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25 Abril 2020 | "Este é o 25 de Abril mais difícil das nossas vidas"

Mensagem do presidente da Câmara Municipal de Cascais

Cascalenses,

Este é o 25 de Abril mais difícil das nossas vidas.

Outros, antes de nós, tiveram Abris mais sombrios, sem os raios de luz da liberdade.

Este é o nosso fardo e a nossa missão. Ergamos os nossos cravos perante o desafio, como fizeram os nossos pais e avós há 46 anos.  

Vivemos o tempo paradoxo.

Celebramos a liberdade em confinamento. Privados do oxigénio da sociabilidade.

Mas celebramos a liberdade.
Porque a liberdade não é só sobre o lugar em que estamos.
É sobre aquilo que somos.

Esta doença maldita trouxe medo e morte. E impôs-nos o isolamento. Mas não ganhará.
Porque apesar de nos fechar nas quatro paredes das nossas casas, revelou-nos na nossa radical igualdade, nas nossas fragilidades comuns.
E, por isso, uniu-nos como nunca num só corpo, numa só comunidade.

Como presidente de Câmara, vejo…

estranhos que se cumprimentam como sempre se tivessem conhecido…
condóminos que redescobriram a bondade no espirito da vizinhança… 
bairros que, noite após noite, cantam a mesma música a uma só voz..
empresas que não hesitam em retribuir o que a sociedade lhes deu…
cidades a socorrerem-se umas às outras….

As crises mostram o pior e o melhor que há nas pessoas. Esta crise mostrou a beleza da bondade. E revelou a humanidade comum em nós.  

Esses valores – de solidariedade, de igualdade, de fraternidade – são absolutamente consistentes com a mensagem de Abril.

Diria mais: esses valores não são apenas consistentes com a Revolução, são necessários mais do que nunca para ultrapassarmos os obstáculos que se erguem como montanhas à nossa frente.

O combate à pandemia limitou temporariamente a nossa liberdade.

A história mostra como, não raras vezes, medidas de urgência ganham caracter de permanência.

Até haver uma vacina, o nosso país e os outros funcionarão como interruptor: ligam e desligam, abrem e fecham.

A todos os democratas exige-se, por isso, que estejam vigilantes.  

Para que, no pós-pandemia,  ou no “entre crises”, as nossas liberdades não saiam diminuídas ou beliscadas por qualquer projeto de controlo.

Lembremo-nos desta constante da vida: dar a liberdade como garantida é o atalho mais rápido para a servidão.

Este é o combate que as gerações mais jovens, que já nasceram em democracia mas não fizeram Abril, têm de travar.

Mas há outros desafios de grande monta que esta crise de saúde pública nos coloca no caminho.

Historicamente, as pandemias tendem a ser eventos mais transformadores do que guerras ou revoluções.

Agora que, depois do grande fecho se anuncia o regresso a uma nova normalidade, identifico linhas de fratura social que urge atacar.

Começo pela noção de desigualdade. Pela primeira vez na nossa história recente, quem liderou o combate contra o coronavírus não foram os generais nem os juízes, nem os filósofos ou os artistas; foram os médicos e os motoristas, os bombeiros e os caixas de supermercado, os cantoneiros e os polícias, os carteiros e o pessoal de saúde.

Quem esteve na linha da frente do combate à pandemia está, tipicamente, na linha de trás dos rendimentos. Enquanto um país ficava em casa, porque era esse o seu dever, outro país arriscava a própria vida para garantir que o país funcionava.

Temos de repensar a forma como retribuímos coletivamente o esforço deste exército de heróis anónimos.

Outra linha de fratura que se anuncia é entre novos e velhos. A abertura que se anuncia é, aparentemente, só para alguns. Para os mais novos e mais imunes ao vírus.

Os mais idosos tenderão a ficar confinados. Temos o direito de o fazer? Podemos privar os mais velhos de viver a sua vida? De abraçar os seus filhos e netos? A que autoridade cabe o direito de condenar estas pessoas à privação do oxigénio social?

No campo económico, suspeito que a maior linha de confronto eclodirá no campo laboral. Entre aqueles que já têm melhores salários e podem ficar em teletrabalho nos seus lares; e, por outro lado, aqueles que têm trabalhos com menores remunerações, menos qualificações e que continuarão a ser obrigados a estar na rua que a maioria quer evitar.

Estas linhas de convulsão social exigem de nós solidariedade e bom senso. Exigem de todos nós, cidadãos e decisores políticos, uma sólida ancoragem aos valores da Democracia, da Liberdade, da Responsabilidade.

 

Meus caros concidadãos,  

O combate à pandemia obriga-nos ao confinamento.

A memória dos que partiram pede sensibilidade e contenção nos festejos, sem que isso diminua o poder mobilizador da liberdade e a esperança que mora no horizonte de realizações democráticas.

Queria apenas que recordassem o seguinte: qualquer que seja a nossa circunstância, em caso algum o medo vencerá a Liberdade.  

O 25 de abril de 1974 é a primeira etapa num longo caminho para a Democracia que teve um episódio decisivo para a sua consolidação noutro dia 25, o de Novembro de 1976.

Este é o longo caminho que todos nós somos chamados a percorrer.

Com divergência e confronto e debate quanto aos meios. Mas em consonância absoluta quanto aos fins.
Quarenta e seis anos depois da revolução, ainda há quem não compreenda que a democracia é uma obra comum de partidos rivais.  

A Liberdade não tem tutores.
A democracia não é mais de uns do que de outros.

Por uma razão simples: Abril não tem donos.
Porque no dia em que Abril tiver donos, deixará se ser Abril. E no lugar da democracia nascerá outra coisa que só remotamente pode comparar-se ao regime da liberdade.

Gostava de vos deixar estas palavras cara a cara, olhos nos olhos. Como noutros anos, numa das ruas do nosso contentamento. Mas é hoje e aqui que celebramos a liberdade.  

Com TODOS, não apenas com ALGUNS.

Como exige o tempo e em respeito e solidariedade pelos nossos concidadãos e compatriotas que sofrem.

Para o ano, com a guerra vencida e energia redobrada, celebraremos Abril com mais vigor e força.  

Viva a Liberdade.

Força Cascais!

 

 Saiba mais sobre como assinalámos o 25 de Abril 2020 em casa

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