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Marégrafo de Cascais. A medir marés desde 1882

Sabe o que é um marégrafo e para que serve? Sabia que o Marégrafo de Cascais (1882) é o mais antigo do mundo ainda a funcionar em perfeitas condições? Se faz Surf e consulta a previsão das ondas, saiba que isso também se deve ao labor incessante deste marégrafo. Siga-nos nesta visita guiada com José Campos, responsável, há quase trinta anos, pela manutenção desde precioso maquinismo histórico de relojoaria com 137 anos e ainda hoje incrivelmente fiável.

Talvez também não saiba que o zero altimétrico foi registado há mais de um século em Cascais e que este registo serve como referência para todos os altímetros temporais. Ou seja, os registos do Marégrafo de Cascais permitem medir com rigor, entre outras coisas, a altitude de montanhas, o relevo cartográfico e fazer o mapeamento do território submerso com implicações tão variadas mas úteis como a entrada de um navio na barra de um estuário ou na aviação. Mas há mais: por ocasião do tsunami que devastou parte da ilha de Samatra, na Indonésia, em 26 de Dezembro de 2004, o Marégrafo de Cascais registou com absoluta precisão o fenómeno provocado nos oceanos por esse sismo devastador.

O Marégrafo de Cascais foi um dos primeiros observatórios europeus dedicado ao estudo das correntes e marés e é o único que ainda hoje funciona em perfeitas condições em todo o mundo.

Construído por A. Borrel, em 1887, em Paris, e ligado ao laboratório oceanográfico do rei D. Carlos I, o Marégrafo de Cascais foi instalado em 1882 sobre um rochedo junto à fortaleza debruçada sobre a baía de Cascais.

É com paixão e competência técnica que José Campos explica de que é composto o marégrafo e como funciona. O de Cascais é composto por uma boia ligada a um cilindro de registo que roda ao ritmo marcado por um relógio. Uma caneta marca no papel que envolve o tambor o nível da boia. Esta, por seu lado, flutua num poço, em contacto com a água do mar.

“Esses registos iniciaram-se em 1882 e vão até 1885. Neste ano a Casa abrigo é transportada para este local até 1900. Há cinco anos de construção, de mudança. A partir de 1990 o Marégrafo começou a funcionar aqui”, recorda e explica a função do equipamento:

“Um marégrafo é um sistema analógico que regista as amplitudes das águas do mar. Essas amplitudes são registadas numa folha com uma quadrícula, dentro do sistema de Borrel, em que as linhas horizontais são as horas do dia e as verticais a altura da maré.

O marcador do tempo é um relógio, é um sistema relojoeiro normal de pêndulo, antigo que aciona o tambor e cada volta completa do tambor são as 24 horas do dia”, esclarece.

 “O que se regista aqui são as duas preia-mares e as duas baixa-mares diariamente. E este registo é feito consecutivamente durante os sete dias da semana. Ao fim dos sete dias o papel é retirado e colocado um novo papel e volta a registar mais 7 dias, ou seja é um registo contínuo. (desde 1882 que é assim, com a interrupção dos 5 anos) ”, acrescenta o especialista.

José Campos diz que “nunca ninguém previu que 100 anos de registos maregráficos concluíssem que o nível das águas do mar subisse entre 15 a 20 cm, a nível médio global”.

“Aqui é bem notório, quando ocorrem as marés vivas, que são as marés de maior amplitude, temos que retirar a seta, porque a seta bate em cima na praia-mar bate e na baixa-mar bate em baixo e parte o cabo. Porque esses 20 cm vão repercutir-se em movimentos muito maiores, o espaço, a amplitude para poder funcionar já não existe aqui”, diz.

"Não há dúvida nenhuma que as alterações climáticas estão a aumentar o nível do mar. E os cientistas dizem também que em menos tempo irá subir muito mais”, alerta.

O técnico salienta que no século XIX, quando foi feito o primeiro levantamento geodésico rigoroso do país, foi necessário referir a altitude de cada ponto ao nível das águas do mar. Usaram-se para isso os dados do Marégrafo de Cascais que possibilitam a adaptação contínua do “Datum Altimétrico” (zero altimétrico, registado há mais de um século em Cascais).

Os registos são indispensáveis para a observação do nível médio do mar e determinação de movimentos verticais da crosta terrestre, bem como para a previsão da subida do nível médio das águas do mar. Foi com esses dados que se calculou o nível médio das águas oceânicas na costa portuguesa. E se calculou o chamado “Zero Hidrográfico”, um mínimo absoluto que nem na maré mais baixa nem nas condições mais extremas é ultrapassado. Também foi graças aos seus dados que resultou a primeira Carta Corográfica de Portugal, na escala 1 para 100.000.

Os dados do Marégrafo de Cascais permitem ainda avaliar o movimento vertical das massas oceânicas e continentais que na zona costeira em Cascais se traduzem já numa subida do nível médio do mar de cerca de 20 centímetros, com óbvias implicações de impacto ambiental.

As alterações climáticas que provocam a subida global do nível médio das águas do mar põem em risco a linha de costa, provocando o seu recuo, o que coloca em grande perigo algumas cidades e as populações ribeirinhas que ali vivem. Os dados obtidos em tempo-real pelo Marégrafo de Cascais permitem uma monitorização permanente dessa variação, sendo uma referência para toda a costa portuguesa.

A Direção geral do Território recolhe os valores do nível médio do mar com interesse científico e partilha-os, há mais de 130 anos, com o serviço internacional situado no Reino Unido que mede o nível global dos oceanos.

Em 2005, a Câmara Municipal de Cascais estabeleceu um protocolo com o Instituto Português Geográfico com vista à colaboração na conservação, divulgação e animação desta peça patrimonial. E é aqui que exerce uma atividade notável de divulgação Maria Fernanda Costa, responsável pelo Museu do Mar D. Carlos, Forte S. Jorge de Oitavos e Marégrafo de Cascais, para quem este equipamento está de certa forma ligado ao Museu do Mar, pois este Museu está também ligado ao grande homem que foi o rei D. Carlos, um oceanógrafo que fez investigação e que fazia os registos das marés com os dados obtidos através do marégrafo de Cascais. Uma vez que o Marégrafo está situado geograficamente em Cascais e é um equipamento de património de Estado tão importante, a autarquia fez um protocolo com a Direção Geral do Território.

“Desde 2005, nós 'exploramos' o Marégrafo de Cascais museologicamente e no aspeto da sua conservação. Fazemos visitas guiadas com marcação, uma vez que está inserido num espaço que é o Clube Naval de Cascais, que não é acessível ao público em geral. Terá que ser com marcação prévia para escolas, investigadores de todo o mundo, grupos seniores e interessados que o queiram visitar”, afirma Fernanda Costa, salientando que “é um equipamento cultural fantástico, único no mundo a funcionar de 1882”.

Em 2003 foram adquiridos dois novos sistemas digitais acústicos, mais precisos, com capacidade de gestão remota e, que permitem obter dados em tempo real, não só relativos ao nível do mar, mas também de outros parâmetros, tais como pressão atmosférica e temperatura do ar e da água. O marégrafo acústico de Cascais está a funcionar desde outubro de 2003. Sérgio Soares.

Cascais Digital

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