Está aqui
CE 2019 | As lições do passado
“Sou muito europeísta, muito ibérico e muito otimista” começou por dizer José Luís Zapatero, ao congratular-se com o resultado das últimas eleições europeias em que 2/3 se pronunciaram com claridade pela Europa.
Zapatero explicou porque é que é um europeísta:
“ Se a Europa não construir um projeto de mais união e integração, vai tornar-se num velho continente que murcha e que em 20 ou 30 anos ficará para trás, em relação a países como a China ou a India”.
Mas, para isso, disse Zapatero, é necessário avançar mais nas políticas de integração, em áreas como a coesão social, o desenvolvimento, a segurança, as migrações e que respondam às mudanças tecnológicas.
“ A Europa tem que ter a capacidade de se expressar no mundo como uma voz uníssona”, sublinhou o antigo Primeiro- Ministro da Espanha.
Também o ex-Presidente da Comissão Europeia não comunga do pessimismo que grassa naqueles que profetizaram a implosão do Euro e a saída da União Europeia por parte da Grécia, quando da crise das dívidas soberanas.
“ Também quero entrar para o clube dos otimistas anónimos”, exclamou Barroso, acrescentando, contudo, que “apesar da grande resistência da Europa, não quer dizer que esteja tudo bem. A União Europeia não é perfeita, nem o são as instituições europeias”.
José Manuel Barroso, traçou um retrato realista do mundo global: “ Vivemos um mundo complexo, com uma China cada vez mais afirmativa, uma Rússia mais agressiva e uns EUA imprevisíveis.”
Por isso, afirmou “ Precisamos de uma Europa mais unida que proteja os seus valores”.
Mas, para que a Europa consiga cumprir o seu papel e tornar-se relevante no panorama mundial, há que falar a uma só voz. Já que face a mercados globais como o chinês, só nos podemos impor à escala europeia. E sublinhou: “A União Europeia tem que avançar porque a globalização exige mais Europa”
Contudo, José Manuel Barroso admitiu limites no que se refere ao projeto Europeu: “ Há limites na questão de politização da União Europeia. Nós não somos os Estados Unidos da Europa. Não podemos transpor diretamente para a União Europeia, os mecanismos e as instituições democráticas próprias dos estados membros.”
“ Somos um projeto de paz e isso é o bem mais sagrado mas se queremos manter a prosperidade temos que harmonizar os Estados e as instituições europeias”
E quais são as áreas em que a Europa tem de exigir mais integração, sob pena de sermos ultrapassados por outros países emergentes da Ásia? O ex-Presidente da Comissão Europeia respondeu:
“ Temos que concluir a arquitetura do euro porque um dia virá uma nova crise financeira e temos que estar preparados, mas também é exigida uma política mais integrada no que se refere às fronteiras, à migração e à segurança comum, assim como um maior investimento nas tecnologias do futuro e da inteligência artificial”.
A necessidade de um mercado único digital foi também apontado como uma urgência porque não é possível enfrentar a globalização se tivermos 28 regulamentações diferentes nessa matéria.
Sobre as dificuldades de pedir aos Estados membros mais integração e menos soberania, José Manuel Barroso sublinhou: “ Temos de ter a inteligência coletiva de conciliar as diferentes culturas nacionais num projeto comum, preservando as diferenças. E para que isso aconteça é preciso uma liderança forte”, acrescentando que “ Somos uma união de democracias e as decisões dependem de consensos e em certas matérias de unanimidade. Isso é por vezes, frustrantemente lento”.
Miguel Pinto Luz, vereador da Câmara Municipal de Cascais e moderador deste debate lançou a questão quente:
Estariam disponíveis para aumentar a contribuição dos Orçamentos nacionais para um orçamento europeu mais robusto e dar um passo mais adiante na defesa comum?
Para Zapatero, não podemos nunca duvidar dos nossos principais valores europeus da democracia do pluralismo, da independência do poder judicial, da integração dos migrantes, uma sociedade aberta em relação ao mundo nas vertentes económica, cultural e social.
“Ninguém nos vai levar a sério se não formos capazes de defender a Europa e os valores da Europa”, conclui o ex-Primeiro Ministro espanhol.
Para o Ex-Primeiro Ministro de Portugal, os partidos tradicionais nem sempre foram capazes de colocar na agenda as grandes questões que preocupam os europeus, sobretudo os jovens, como sejam as alterações climáticas e os desafios colocados pela tecnologia.
Isso pode explicar o crescimento dos nacionalismos e dos populismos, mas também o crescimento de partidos pró-Europa, como os Verdes.
Mas, para Barroso “ a democracia europeia provou ser capaz de integrar uma variedade maior de aspirações, ao assimilar dentro do sistema, partidos que eram anti-sistema e que vêm dos extremos do espectro político bipolar de esquerda e de direita.
Como conclusão do último painel desta edição das Conferências do Estoril, o que aqui foi pedido é comum à maioria dos debates que aconteceram no palco da Nova SBE:
“Mais Europa”, “mais urgência na ação”, “ mais sensibilidade para com o outro”, “ninguém pode ficar para trás” ou “Façam barulho”. Hoje, mais do que nunca o debate mostra a força da palavra para MUDAR O MUNDO. (PL)
CONFERÊNCIAS DO ESTORIL | Organizadas a cada dois anos, com o compromisso de promover debates racionais e escolhas informadas, as Conferências do Estoril vão na sua sexta edição procuram soluções locais para desafios locais. A organização da edição 2019 está a cargo do Estoril Institute for Global Dialogue, Câmara Municipal de Cascais e Nova School of Business and Economics com a parceria de diversas entidades e voluntários (mais info)