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Cascais homenageia legado de Almeida Araújo

Exposição no Centro Cultural homenageia José de Almeida Araújo

A pintura e fotografia do multifacetado artista português José de Almeida Araújo, falecido no passado dia 8 de maio, pouco antes de celebrar um século de vida, estão expostas no Centro Cultural de Cascais até dia 23 de junho de 2024. Iniciativa da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais, no âmbito da programação do Bairro dos Museus, a mostra “Almeida Araújo: Fotografia e Pintura" é uma lembrança e reconhecimento da obra do artista, ator e arquiteto que escolheu Cascais para refúgio de uma Europa em guerra e que aqui regressou para acabar os seus dias com quase um século de vivências e criação artística.

"Há poucas pessoas que eu conheça que tivessem tanto gosto pela vida e que fizessem de cada dia uma celebração só por estar vivo como o Arquiteto Almeida Araújo. Esta exposição que pretendia celebrar os seus 100 anos de vida é prova disso mesmo. Infelizmente, José Almeida Araújo não pode ver o resultado final da exposição que contou, inicialmente, com a sua participação. Mas, fica o seu grande legado como artista multifacetado e como homem de muitas vivências e experiências que tão bem retratou em fotografia, pintura e escultura.", afirmou o presidente da Câmara Municipal de Cascais, Carlos Carreiras que destacou, ainda, ser a figura de Almeida Araújo representativa das diversas manifestações artísticas que Cascais dá voz e espaço, seja no Bairro dos Museus deidacdo às artes plásticas, seja nas Vila das Artes, onde se dá relevo às artes performativas.

José de Almeida Araújo (1924 – 2024) assumiu diferentes perfis artísticos ao longo dos anos: foi ator (contracenou com Virgílio Ferreira no clássico “Ave de Arribação” de Armando Miranda e apareceu em “Au grand balcon”, de Henri Decoin, que estreou no Festival de Cinema de Cannes em 1949), arquiteto (projetou, por exemplo, o hotel Vilalara Thalassa, no Algarve), escultor, pintor e fotógrafo. Editou e escreveu livros, como o “London, Remains of the ‘50s” e as suas memórias “A Vida aos Pedaços”. Dizia “que as artes são todas primas entre elas”. Em todas às que se dedicou, demonstrou incontornável talento.

Nos últimos meses de vida, Almeida Araújo chegou a estar envolvido na preparação da exposição que estará patente no Centro Cultural de Cascais até 23 de junho de 2024. A mostra “Almeida Araújo: Fotografia e Pintura" debruça-se sobre a sua obra pictórica e fotográfica. Na primeira parte, dedicada à pintura, são expostas 18 telas produzidas entre 1960 e 1994, entre retratos de familiares e amigos, e representações de paisagens portuguesas, francesas e brasileiras. Destaca-se a tela “Nureyev”, um retrato de Rudolf Khametovich Nureyev, um dos mais celebrados bailarinos do século XX.

Alguns dos filhos e a neta do artista estiveram presentes na inauguração da exposição, destacando o exemplo de "pensar fora de caixa" e da necessidade de "por vezes quebrar regras" que seu pai e avô lhes ensinou, como disse num discurso comovente, uma das filhas, Paula Almeida Araújo.

As fotografias, são registos do quotidiano de Londres numa Inglaterra dos anos 50 onde viveu, antes da Beatlemania e da efervescência cultural que traria os Swinging Sixties. As imagens, que foram antes publicadas no livro “London, Remains of the ‘50s”, editado em 2013, registam cenas urbanas (como aquela em que a figura clássica do bobby dirige o trânsito) em diferentes horas do dia e estações do ano, revelando uma cumplicidade entre o fotógrafo e a cidade à sua volta. São retratos de pessoas anónimas na agitação das ruas, além de parques e edifícios da capital inglesa. Fotografou também vultos da política e das artes como John F. Kennedy, Jeanne Moreau, Jean Cocteau e Roger Vadim.

Filho de um português e de uma alemã judia, José Harry de Almeida Araújo foi um criador cosmopolita que atravessou um século de aceleradas transformações. Cresceu junto da família materna, em Berlim, tendo escapado às perseguições nazis. A sua adolescência e primeira juventude foram vividas em Cascais. No pós-guerra, descontente com o cenário português da época, emigrou, primeiro para Paris e depois para Londres. Foi amigo de estrelas como Jean Simmons, Danielle Dellorme, Sacha Guitry e John Wayne, e privou com Le Corbusier – que como ele trabalhava à margem da Academia – e também com Picasso, Henri Salvador, André Malraux e Errol Flynn.

Foi o artista escolhido para pintar o topo da maior galeria do Convento de Santa Maria delle Grazie, em Milão, onde também está “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci. Ali realizou a “Adoração da Cruz”, uma grande pintura em óleo sobre madeira a medir 3,90 x 5m. Pintou ainda retratos de Winston Churchill e da Princesa Soraya do Irão. Depois de uma vida aventurosa e fulgurante, José de Almeida Araújo fixou-se, de novo, em Cascais, onde terminou os seus dias.

 

Cascais Digital

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