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Conferências do Estoril 2023 | Vencer medos e procurar a união

Mais transversal do que a manhã, a tarde do primeiro dia nas Conferências do Estoril 2023, trouxe a palco uma maratona de 16 intervenientes

Teremos de regressar ao modelo tradicional dos nossos avós como defendeu Václav Klaus, antigo presidente da República Checa? Ou apostar num mundo mais inclusivo onde estejamos preparados para implementar a melhores práticas, criando infraestruturas de pertença e justiça, bem como de inclusão, como defenderam Elida Bautista e Pedro Carmo Costa? Qual é o mundo em que queremos viver?

Quais são os pontos sensíveis que nos unem? Na certeza de que “ser vulnerável não significa ser frágil”, como destacou James Taylor-Foster, curador da ArkDes-Sweden’s National Centre for Architecture and Design.

Mais transversal do que a manhã, a tarde do primeiro dia nas Conferências do Estoril 2023, trouxe a palco uma maratona de 16 intervenientes para abordar temas tão diversos como o conflito na Ucrânia, líderes mundiais ao serviço da humanidade, as pessoas no centro do processo de tomada de decisão, o jornalismo de investigação enquanto capaz de alterar o curso da história, o papel das escolas de gestão e economia e o impacto da investigação num mundo sob pressão, mas também os pontos sensíveis (softspots) e o que nos torna humanos.

Sergiy Kyslytsya, representante permanente da Ucrânia nas Nações Unidas, abordou a questão da Ucrânia e pôs o dedo na ferida: “Um dos maiores falhanços de Putin é achar que quanto mais ucranianos mata mais depressa consegue vergar-nos. Mas garanto o contrário: quanto mais os ucranianos sofrem, mais resilientes nos tornamos”. E concluiu: “Garanto aos portugueses que estão no lado certo da história”.

Danilo Türk, antigo presidente da Eslovénia e presidente do “Club de Madrid”, foi perentório na sua conversa inspiradora de que “os jovens têm de ter oportunidade para encontrar os seus caminhos”.
Tal como o lema da edição deste ano da CE, “Re-Humanizar o mundo”, o desafio é grande num mundo em que urge “Restaurar a capacidade das sociedades em lidar com os problemas, pois nas últimas décadas a razão foi substituída pelo politicamente correto”, disse o conservador Václav Klaus.

Um caminho que se quer mais transparente o que, como defendeu Gerard Ryle, do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, passa por encontrar uma boa história e parceiros nos países envolvidos para investigar de forma independente (…) protegendo as fontes e respeitando as pessoas”.

Traduzida nos desenhos em tempo real de Marta Seixas, a tarde foi ainda preenchida com o exemplo de Carolina Duarte, atleta profissional e vice-campeã mundial de sprint, apesar da sua condição genética que lhe reduziu a visão a apenas 10% e lhe afeta o crescimento do cabelo. "Na última década, ser mãe, deu-me uma motivação extra e tenho feito os meus melhores tempos em corrida. Conclui um bacharelado em gestão de empresas e uma pós-graduação”, referiu. Um exemplo de vida que revela uma descoberta: “Despendi anos da minha vida a tentar ser como as outras raparigas e, de facto, eu sou”.

João de Macedo, co-fundador do movimento “World Surfing Reserves e presidente da “Hope Zones Foundation”, colocou a toda a audiência o desafio de suster a respiração por 30 segundos, exercitando-se como se fossem surfistas de ondas gigantes. “Precisamos de medo para nos ajudar a suplantar o risco. Este exercício ajuda-nos muito a nós, como humanos a lidar com o medo”. Gratidão, preparação, diversão são práticas na vida do surfista que reconhece que “se não cuidamos de nós não conseguimos fazer um bem maior, mas se não pensarmos no bem maior, não conseguimos ter motivação suficiente”.
Serviço, para João Macedo, tem sido, contudo, um novo desafio, especialmente em relação ao ambiente. Daí ter criado a Fundação “Hope Zone”, uma Organização Não Governamental capaz de dialogar com os decisores políticos para “criar uma nova esperança para as pessoas”.

Outro exemplo de coragem que marcou a tarde foi o de Maya Gabeira, detentora do recorde Guiness para a maior onda alguma vez surfada por uma mulher. Começou a surfar aos 13 anos. Aos 17 partiu para o Havai para aprender a surfar melhor e melhorar o seu inglês. Foi duro, trabalhar em pé durante oito horas e treinar por mais oito. Enfrentou os seus receios e conseguiu concretizar o seu sonho quando, aos 21, obteve o patrocínio da Billabong que lhe permitiu tornar-se numa surfista profissional. “O meu pai era muito progressista, mas nunca me mostrou o que era ser mulher num mundo masculino. Descobri da maneira mais difícil”. Surfar a onda gigante da Nazaré, em 2016, que exigiu três anos de preparação “num caminho interessante, mas muito isolado”, ameaçou a sua carreira devido ao acidente que quase a matou. Em 2018, depois de muita luta para se reabilitar, incluindo nove cirurgias, conseguiu, finalmente, o reconhecimento mundial: “senti um alívio enorme. Depois disso o telefone recomeçou a tocar”.

A atleta usou a sua notoriedade para criar impacto numa escala maior, por exemplo, no combate ao uso errado do plástico. “É muito trabalho. Só o consegui depois de realizar os meus sonhos. Foi como um interruptor que me mostrou a verdadeira razão de existir: defender o oceano e as criaturas que nele vivem!”

Em registo de festa, o primeiro dia das CE fechou com o Humanity Youth Festival.

Criadas em 2009, com seis poderosas edições, as Conferências do Estoril que decorrem hoje e amanhã, 1 e 2 de setembro, procuram envolver uma multiplicidade de lideranças de alto nível a nível político, empresarial, académico e da sociedade civil, inspirando as novas gerações a, em conjunto, encontrarem possíveis soluções para os nossos desafios comuns.

CMC | FH | Fotos JM

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