Duas das reuniões preparatórias organizadas pelos Capitães de Abril tiveram lugar no concelho de Cascais, mais concretamente em S. Pedro do Estoril, a 24 de novembro de 1973, e em Cascais, a 5 de março de 1974. Alguns dos militares afetos ao movimento residiam no concelho, o que terá influenciado a localização destes encontros, colocando Cascais no mapa dos acontecimentos que conduziram à revolução.
A primeira reunião do Movimento das Forças Armadas decorreu em novembro de 1973, numa propriedade denominada Cerca de São Pedro, em São Pedro do Estoril. A propriedade pertencia à família de Maria da Fonseca Ribeiro, lutadora antifascista que esteve presa em Caxias.
Na obra Alvorada de Abril (1991), Otelo Saraiva de Carvalho explica a agenda da reunião na seguinte passagem:
“Foi no sábado, 24 de novembro [de 1973], que se realizou no primeiro andar de um casarão nas traseiras da Colónia Balnear Infantil de O Século, em S. Pedro do Estoril, uma importantíssima reunião de todos os camaradas componentes das comissões Coordenadora e Consultiva, alargada, pela primeira vez, a tenentes-coronéis e a outras patentes mais elevadas, se fosse possível. Fora decidido tratar-se nela, além de um ponto de situação, dos mecanismos para a constituição e eleição de uma Comissão Coordenadora definitiva que fosse verdadeiramente representativa do Movimento”.
Participaram no encontro cerca de 45 oficiais oriundos das principais unidades do país, que dariam início a uma segunda fase do Movimento, marcadamente política e conspirativa. O derrube do regime através de um golpe militar foi equacionado e usou-se, pela primeira vez, a palavra “Revolução”. O tenentecoronel Luís Banazol fez uma intervenção polémica: “Não tenhamos ilusões: o governo só sai a tiro e os únicos capazes de o fazer somos nós, mais ninguém!”. A intervenção deste militar serviria de mote à discussão que se prolongou até à noite.
Sobre a reunião, Otelo Saraiva de Carvalho esclareceu: “Ela iria definir uma nova opção para o Movimento dos Capitães, permitiria alargar o seu âmbito e criaria no seu seio uma certa hierarquização e consequente distribuição de responsabilidades”.
Entretanto, o regime abanava, mas não caía. A 5 de março de 1974, o Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, discursou na Assembleia Nacional, pedindo apoio à sua política colonial. No
mesmo dia teve lugar um mini-plenário do Movimento no atelier do arquiteto Braula Reis, no n.º 45 da Rua Visconde da Luz, em Cascais, maioritariamente composto por oficiais do Exército.
No total, reuniram-se 197 militares, que ratificaram os nomes dos generais Costa Gomes e de António de Spínola para chefes do Movimento e aprovaram o primeiro manifesto político de efetiva relevância – O Movimento, as Forças Armadas e a Nação – onde se fixaram os princípios em que assentaria o Programa do Movimento das Forças Armadas, demonstrando claramente que a ação militar contra o regime se tornara irreversível. A reunião de Cascais viria a ser reconhecida como o último grande encontro decisivo para o início da revolução.
Mas o Aeródromo de Tires também foi alvo do interesse dos revoltosos que traçaram uma missão destinada a ocupar e defender esta infraestrutura, impedindo a aterragem e descolagem de aviões. No entanto, a apropriação não aconteceria no dia e hora planeados (madrugada de 25 de abril) devido a escutas telefónicas colocadas no Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e de Costa (CIAAC), levando à sua consecução somente no dia seguinte. No dia 27 de abril as Forças Armadas retiraram a maior parte dos elementos do CIAAC e do Aeródromo, percorrendo em coluna a povoação de Tires, onde foram vivamente aplaudidos, comemorando, assim, a revolução em curso.
O movimento militar desencadeado no dia 25 de abril desferiu o golpe final num regime político em avançado estado de erosão política. Apesar da turbulência política e social que se seguiu, a intervenção militar criou as condições de transição para um regime democrático em Portugal e para a independência das colónias africanas e o fim do império ultramarino português. S.R.S