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25 Abril 2020 | A Liberdade amanheceu em Cascais!

“O dia inicial inteiro e limpo”, imortalizado no poema de Sofia de Mello Breyner, nasceu em Cascais.
Duas das reuniões preparatórias organizadas pelos Capitães de Abril tiveram lugar no concelho de Cascais, mais concretamente em S. Pedro do Estoril, a 24 de novembro de 1973, e em Cascais, a 5 de março de 1974. Alguns dos militares afetos ao movimento residiam no concelho, o que terá influenciado a localização destes encontros, colocando Cascais no mapa dos acontecimentos que conduziram à revolução.
 
A primeira reunião do Movimento das Forças Armadas decorreu em novembro de 1973, numa propriedade denominada Cerca de São Pedro, em São Pedro do Estoril. A propriedade pertencia à família de Maria da Fonseca Ribeiro, lutadora antifascista que esteve presa em Caxias.
 
Na obra Alvorada de Abril (1991), Otelo Saraiva de Carvalho explica a agenda da reunião na seguinte passagem:
 
“Foi no sábado, 24 de novembro [de 1973], que se realizou no primeiro andar de um casarão nas traseiras da Colónia Balnear Infantil de O Século, em S. Pedro do Estoril, uma importantíssima reunião de todos os camaradas componentes das comissões Coordenadora e Consultiva, alargada, pela primeira vez, a tenentes-coronéis e a outras patentes mais elevadas, se fosse possível. Fora decidido tratar-se nela, além de um ponto de situação, dos mecanismos para a constituição e eleição de uma Comissão Coordenadora definitiva que fosse verdadeiramente representativa do Movimento”.
 
Participaram no encontro cerca de 45 oficiais oriundos das principais unidades do país, que dariam início a uma segunda fase do Movimento, marcadamente política e conspirativa. O derrube do regime através de um golpe militar foi equacionado e usou-se, pela primeira vez, a palavra “Revolução”. O tenentecoronel Luís Banazol fez uma intervenção polémica: “Não tenhamos ilusões: o governo só sai a tiro e os únicos capazes de o fazer somos nós, mais ninguém!”. A intervenção deste militar serviria de mote à discussão que se prolongou até à noite.
 
Sobre a reunião, Otelo Saraiva de Carvalho esclareceu: “Ela iria definir uma nova opção para o Movimento dos Capitães, permitiria alargar o seu âmbito e criaria no seu seio uma certa hierarquização e consequente distribuição de responsabilidades”.
 
Entretanto, o regime abanava, mas não caía. A 5 de março de 1974, o Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, discursou na Assembleia Nacional, pedindo apoio à sua política colonial. No
mesmo dia teve lugar um mini-plenário do Movimento no atelier do arquiteto Braula Reis, no n.º 45 da Rua Visconde da Luz, em Cascais, maioritariamente composto por oficiais do Exército.
 
No total, reuniram-se 197 militares, que ratificaram os nomes dos generais Costa Gomes e de António de Spínola para chefes do Movimento e aprovaram o primeiro manifesto político de efetiva relevância – O Movimento, as Forças Armadas e a Nação – onde se fixaram os princípios em que assentaria o Programa do Movimento das Forças Armadas, demonstrando claramente que a ação militar contra o regime se tornara irreversível. A reunião de Cascais viria a ser reconhecida como o último grande encontro decisivo para o início da revolução.
 
Mas o Aeródromo de Tires também foi alvo do interesse dos revoltosos que traçaram uma missão destinada a ocupar e defender esta infraestrutura, impedindo a aterragem e descolagem de aviões. No entanto, a apropriação não aconteceria no dia e hora planeados (madrugada de 25 de abril) devido a escutas telefónicas colocadas no Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e de Costa (CIAAC), levando à sua consecução somente no dia seguinte. No dia 27 de abril as Forças Armadas retiraram a maior parte dos elementos do CIAAC e do Aeródromo, percorrendo em coluna a povoação de Tires, onde foram vivamente aplaudidos, comemorando, assim, a revolução em curso.
 
O movimento militar desencadeado no dia 25 de abril desferiu o golpe final num regime político em avançado estado de erosão política. Apesar da turbulência política e social que se seguiu, a intervenção militar criou as condições de transição para um regime democrático em Portugal e para a independência das colónias africanas e o fim do império ultramarino português. S.R.S
 

Cascais Digital

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