por João Miguel Henriques
Chefe da Divisão de Arquivos Municipais da CMC
Ainda que o ténis tenha sido introduzido em Portugal pela comunidade inglesa residente em Lisboa e no Porto, por volta de 1880, a sua divulgação efetivou-se sobretudo pelo empenho de Guilherme Pinto Basto, ícone da história do desporto nacional, a quem parece dever-se a promoção do primeiro desafio da modalidade entre portugueses, que as escassas fontes disponíveis indicam ter sido disputado em Cascais, provavelmente no ano de 1882.
O Sporting Club de Cascais, sociedade desportiva e recreativa fundada em 1879, nos terrenos da antiga Parada da Cidadela, pode, assim, assumir-se como berço da modalidade em Portugal, num período em que, mercê do apadrinhamento dos reis D. Luís e D. Carlos, Cascais passou a ser conhecida como rainha das praias portuguesas, transformando-se em campo privilegiado de ensaio dos portugueses para a prática deste e de outros desportos.
O nascimento do ténis no nosso país seria marcado pela figura de Guilherme Pinto Basto, com vitórias conhecidas entre 1882 e 1898 e de 1900 a 1901 nos torneios organizados em Cascais, na modalidade de singulares masculinos. Note-se que até os monarcas adeririam a esta nova moda, noticiando o Correio de Cascais, em 1901, que «Sua Majestade [o Rei] tem tomado parte em algumas partidas de tennis no Sporting». Pouco depois anunciava-se, mesmo, a realização de um torneio internacional, «festa a que concorreram além da gente da primeira sociedade que se encontra em Cascais, muitos estrangeiros distintos, como foram os ingleses que vieram de propósito do seu país para esse fim», caso da vencedora de Wimbledon, Blanche Hillyard.
Esboçavam-se, deste modo, os primeiros Campeonatos Internacionais de Portugal, que oficialmente se realizariam nos courts do Sporting Club de Cascais a partir de 1902 e de forma ininterrupta até 1973, com exceção dos anos de 1910, 1940 e 1951.
Em 1919, o campeão espanhol Manuel Alonso sagrou-se vencedor do torneio em singulares, pares masculinos e pares mistos, feito que repetiu em 1920 nas duas primeiras modalidades, vindo a manter o título até 1921 em pares masculinos. Inaugurou-se, então, um período de intensa promoção, com recurso a desportistas de renome internacional. Neste contexto, entre 1925 e 1929 os Campeonatos internacionais seriam também marcados pela participação de Noel Turnbull, que conquistara a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1920.
O concelho encontrava-se prestes a iniciar um novo ciclo da sua história, na sequência da implementação, por Fausto de Figueiredo, de um projeto turístico de ambições internacionais no Estoril, que contava também com o ténis como atrativo. Na realidade, já em 1928 o jornal Casino se referiria à realização de um Campeonato de Ténis no campo do Parque Estoril.
A ascensão da localidade enquanto centro tenista seria igualmente atestada pela criação de um novo clube dedicado à prática da modalidade, o Estoril Parque Tennis – em funcionamento desde 1933, em courts nas imediações das Termas e do Casino – assim como pela organização do II Encontro Portugal-França (Litoral), em 1935, sob a direção de José Torok. Aí decorreu, ainda, o Torneio Internacional do Estoril, a que se sucederia a renovação total dos courts do Estoril, já concluída por ocasião da organização do Campeonato Internacional de 1936.
Novos tempos se avizinhavam, assumindo-se o eixo Cascais-Estoril como centro turístico de primeira grandeza, ao receber antes, durante e depois da II Guerra Mundial inúmeros visitantes e inclusivamente alguns monarcas, casos de Humberto II de Itália ou do Conde de Barcelona, grande apreciador de uma modalidade que ainda hoje constitui imagem de marca de um concelho que continua a honrar o seu pioneirismo na introdução do desporto em Portugal.