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Apresentação pública dos resultados do projeto “Arquivo e Memória. Cascais durante a II Guerra Mundial”

Alunos do 12º ano investigam papel de Cascais na 2ª Guerra Mundial

No âmbito do projeto “Arquivo e Memória”, que teve início em novembro de 2022 com a visita de alunos da Escola Secundária Fernando Lopes-Graça, de Parede, numa parceria entre este estabelecimento de ensino, o Arquivo Histórico Municipal de Cascais e o Laboratório de História, Territórios e Comunidades, do Grupo de Investigação História, Territórios e Comunidades, polo do Centro de Ecologia Funcional na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, foram apresentados publicamente, esta sexta-feira, 12 de maio, os resultados finais deste projeto.

O objeto de estudo foram 467 boletins de alojamento de cidadãos belgas, franceses e neerlandeses no Hotel Palácio entre 1940 e 1942, documentação que muito tem contribuído para o estudo dos refugiados e exilados da II Guerra Mundial no concelho e que agora foi enriquecida com os resultados do trabalho levado a cabo por estes jovens investigadores.

"Um trabalho de comunidade, de partilha, de cidadania que leva mais longe a documentação que se encontra no Arquivo Histórico Municipal" referiu João Miguel Henriques, diretor do Departamento dos Arquivos, Bibliotecas e Património Histórico da Câmara Municipal de Cascais, sublinhando o facto de este ser um "projeto inovador" que reune os recursos da escola, da Universidade e da Câmara Municipal. 

Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, ao entregar os diplomas de participação aos jovens investigadores, destacou a importância deste trabalho que " está alinhado com a estratégia municipal que é a preservação da nossa identidade e daquilo que nos diferencia que contribui para posicionar Cascais no mundo". 

Para ajudar a compreender o papel de Cascais em plena guerra, é inestimável o recurso aos Boletins de Alojamento de Estrangeiros e dos Boletins Individuais, que todos os Hotéis eram obrigados a preencher, os quais possuem informação individual de cada cliente. Havia a necessidade de controlar os estrangeiros, sobretudo numa Europa em guerra, o que era feito através Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE). Neste molde de identificação e enquadramento de estrangeiros, foi pedido aos proprietários de hotéis, de pensões e estabelecimentos congéneres o contributo para este efeito. Tinham de fazer a comunicação de residência de estrangeiros nas respetivas unidades à agora denominada PVDE, tinham de preencher um impresso, contendo de um lado o Boletim de Alojamento de Estrangeiros e de outro lado o Boletim Individual.

Para Cristina Antunes, professora de História e coordenadora do projeto esta foi uma tarde de emoções e o culminar de meses de trabalho árduo por parte dos seus alunos. " Vivemos experiências e momentos muito intensos com muitos obstáculos pelo caminho. Sinto-me priveligiada neste contexto de ensinar História como um desafio". 

O conjunto de jovens participantes no novo papel de investigadores reconheceu que " foi também um enorme desafio, com muitos pontos altos e baixos" como disse Tomás Nunes, um dos participantes que ressaltou como momentos altos o desenvolvimento de competências como "a partilha, o trabalho em grupo, a pesquisa de informação", ferramentas que irão, certamente, ser úteis nos percursos de vida, "na universidade e no mundo do trabalho". Tomás destacou, ainda, " o aprofundar de conhecimento da História de Cascais" como outro dos pontos altos deste projeto.  

Nesta época, é quando o Hotel Palácio se torna muito famoso devido aos seus hóspedes estrangeiros, com histórias conhecidas a nível mundial. As histórias de alguns hóspedes do Hotel Palácio nesta época são notáveis, como por exemplo Ian Fleming, o famoso espião inglês que criou a personagem James Bond, o espião de ficção, que foi concebido em Portugal, onde o seu criador, Ian Fleming, se inspirou nos segredos de espionagem durante a Segunda Guerra Mundial. Podemos ver o seu registo no Boletim Individual e Boletim de alojamento de estrangeiros, com entrada a 20 de maio de 1941. O espião que marcou Fleming foi Dusko Popov, célebre agente duplo jugoslavo que trabalhava tanto para o serviço secreto britânicos do MI-6, como para a inteligência nazi do Abwehr. Dusko Popov era considerado "bon vivant" e "playboy" e Fleming, no seu James Bond, adotou vários traços do jugoslavo.

Também outra personagem muito conhecida foi Antoine de Saint Exupery, escritor cuja obra " O Principezinho"  universalmente reconhecida, influenciou, e continua a influenciar, gerações. A este juntam-se nomes que emanam muito prestígio como os duques de Windsor, pela dimensão da fortuna o Barão de Rothilde, o escritor Stefan Zweig, o realizador cinematográfico Herbert Wilcox, entre muitos outros. 

Das conclusões gerais do trabalho de investigação, contam-se que o Estoril foi refúgio de muitas personalidades do mundo da diplomacia, da política, da realeza, da indústria, do desporto e das artes, sobretudo, da literatura e cinema europeus. Dos boletins analisados depreende-se que os hóspedes pertenciam, sobretudo a uma elite endinheirada e informada, eram mais homens (255) do que mulheres ( 145). Que a maioria dos homens eram predominantemente industriais, diplomatas e diretores, Que a maioria das mulheres não tinha profissão e quando a tinham declarada, eram, sobretudo, enfermeiras e secretárias. Havia, contudo, algumas exceções como mulheres pioneiras na aviação e em outras áreas, na época, atribuidas aos homens. Que houve famílias inteiras de grande prestígio que encontraram em Cascais um porto de abrigo, "um local discreto e descontraído como não se encontrava em mais nenhum lugar da Europa em plena guerra", como referiu Tomás Nunes na apresentação do projeto. 

 

Cascais Digital

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