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25 Abril 2020 | O estilo mudou com a Revolução de Abril?

O colorido lifestyle de Cascais em anos de ditadura

 Saiba mais sobre como assinalámos o 25 de Abril 2020 em casa

Antes do 25 de abril, Portugal estava isolado, imune ao que se passava no resto do mundo. Um país cinzento, no estado de espírito e na roupa. Os hippies, o movimento “flower power”, os padrões psicadélicos e os punks que marcavam o estilo lá fora, não chegavam a um Portugal ultra conservador.

Mas, o ambiente e o estilo de vida em Cascais e no Estoril era diferenciado, desafiando a homogeneidade de hábitos no restante país. Não era alheio o facto de este ser um concelho há muito aberto aos estrangeiros, quer aos que vinham desfrutar do verão na Costa do Sol, quer dos que aqui viviam, exilados ou por escolha.

Cascais a remar contra a maré do nacional- cinzentismo

Nos anos 70, em plena ditadura, Cascais reafirma a sua fama enquanto destino de noite boémia. Como estância balnear de excelência, Cascais era visitado por muitos estrangeiros que traziam as tendências atuais e um lifestyle a que os portugueses não estavam habituados, mas que depressa contagiou quem por cá vivia.

Lembramos a imagem da geração dos “meninos de Cascais”, jovens com dinheiro para viajar, comprar discos e dançar até ser dia. Um estilo de vida vibrante que contrastava com o país a preto e branco de Salazar. Não se estranhava ao ver jovens com calças boca-de-sino, minissaias, vestidos justos e sapatos plataforma ou botas altas de camurça, a passear nas ruas de Cascais e do Estoril. Tendências revisitadas de cidades europeias como Londres e Paris.

As roupas e acessórios eram compradas nas únicas lojas que importavam roupa do estrangeiro. “A Maçã” de Ana Salazar, em Lisboa, vendia "peças tendência" de designers que a estilista ia buscar a Londres. A grande novidade eram as calças de ganga, que introduziu no país com tal sucesso que tinha lista de espera. Para os que não podiam comprar roupa de designer, havia os “Porfírios” na Baixa Lisboeta, com preços mais acessíveis. Grandes filas à entrada, roupa colorida e música alta, sinais dos tempos que aos poucos ia abrindo o mundo à juventude portuguesa.

A Catedral “2001” – um ícone da noite dos anos 70

Van Gogo, Palm Beach, Coconuts e o Jet 7 na Malveira, eram os locais da noite boémia da Costa do Sol. Mas nenhum se comparava à “catedral” do rock – A discoteca 2001. Considerada uma das primeiras discotecas do país, abriu portas em Outubro de 1973, junto ao Autódromo do Estoril e converteu-se num verdadeiro ícone na noite dos anos 70, sendo referenciada pela revista Paris Match como o "maior fenómeno social da Europa". Frequentada por uma audiência extremamente eclética, refletia o poder transversal da música rock na sociedade, atraindo clientes de camadas menos favorecidas e bairros periféricos, como "meninos ricos", das melhores famílias de Lisboa e da linha do Estoril, unidos na paixão pelo som e o ambiente elétrico e único da Catedral do Rock.

Concertos no Pavilhão Dramático de CascaisA Juventude e os músicos que desafiavam o Estado Novo

Sempre com um ambiente muito cosmopolita, o que diferenciava a Costa do Sol do restante país, o concelho abriu as portas aos amantes de estilos de música diferentes. O Estoril acolheu o pequeno bar KGB (de Paulo Nery) e Cascais recebeu o primeiro clube de Jazz – Luisiana – “oferecido” pelo pai do jazz em Portugal, Luiz Villas-Boas, que em 1971 fazia história ao criar o 1º Festival de Jazz de Cascais. Eram raros este tipo de eventos. Portugal debatia-se com um regime autoritário, onde todas as tendências musicais, artísticas ou outras, eram vistas como um atentado aos bons costumes e à ordem instituída. Por isso rumaram ao Pavilhão Dramático de Cascais autênticas multidões, públicos distintos, pessoas sedentas de ver e sentir o que se fazia lá fora. 

Miles Davis foi um desses grandes nomes que subiu ao palco. A ebulição criativa do músico levou ao rubro o Dramático. Os artistas provocavam, assim, a ira da PIDE (policia politica do Estado Novo), ao darem voz aos movimentos contra a guerra colonial que defendiam a libertação de Angola e Moçambique. Estes episódios levaram mesmo Luís Villas-Boas, promotor do Festival, a ser interrogado pela própria PIDE.

Manobras de Maio - a viragem na moda portuguesa

Seria preciso esperar quase 15 anos, após a Revolução de Abril de 74, para que se sentisse uma verdadeira mudança no estilo dos portugueses. Nos anos 80, ultrapassado o conturbado período da pós-revolução, a massa critica de artistas e criadores encontraram terreno para se expressarem, então, livremente. As Manobras de Maio foram o primeiro movimento de moda, com etiqueta portuguesa, que marcou a diferença. O início daquilo que muitos chamaram a "movida" lisboeta (por referência à movida espanhola). Multiplicaram-se as manifestações artisticas e os grandes festivais de música. Também aí Cascais ficaria sempre como o pioneiro de uma juventude inquieta. (PL) 

 

Cascais Digital

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