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Exposição temporária "Armando Leça: a música portuguesa nos novos meios de comunicação"
No âmbito de um protocolo firmado com o INETI - Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos em Música e Dança da Universidade Nova de Lisboa, está patente até 31 de outubro, no Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria, a exposição temporária “Armando Leça: a música portuguesa nos novos meios de comunicação”, que resgata o trabalho deste investigador, que, vinte anos antes de Michel Giacometti iniciar as suas pesquisas, percorreu 82 localidades do país, do Algarve a Trás-os-Montes, munido de um gravador, ao qual teve acesso apenas entre novembro de 1939 e abril de 1940.
Nesta mostra, que resulta de um trabalho de tratamento, estudo e digitalização de 487 registos sonoros representativos de dez das onze províncias portuguesas, iniciado pelo INETI, em 2010, é possível ouvir centenas de registos sonoros de música de matriz rural gravada por Armando Leça nesse seu périplo pelo país, bem como analisar os cadernos de campo do investigador e outros fundos documentais provenientes da Cinemateca Portuguesa, Biblioteca Nacional, RTP, Câmara Municipal de Matosinhos e do próprio Museu da Música Portuguesa.
Numa época em que o fascínio pelo potencial tecnológico da gravação fortalecia o mito da “fixação para sempre”, Leça e muitos outros investigadores julgaram possível recolher, nos pontos mais recônditos do país, toda a pureza e originalidade de “um ser português” que consideravam estar, pouco a pouco, a ser contaminado pela modernidade e pelo contacto com o meio urbano. Por outro lado, os meios de comunicação então emergentes surgiam como uma espécie de substitutos dos modos de transmissão de geração para geração, ao permitirem chegar a todos e de uma só vez. Porém, o mito desfez-se e a verdade é que também essas gravações se perderam no tempo, não só porque a edição em disco não chegou a concretizar-se e a evolução das máquinas tornou ilegíveis alguns suportes, mas também, adianta a curadora da exposição, Maria do Rosário Pestana, porque “estas gravações causaram alguma surpresa. Este trabalho era feito por pessoas da cidade, que tinham uma ideia muito romantizada do campo e o confronto com canções que aos ouvidos dessas pessoas soavam desafinados, terá sido um elemento que não contribuiu para a divulgação da coleção. No próprio contexto das políticas culturais da época, víamos um António Ferro defender que não era a matéria em bruto que interessava, era revisitá-la ao gosto urbano”.
Adormecidos nos espólios das instituições, frequentemente dispersos por vários arquivos, estes registos sonoros – e os de Armando Leça são apenas um dos casos – acabaram por permanecer inexplorados “E como cada instituição só tem um pedacinho, não se justifica um investimento no estudo do acervo, uma vez que a partir dessa pequena quantidade de dados não é possível perceber a grandeza da figura que ali está representada”, conclui Maria do Rosário Pestana. Por outro lado, sem esse investimento na leitura e digitalização dos suportes, nunca se saberá o que contêm. Uma tendência que tem vindo a alterar-se lentamente, fruto de uma maior sensibilização para a importância da preservação do património sonoro, recentemente impulsionada pela bem-sucedida candidatura da elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade.
Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria
Av. de Sabóia, n.º 1146 - Monte Estoril
2765-580 Estoril
Tel.: 214815904.
E-mail: mmp@cm-cascais.pt
No âmbito de um protocolo firmado com o INETI - Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos em Música e Dança da Universidade Nova de Lisboa, está patente até 31 de outubro, no Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria, a exposição temporária “Armando Leça: a música portuguesa nos novos meios de comunicação”, que resgata o trabalho deste investigador, que, vinte anos antes de Michel Giacometti iniciar as suas pesquisas, percorreu 82 localidades do país, do Algarve a Trás-os-Montes, munido de um gravador, ao qual teve acesso apenas entre novembro de 1939 e abril de 1940.
Nesta mostra, que resulta de um trabalho de tratamento, estudo e digitalização de 487 registos sonoros representativos de dez das onze províncias portuguesas, iniciado pelo INETI, em 2010, é possível ouvir centenas de registos sonoros de música de matriz rural gravada por Armando Leça nesse seu périplo pelo país, bem como analisar os cadernos de campo do investigador e outros fundos documentais provenientes da Cinemateca Portuguesa, Biblioteca Nacional, RTP, Câmara Municipal de Matosinhos e do próprio Museu da Música Portuguesa.
Numa época em que o fascínio pelo potencial tecnológico da gravação fortalecia o mito da “fixação para sempre”, Leça e muitos outros investigadores julgaram possível recolher, nos pontos mais recônditos do país, toda a pureza e originalidade de “um ser português” que consideravam estar, pouco a pouco, a ser contaminado pela modernidade e pelo contacto com o meio urbano. Por outro lado, os meios de comunicação então emergentes surgiam como uma espécie de substitutos dos modos de transmissão de geração para geração, ao permitirem chegar a todos e de uma só vez. Porém, o mito desfez-se e a verdade é que também essas gravações se perderam no tempo, não só porque a edição em disco não chegou a concretizar-se e a evolução das máquinas tornou ilegíveis alguns suportes, mas também, adianta a curadora da exposição, Maria do Rosário Pestana, porque “estas gravações causaram alguma surpresa. Este trabalho era feito por pessoas da cidade, que tinham uma ideia muito romantizada do campo e o confronto com canções que aos ouvidos dessas pessoas soavam desafinados, terá sido um elemento que não contribuiu para a divulgação da coleção. No próprio contexto das políticas culturais da época, víamos um António Ferro defender que não era a matéria em bruto que interessava, era revisitá-la ao gosto urbano”.
Adormecidos nos espólios das instituições, frequentemente dispersos por vários arquivos, estes registos sonoros – e os de Armando Leça são apenas um dos casos – acabaram por permanecer inexplorados “E como cada instituição só tem um pedacinho, não se justifica um investimento no estudo do acervo, uma vez que a partir dessa pequena quantidade de dados não é possível perceber a grandeza da figura que ali está representada”, conclui Maria do Rosário Pestana. Por outro lado, sem esse investimento na leitura e digitalização dos suportes, nunca se saberá o que contêm. Uma tendência que tem vindo a alterar-se lentamente, fruto de uma maior sensibilização para a importância da preservação do património sonoro, recentemente impulsionada pela bem-sucedida candidatura da elevação do Fado a Património Imaterial da Humanidade.
Museu da Música Portuguesa - Casa Verdades de Faria
Av. de Sabóia, n.º 1146 - Monte Estoril
2765-580 Estoril
Tel.: 214815904.
E-mail: mmp@cm-cascais.pt