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Cascais homenageia o mais famoso dos seus barbeiros

Uma rotunda guarda agora o nome do Sr. Pica numa merecida homenagem póstuma

Tão discreto como requisitado, Joaquim Inácio Pica foi o barbeiro de gerações de cascalenses, da realeza e de estadistas, como Marcelo Rebelo de Sousa e Mobuto Sese Seko (antigo presidente do Zaire). Uma rotunda na Aldeia de Juzo guarda agora o seu nome. O Sr. Pica fica para sempre ligado à terra onde exerceu como ninguém a arte das tesouras e navalhas, por mais de meio século.

Joaquim Inácio Pica tratava da barba e cabelo de algumas das grandes figuras nacionais e estrangeiras, sem disso fazer alarde. Alentejano de Moura (1938-2022), é recordado, a partir desta terça-feira, na toponímia de Cascais, com a Rotunda Joaquim Inácio Pica, na confluência entre as artérias Rua Ruben Andersen Leitão, com a Rua Columbano Bordalo Pinheiro e a Rua Dona Dácia Maria Duque Estanislau, na Aldeia de Juzo. 

"Esta é uma justa e merecida homenagem a um homem que projetou o nome de Cascais aos quatro cantos do mundo e que atravessou várias gerações ", salientou Pedro Morais Soares, presidente da União de Freguesias Cascais e Estoril, que promoveu esta homenagem póstuma, com o simbolismo de esta acontecer no dia de aniversário de Joaquim Inácio Pica que faleceu em 2022. 

Para um dos filhos, Luís Pica, esta homenagem "representa o reconhecimento do município pelo trabalho que ele realizou durante décadas, pela pessoa que foi e por aquilo que fez pelo concelho."

Em 2007, o barbeiro das “estrelas” viu ser-lhe atribuído a medalha de mérito empresarial pelo Município de Cascais, contava então 68 anos e mais de meio século no ofício que o levaria a privar com reconhecidas personalidades do mundo do cinema, música, política e desporto mundiais.

Joaquim Inácio Pica, aos 18 anos, fixou-se em Cascais, onde se aperfeiçoou em alguns estabelecimentos locais. Mas, ao constituír família, sentiu receio de não conseguir assegurar-lhes o futuro com esta profissão e fez dela um hobby enquanto trabalhava como vigilante de monumentos e museus. 

Mas, tudo mudou quando surgiu a oportunidade de fixar a sua barbearia no antigo Hotel Cidadela, na Avenida 25 de Abril. Por ali passaram figuras como Grace Kelly, Liza Minelli, Vinícius de Moraes, Duke Ellington ou pilotos da Fórmula 1, como Nelson Piquet e todos faziam questão de passar pelas mãos hábeis do Sr. Pica. Também várias figuras da realeza europeia que escolheram estas paragens para viver exílios, frequentaram a sua cadeira de barbeiro. Joaquim Inácio Pica escanhoava e cortava barba e cabelo a todos sem fazer distinções. Sabia o nome e as particularidades de cada um dos seus clientes e por todos era estimado.

Já na década de 60, inaugurado o mítico Estoril Sol, o Sr. Pica estabeleceu-se no luxuoso empreendimento. Foi por lá que passaram, entre muitos outros, Marcelo Rebelo de Sousa ("mais do que um cliente, um amigo de toda a vida", conta o filho Luís Pica), António Capucho (antigo presidente da Câmara Municipal de Cascais), o político Pedro Campilho ou o empresário Carlos Barbosa. Conta-se que vinham pessoas de Lisboa e do Porto, para cortarem o cabelo e a barba expressamente com ele. No Estoril-Sol, o barbeiro esteve até ao seu encerramento, em 2003, quando se iniciou a demolição, concluída em 2007.

Uma das histórias mais interessantes e que testemunha a descrição do Sr. Pica, passou-se com Mobutu Sese Seko. O antigo presidente do Zaire não dispensava os seus serviços, não apenas quando vinha a Portugal, mas sempre que sentia necessidade de um cuidado especial. E lá vinha o avião privado buscar o discretíssimo Sr. Pica para trabalhar num salão exclusivo previamente reservado.

Depois de 60 anos de trabalho, o Sr. Pica ainda foi para o Hotel Londres, onde atendia clientes fiéis, sendo depois obrigado a parar por razões de saúde.

Cascais presta-lhe agora esta homenagem póstuma no dia que seria de comemoração do seu aniversário. O filho não esconde a emoção, mas também o orgulho pela carreira e ética de trabalho do pai: "Para esta terra, que é também a minha, o Joaquim Inácio Pica é um património de gerações. Não foram poucas as famílias em que avós, pais e netos cortaram o cabelo sempre com ele. Mais do que uma tradição era um ritual e uma passagem de testemunho."

Cascais Digital

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