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Mattia Denisse expõe na Casa das Histórias Paula Rego
Toda a sala 0 de um dos mais emblemáticos equipamentos culturais do Bairro dos Museus de Cascais vai ser ocupada pelo conjunto de 257 desenhos a cores realizados numa multiplicidade estilística que vai da figuração à simplificação esquemática.
Estas obras são um prolongamento da Histórias Assímptotas do Homem Sem Cabeça, da Mulher Geométrica, do Macaco e da Morte, trabalhos iniciados anteriormente, mas, remetem também, para outras histórias que co-existem e são expostas em paralelo, com diferentes graus de proximidade, sem qualquer lógica sequencial.
Apesar da sua génese completamente distinta, estas histórias acabam por se contaminar, abrindo a possibilidade de uma “promessa narrativa” conduzida pelo próprio autor que surge, repetidamente, representado com e através do seu duplo (doublé).
É esta projecção fantasiosa, personagem algo fantasmática, e mutável na sua função narrativa, que assume múltiplas facetas em diferentes histórias: de conferencista-erudito prestes a revelar o sentido do universo a primitivo selvagem; de jogador de xadrez a escritor ou geógrafo. O duplo reflecte apenas uma ideia transversal à exposição que poderia ter como subtítulo “Ensaio sobre o estrabismo de Deus” ou a ideia de que atrás de um universo está um outro universo, ou a duplicação do primeiro universo, e deste por outro, e por aí adiante.
Estes registos diversificados partem das múltiplas referências “literárias”, da geografia, da antropologia, da cabalística, da mitologia e da filosofia, que estruturam o vasto território criativo do artista.
Matthe Denisse: Nasceu em França em1967, mas nunca se sentiu de nenhum lado. Viajou pela Europa e África.
Em 2006, experimenta a insularidade em Cabo Verde, o que vai transformar profundamente o seu trabalho. Nesse país realiza três instalações: “Paisagem Inacabada”, “A Continuação” e “O Vulcão Invertido” que, paradoxalmente, utilizam os meteoros como substâncias. Nesta vida insular onde o tédio é uma condição sine qua non do destino, escreve e desenha, que são, para ele, dois meios de passar, com o mínimo de intermediários, de um pensamento a qualquer coisa.
Em 2008 e 2009 trabalha exclusivamente o desenho. Começa três ciclos, “As Ilhas Desertas”, “Engrama” e “As Conferências, ensaios de ontologia topológica”. Uma personagem solitária comete actos enigmáticos na paisagem e improvisa estratégias de comunicação com o que é. Encontramos nestes desenhos traços de processos de instalação e reminiscências de trabalhos anteriores.