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Surf Adaptado: uma realidade em Carcavelos

Desporto de ondas para todos

A recentemente inaugurada Escola de Surf e Bodyboard do Centro Recreativo e Cultural Quinta dos Lombos deu um passo extraordinário para a prática dos desportos náuticos: o local vai ser o primeiro ponto fixo de surf adaptado. A partir de agora, a modalidade passa a ser verdadeiramente acessível para todos com um calendário de atividades regulares para portadores de deficiência. Carlos Nogueira, surfista adaptado, é um frequentador habitual da praia de Carcavelos. Ao ‘C’, Carlos confessa que “é das praias mais acessíveis para cadeiras de rodas.” Mas Carlos queria ir mais longe e mostrar que não há limites nem barreiras que não possam ser quebradas pela vontade. Foi no mar de Carcavelos que Carlos decide “apanhar uma onda” que o leva até ao ‘Pecas’ – “nome de guerra” de Pedro Monteiro, vice-presidente da SOS – Salvem o Surf, um movimento cívico criado para proteger o surf e que rapidamente se transformou numa Organização Não Governamental de cariz Ambiental (ONGA).
Pecas embarca na onda de Carlos e, juntos, têm remado para tornar possível a prática do surf adaptado. “Desafiei o Carlos a fazermos uma ação de surf adaptado. Agora que temos o Clube de Surf é possível dar resposta,temos os técnicos logo ali na praia. O contacto com o mar, com as ondas, faz bem espírito”, diz Pecas. Desde que experimentou o surf adaptado, Carlos Nogueira encontrou um lado desconhecido da felicidade:“É muito bom para a nossa autoestima, entrar num meio que à partida se julga impossível. Deixo a minha a minha cadeira e sou mais um no mar com outros surfistas”, assinala.
Aos 14 meses, Carlos desenvolveu uma poliomielite que o deixou com os membros inferiores paralisados. Quarenta e cinco anos depois, o homem que diz que “sempre gostou de vencer barreiras” quebrou mais uma. E promete não ficar por aqui. Por desejar partilhar tudo o que tem sentido, o surfista traçou como projeto de vida incentivar pessoas com deficiência motora a entrarem na água. “Deslizar numa onda é uma sensação indescritível” assegura.
Com um entusiasmo contagiante, Carlos fala-nos da sua participação num evento organizado pela SURFaddict – Associação Portuguesa de Surf Adaptado - que tem como missão “trazer à praia pessoas portadoras de deficiências físicas ou outras, para que, com o apoio de monitores com competências específicas, possam desfrutar da boleia das ondas.”
Foi neste exemplo que Carlos se inspirou. Mas faltava algo para que a experiência fosse completa. Eventos como o da SURFaddict reuniam muitos participantes mas, depois deles, poucos surfistas tinham a possibilidade de praticar surf de forma permanente.
Carlos encontrou uma resposta para este problema no Rio de Janeiro, cidade onde existe um ponto fixo para a prática do surf adaptado: “Sabemos quando podemos praticar e que está lá alguém para nos ajudar a ir para a água.” A prática do surf adaptado implica a participação mínima de dois monitores, um para levar o surfista para a zona de rebentaçãoe outro para os receber na praia e recorre à utilização de pranchas de borracha normalmente utilizadas na iniciação ao surf.
Carlos, aguarda pela sua prancha personalizada, com outras dimensões e com outra zona de sustentação que lhe permitirá evoluir para outro nível.
Conhecida pelo seu extenso areal e pelas suas excelentes condições para a prática de desportos náuticos, a praia de Carcavelos tem o seu nome na história como sendo um dos locais onde nasceu o surf em Portugal.
Foi nesta praia, nos anos 60, que foram dados os primeiros passos da modalidade e não é de espantar que a comunidade surfista de Carcavelos seja uma das mais antigas, numerosas e entusiastas do país.
Carlos está em família e espera que muitos potenciais surfistas lhe venham a seguir o exemplo.
Motivação, empenho, dedicação, entusiasmo não faltam nem a Carlos nem a Pecas.

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