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CE 2019 | O que tem o socialismo do séc. XXI na América do Sul de particular?

A manhã, nas Conferências do Estoril, encerrou com um painel de luxo. O debate sobre o “Socialismo do século XXI: lições da América do Sul? O debate aconteceu com Luís Alberto Lacalle, Presidente da República Oriental do Uruguai 1990-1995; Carlos Mesa, Presidente da República da Bolívia 2003-2005; Jorge Quiroga, vice-presidente (1997 até 2001) e presidente (2001-2002) da Bolívia; e Miguel Otero, jornalista e Diretor do El Nacional (Venezuela).

O que é que o socialismo do século XXI na América do Sul tem de particular? Para nos responder a esta pergunta Luís Alberto Lacalle começa por recorrer à História de algumas das nações que integram aquele continente.

Tudo começou com Fidel Castro que incendiou o entusiamo de muitos jovens que julgaram que o único caminho era a Revolução. “Daqui chegou-se aos regimes autoritários e às ditaduras militares que causaram muitas mortes, tortura, roubos e violação dos direitos fundamentais”, referiu Lacalle.

A queda do muro de Berlim foi apontada pelo Presidente do Uruguai como um marco na mudança de estratégia do socialismo na América Latina. A ideia foi a de utilizar os mecanismos democráticos, como as eleições, para chegar ao poder, em vez da luta armada e da guerrilha.

“ Os novos mentores do socialismo, utilizaram as eleições para se elegerem, mas uma vez chegados ao poder, trataram de destruir os mecanismos democráticos e mudar a Constituição, para legitimamente se perpetuarem no poder, esvaziando as leis constitucionais e acabando com a independência do poder judicial”, explicou o antigo Presidente.

A alteração de leis para perpetuação dos mandatos legítimos e o esvaziamento de poder das instituições democráticas, assim como a difusão das doutrinas socialistas através das instituições culturais e artísticas existentes como as universidades, os meios de comunicação social, o teatro e outras, para depois contagiarem toda a sociedade, foram os instrumentos utilizados pelo poder para disseminar a doutrina socialista no Uruguai, exemplificou Luís Alberto Lacalle.  

Com é que é possível que este socialismo se torne dominante no conjunto das 20 nações que compõem esta região?

Carlos Mesa procurou responder a esta questão, afirmando que “o socialismo do século XXI legitima o poder de uma forma democrática, mas uma vez dentro da democracia, começa a destruir as instituições democráticas na sua essência, através da prorrogação ilimitada dos mandatos que mantêm os mesmos no poder durante décadas”.

Essa legitimação no poder não é contestada pela população porque, segundo o antigo Presidente da Bolívia, a abundância de recursos naturais energéticos trás prosperidade económica. Sem abundância económica não é possível alcançar esses resultados. “ Este não é um debate de como promover a inclusão ou combater a pobreza, mas um debate sobre a mentira destas ditaduras que dizem: só destruindo os valores democráticos é possível a prosperidade económica”, afirmou Carlos Mesa.

 Por sua vez, Miguel Otero, cujo jornal foi impedido de circular na Venezuela, através do boicote de fornecimento de papel feito pelo governo, traz-nos um retrato negro da atual crise no seu país:  “Na Venezuela não há um governo socialista, o que lá se passa nada tem a ver com o socialismo. Há é crime organizado e grandes associações criminosas a agirem com o aval do poder público”, garantiu o jornalista venezuelano.

“Toda a cocaína que chega à Europa provém da Venezuela. O regime protege o narcotráfico e tem parceria com a guerrilha colombiana. OS radares de deteção de droga estão desligados e os funcionários são coniventes com o tráfico e a corrupção”, salientou Miguel Otero.   

O jornalista referiu, ainda, que a Venezuela se transformou no país mais inseguro do mundo, “com cerca de 35 mil assassinatos por ano” e afirmou: “ O regime utiliza os delinquentes para controlo social, forçando a que a classe média abandone o país para manter a população mais pobre sob controlo”.  

Miguel Otero explicou como funciona o controlo repressivo do regime: Os chamados Coletivos são paramilitares pagos pelo governo sem qualquer tipo de organização legal. Estas forças armadas disseminam a cultura do medo, avançam sobre todo o país e exercem um com controlo rígido sobre a população para evitar os protestos e as manifestações. Este é um fenómeno único na América Latina”, referiu o jornalista.  

“ A crise na Venezuela não é uma questão de derrubar uma ditadura, mas de crime organizado. Os indivíduos querem unicamente manter-se no poder e não tem nada a ver com socialismo. Estão dispostos a deixar o povo morrer de fome para se perpetuarem no poder”, concluiu Miguel Otero.

Também para Jorge Quiroga, ex-Presidente da República da Bolívia, a questão da Venezuela não passa por “acabar com uma ditadura, mas acabar com um regime criminoso” e faz um apelo: “ A comunidade internacional tem de criar uma frente unida e única de resgate á Venezuela.”

Para tal não basta que a comunidade internacional reconheça Juan Guaidó como legítimo Presidente da Venezuela, “é preciso fechar o cerco porque ser neutro significa que estamos a tomar o partido dos opressores”, garantiu Jorge Quiroga.

Em conclusão, do debate saiu a ideia de que não há socialismo sem democracia que é o instrumento basilar da construção de sociedade com respeito pela liberdade individual e coletiva. Pelo que "o socialismo do século XXI que existe na América Latina não é socialismo, mas a apropriação das instituições democráticas para legitimar as ditaduras, a repressão e a corrupção"

“ Falar do socialismo com ditadura faz parte de uma grande mentira histórica que foi revelado depois da queda do muro de Berlim”, afirmou Miguel Otero. (PL)

 

CONFERÊNCIAS DO ESTORIL | Organizadas a cada dois anos, com o compromisso de promover debates racionais e escolhas informadas, as Conferências do Estoril vão na sua sexta edição procuram soluções locais para desafios locais. A organização da edição 2019 está a cargo do Estoril Institute for Global Dialogue, Câmara Municipal de Cascais e Nova School of Business and Economics com a parceria de diversas entidades e voluntários (mais info)

 

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