Em 1992, no âmbito das obras de uma habitação da Rua Marques Leal Pancada, em Cascais, surgiu a oportunidade da realização de sondagens arqueológicas. Procurava-se então localizar uma das antigas portas no torreão do castelo de Cascais que aparece representada em plantas dos finais do século XVI.
É exatamente numa das duas sondagens realizadas no interior da casa que se vai identificar uma cetária completa, revestida de opus signinum. Este tipo de estrutura, um largo tanque com paredes revestidas de uma argamassa impermeável, encontra-se associado à indústria romana de salga e transformação de pescado e derivados piscícolas.
Foram ainda encontrados dois outros pisos de opus signinum – os quais estariam certamente relacionados com este espaço fabril – e no interior da cetária, completamente preenchida de areia, uma base de coluna de tipo toscano e alguns escassos fragmentos de cerâmicas comuns romanas. Estes achados incluíam fragmentos de ânfora, vasilha de grandes dimensões, típica do transporte de pescado e derivados piscícolas, com ampla difusão por todo o império romano.
Com a realização das obras de reacomodação de infraestruturas ao longo da mesma rua, realizadas nos anos de 1998 e 1999, foi possível estender as sondagens, tendo-se identificado um conjunto de seis novas cetárias, muito danificadas pela instalação de antigas infraestruturas contemporâneas.
Foram também recolhidos fragmentos de ânforas, entre outras cerâmicas, e três sestércios do Imperador Domiciano, Trajano e Adriano e um asse do Imperador Antonino Pio.
Ficou, assim, demonstrada a presença de uma fábrica de conservas de derivados piscícolas a laborar junto à praia de Cascais durante a segunda metade do século I d. C. e finais do século II. Quando a fábrica deixou de laborar os tanques foram preenchidos com areia e, sobre eles, construídas as estruturas do castelo, já em época medieval.