eça passava temporadas e reunia Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro e o conde de Sabugosa.
Em plena Baía de Cascais, a Maria Amália Vaz de Carvalho encontrou refúgio numa fase mais dramática da sua vida, na Vila D. Pedro, residência que lhe fora cedida pela Duquesa de Palmela. E, do outro lado, a Calçada da Assunção (atual Rua Marquês Leal Pancada), uma rua inspiradora para Alberto Pimentel, frequentador assíduo da doçaria da Antiga Casa Faz-Tudo, particularmente das areias e Joaninhas de Cascais.
Mais ao lado, na Avenida Dom Carlos, a Chalet Leitão, onde o escritor Ruben A. passava as suas férias de Verão e onde se reunia com Almada Negreiros, António Duarte e Barata Feyo.
E, por último, a Boca do Inferno onde uma rocambolesca “novela” do encenado desaparecimento ficcionado do astrólogo inglês Aleister Crowley, serviu de inspiração a Fernando Pessoa para o romance policial “A Boca do Inferno”.