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Reportagem - Programa Oficina Social

Quando a diferença entre uma vida cheia de dificuldades e o bem-estar depende de pequenos arranjos no interior de uma habitação o ideal é chamar a Oficina Social. Desde o lançamento do programa, 44 famílias já beneficiaram desta ajuda, num investimento municipal que ronda os 170 mil euros.

Boletim C nº 4

Texto e Fotografia - Fátima Henriques e DR

Criado há três anos pela Câmara Municipal de Cascais em parceria com várias instituições de solidariedade social e o Centro de Reabilitação de Alcoitão, o Programa Oficina Social destina-se a apoiar munícipes de parcas possibilidades na realização de pequenas obras em casa que melhorem a sua qualidade de vida. Entre os parceiros há as entidades gestoras, as operacionais e ainda o Centro de Medicina de Reabilitação que providencia apoio técnico quando há adaptações maiores a levar a cabo. O segredo é o trabalho em rede: todos estão identificados com cada situação e comunicam entre si através das fichas de caracterização pormenores como números de telefone e qual a melhor hora para a visita ao domicílio - preciosidades que poupam tempo e garantem maior eficiência na implementação da Oficina Social.

Em regra são os parceiros gestores, instituições que têm a seu cargo o apoio social traduzido na forma de Serviço de Apoio Domiciliário quem recebe os pedidos para estas pequenas obras. As técnicas lidam com os munícipes todos os dias e o facto de já conhecerem os beneficiários facilita o processo, ajuda a vencer, nalguns casos, certos constrangimentos. Ganha-se tempo e ultrapassam-se barreiras. Os parceiros operacionais –  ABLA, Associação de Beneficiência Luso Alemã e "O Nosso Sonho", Cooperativa de Ensino e Solidariedade Social – encarregam-se de levar a cabo as obras no mais curto espaço de tempo para que todos fiquem realmente a ganhar com este programa. Dispõem, para isso, cada um, de uma carrinha-oficina oferecida pela Câmara onde transportam ferramentas, materiais e as peças de substituição para cada pequeno serviço.

Sonho realizado
"Para mim, a obra que aqui fizeram é um sonho realizado. De 0 a 20 teve um impacto de 20 na nossa vida", começa por contar Ilda, 76 anos, residente na Rua Egas Moniz, no Estoril. A entrada em cena da Oficina Social na vida de Ilda e do marido Joaquim aconteceu em Janeiro deste ano e teve por base o Centro Social e Paroquial de S. Pedro e S. João. "Sabíamos das dificuldades criadas pela doença do Sr. Joaquim e das limitações, sobretudo para conseguir tomar banho. A partir daí fez-se o pedido para a Oficina Social e, como a casa é arrendada, a participação da senhoria foi muito importante", explica Margarida Pinto, técnica que acompanha e conhece bem a família.

Nos últimos anos, a doença de Alzheimer trouxe várias limitações ao marido Joaquim, particularmente após uma queda e fractura do colo do fémur que o levou à cama por uns tempos. "Isso foi há três anos e, desde aí ele sempre teve muito medo de entrar na banheira. Para lhe dar banho era um caso sério e ele vivia muito infeliz", recorda, sem saudade, a mulher. Na obra levada a cabo pela ABLA e que ficou pronta em Março deste ano, adaptou-se a casa de banho para que Joaquim pudesse tomar banho numa cadeira própria, sem medo de cair e o resultado está à vista: "agora ele adora tomar banho. Foi uma coisa muito boa!", diz Ilda com emoção. Prevendo os efeitos do passar dos anos, a obra contemplou ainda a retirada da porta, que passou a ser de correr e conta agora com um vão mais largo, capaz de deixar passar, se preciso for, uma cadeira de rodas. A Câmara assumiu 50 por cento do valor investido e a família o remanescente, assegurando a senhoria o custo não previsto de substituição da canalização já a acusar o desgaste dos anos.

"São pequenas mudanças como estas que podem proporcionar uma maior qualidade de vida que nos deixam muito satisfeitos", adianta Margarida Pinto, evocando outro caso, ainda mais simples, em que a substituição do autoclismo que estava colocado junto ao tecto por outro rente ao chão permitiu devolver a dignidade de ir sozinha à casa de banho de uma munícipe, cuja mobilidade passou a estar condicionada ao uso de uma cadeira de rodas.

Quando a intervenção é pequena, o tempo entre o pedido e a execução é muito menor, chegando a ser de dois a três dias. É o caso da substituição da lâmpada e da torneira pedida por Paulo Jorge, 49 anos, acompanhado pelo Lar de Idosos do Penedo e a residir em Matarraque. Um acidente vascular cerebral sofrido há sete anos afectou-lhe gravemente a mobilidade. A casa teve de ser adaptada, mas há sempre pequenas reparações: "esta torneira dá muitas voltas e ele não a consegue abrir e fechar sozinho facilmente ", explica Germano Arcanjo - o operacional destacado pelo "O Nosso Sonho", ou simplesmente, o Sr. Germano. "Vou também voltar a colocar o fio da televisão que foi colado e já está solto da parede".

A obra é curta e, enquanto decorre, há tempo para falar com Luís Neves, responsável de "O Nosso Sonho", entidade operacional que se encarrega dos pedidos das freguesias de S. Domingos de Rana e de Alcabideche. "Este pedido foi-nos encaminhado apenas há poucos dias pelo Lar de Idosos do Penedo, mas por que já conhecemos o Sr. Paulo de intervenções anteriores e, como a reparação está dentro do pequeno valor estabelecido pela Câmara, podemos avançar desde já, justificando, a seguir, com as facturas correspondentes, o valor global debitado à entidade gestora. Para Luís Neves, "o Programa Oficina Social é muito bonito. Com pequenas obras torna as tarefas do dia-a-dia mais seguras e mais cómodas aos seus beneficiários". Classificando o que se faz no âmbito deste programa "como um trabalho de formiguinha", o técnico acrescenta: "apesar de exigir pouco investimento à autarquia, induz muita felicidade às pessoas que dele usufruem!"

E as intervenções já realizadas dão que pensar. "A idade pode desmotivar as pessoas a tratarem das suas coisas", alerta Luís Neves, daí a importância de poderem contar com a ajuda da Oficina Social. "Lembro-me de um caso de uma senhora idosa apoiada pelo Centro Comunitário de Tires, a viver sozinha, na zona de Trajouce, que tinha de sair de casa para ir à casa de banho". A casa era um anexo (mal)adaptado para habitação e a casa de banho era num outro anexo, ao lado, mas com acesso só pelo exterior. "Com uma pequena intervenção ligámos as duas partes, transformando uma janela numa porta interior, pusemos a funcionar a máquina de lavar roupa que não tinha instalação eléctrica e arranjámos o soalho que, de tão estragado, dava acesso a roedores que vinham de um celeiro abandonado na vizinhança. Substituímos também a porta da rua, tão ratada que estava. Era um caso preocupante de saúde pública". Outra obra acompanhada pela Misericórdia de Cascais permitiu melhorar as (más) condições de habitação num esconso onde a água corrente para a habitação estava numa torneira no quintal: "fizemos uma puxada de água para dentro de casa, forneceu-se e instalou-se um lavatório, uma sanita e também a própria  porta de entrada e a senhora ficou felicíssima", conta Luís Neves. Problemas que se prendem com o uso de anexos para habitação. "Em Cascais a edilidade conseguiu resolver o problema das barracas. Agora temos de resolver o dos anexos, onde as pessoas vivem em condições sub-humanas", declara o técnico de "O Nosso Sonho".
Noutra visita, por iniciativa do CAD-Centro de Apoio ao Deficiente, a uma casa situada no Largo de Santa Bárbara, no Outeiro, S. Domingos de Rana, o cenário é preocupante. Maria Antónia, 65 anos, recebeu no correio o folheto de divulgação da Oficina Social e encheu-se de coragem. "Fui pessoalmente falar com a assistente para contar o meu caso", revela, ansiosa. Acusando o passar dos anos, 44, a viver neste mesmo sitio, o telhado da casa bifamiliar ameaça ruir. Barrotes partidos, telhas caídas, infiltrações graves na cozinha, e corredor: "quando chove, encho de água aqui uma lata de tinta das grandes em pouco tempo. Não posso cozinhar e tenho medo de acender a luz", conta, afirmando: "não gosto do Inverno porque chove cá dentro e fico com o coração apertado!"

Maria Antónia vive sozinha. Longe vão os 17 anos, quando veio para ali estrear a casa. Hoje conta com poucas ajudas e é a vizinha Benvinda que lhe acode nas refeições do dia-a-dia: "Para onde é que ela vai? Com uma reforma tão pequena, e ainda renda, água, gás e luz para pagar?"
Neste caso as preocupações são ainda maiores porque, tratando-se de uma casa arrendada será do senhorio a obrigação de fazer a obra q esta’ distante. Mas as rendas baixas fazem adivinhar um processo complicado. "Aquele folheto é uma espécie de passaporte para a felicidade, mas quando as questões se prendem com o direito privado pode resultar numa desilusão", lamenta Luís Neves, que ali fez o levantamento necessário para desencadear o processo. Para todos os efeitos, sempre que necessário, as instituições gestoras encaminham os munícipes para os recursos existentes na comunidade em termos de aconselhamento jurídico e que passam pelo protocolo de colaboração entre a Câmara e Ordem dos Advogados, havendo ainda a possibilidade de obter apoio jurídico nas juntas de freguesia de Alcabideche, Carcavelos, Parede e S. Domingos de Rana.

Um Programa que também gera emprego
Para além da ajuda a quem mais precisa, o Programa Oficina Social proporciona muitas vezes, através dos parceiros operacionais, emprego a desempregados de longa duração. Nos primeiros seis meses fazem formação em posto de trabalho, depois asseguram um contrato de um ano, renovável por igual período. É o caso de Germano Arcanjo com 52 anos, enquadrado pelo O Nosso Sonho é atirado para o desemprego após o fecho da Euronadel, na Abóboda, onde era chefe de manutenção, no turno da noite. A sua dedicação e vontade de fazer coisas úteis fizeram dele alvo dos mais rasgados elogios: "inventa, reaproveita e recria para fazer muitas coisas com pouco dinheiro".

Empresa de inserção
No caso de "O Nosso Sonho" a resposta pode ir ainda mais longe, tão longe quanto as encomendas de trabalhos sempre sujeitos a orçamentação previa que nos chegam e justifiquem. Esta empresa de inserção IMPULSUS – Multi-objectivo está vocacionada para pequenas obras públicas como a recuperação de recreios nas Escolas, calçadas, placas toponímicas, instalação de parques infantis ou pequenas reparações de todo o tipo de manutenção pedidas pelos Agrupamentos de Escolas e que dão emprego a mais quatro desempregados de longa duração.

Quem pode beneficiar da Oficina Social?
Moradores no concelho de Cascais idosos ou em situação de dependência, em que o rendimento do agregado familiar seja igual ou inferior ao Salário Mínimo Nacional. O valor suportado pela Câmara varia de acordo com os rendimentos da família.

A ter em conta:
Se a casa é arrendada, qualquer intervenção carece de autorização do senhorio.
Se se tratar de um prédio, as obras podem exigir autorização do condomínio.
Se precisar de apoio legal (jurídico ou judiciário) gratuito, consulte a delegação de Cascais da Ordem dos Advogados (oacsc@mail.telepac.pt) ou as juntas de freguesia de Alcabideche, Carcavelos, Parede e S. Domingos de Rana.

Ver mais sobre o projeto aqui 

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